Regina Duarte na Secretaria da Cultura de Bolsonaro e divide Brasil

regina Duarte GI_ Jorge Carmona
[Fotografia: Jorge Carmona/Global Imagens]

A icónica atriz brasileira, Regina Duarte, está em “período de testes” para aceitar a secretaria da Cultura do polémico presidente Jair Bolsonaro. As reações à decisão da atriz, que integrou novelas como Roque Santeiro, História de Amor e Páginas da Vida, não se fizeram esperar. “É Sinozinho Malta na Presidência e viúva Porcina na Cultura”, escreveu Lima Duarte, com quem Regina Duarte, atualmente com 72 anos, contracenou.

Já na noite de segunda-feira, 20 de janeiro, Cláudia Raia lamentava, em entrevista à Prova Oral, da Antena 3, a escolha de Regina Duarte. “Gostaria que ela rejeitasse [o lugar]”, afirmou

O cantor, compositor e ex-ministro da cultura de Lula da Silva, Gilberto Gil, usou o Twitter para opinar sobre o caso. “Estou torcendo para que ela permaneça, convença o presidente da importância estratégica da arte, da cultura, da economia para o desenvolvimento do país, e realize um ótimo trabalho, com absoluto respeito pela liberdade de expressão e de criação”. E refere: “Regina é bem intencionada e conheça a área. Mas vai precisar de respaldo interno e apoio externo para atingir os seus objetivos

O momento em que a atriz e o chefe de Estado brasileiro se encontraram em Brasília teve direito a uma fotografia no Instagram. Uma vez aceite, Regina Duarte irá liderar a pasta após a exoneração de um governante que parafraseou um discurso nazi, Roberto Alvim.

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– Tivemos uma excelente conversa sobre o futuro da cultura no Brasil. Iniciamos um “noivado” que possivelmente trará frutos ao país.

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“Nós [Regina Duarte e Governo] vamos ‘noivar’, vou ficar ‘noiva’, vou lá conhecer onde vou habitar, com quem vou conviver, quais são os ‘guarda-chuvas’ que abrigam a pasta, enfim, a família. Noivo, noivinho”, afirmou a atriz ao jornal Folha de S.Paulo acerca do período de testes que passará no Governo brasileiro, após se ter reunido hoje com o Presidente do país, Jair Bolsonaro.

“Quero que seja uma gestão para pacificar a relação da classe [cultural] com o Governo. Sou apoiante deste executivo desde sempre e defendo a classe artística desde os 14 anos”, acrescentou ainda a atriz, sem confirmar, porém, os contornos do que acordou com Bolsonaro.

O chefe de Estado brasileiro fez também uso da metáfora do “noivado” para descrever o encontro com Regina Duarte, que “possivelmente trará frutos” culturais para o país.

Olá Brasília, Adeus Globo

Segundo o departamento de Comunicação da Globo, a atriz terá de suspender o seu vínculo com a produtora de televisão. “Regina Duarte tem contrato vigente com a Globo e sabe que, se optar por assumir cargo público, deve pedir a suspensão de seu vínculo com a emissora, como impõe a nossa

O Palácio do Planalto, nome oficial do local de trabalho da Presidência do Brasil, informou à imprensa local que a atriz se deslocará a Brasília, na próxima quarta-feira, para conhecer a Secretaria Especial da Cultura.

“Após conversa produtiva com o Presidente Jair Bolsonaro, Regina Duarte estará em Brasília na próxima quarta-feira, 22, para conhecer a Secretaria Especial da Cultura do Governo federal. ‘Estamos a noivar’, disse a artista após o encontro ocorrido nesta tarde no Rio de Janeiro”, disse o Planalto em comunicado.

Regina Duarte foi convidada para o cargo cultural na passada sexta-feira, no mesmo dia em que Roberto Alvim foi demitido da Secretaria da Cultura por ter parafraseado partes de um discurso do ministro da Propaganda nazi, Joseph Goebbels, gerando uma onda de protestos.

A atriz ganhou fama em vários países como protagonista de “Malu Mulher” (1979), uma das séries de maior sucesso no Brasil, e na qual interpretou uma jornalista divorciada, que tentava ganhar a vida sozinha, e que na época lidava com questões nunca discutidas na televisão, como sexo, aborto ou drogas.

Politicamente, a artista apoiou publicamente a eleição dos presidentes Fernando Collor (1990-1992) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que derrotaram o líder esquerdista Luiz Inácio Lula da Silva, em três eleições consecutivas.

Contudo, a sua posição nunca foi tão clara como em 2002, quando Regina Duarte apoiou o então candidato conservador José Serra e, numa propaganda da sua campanha eleitoral, cunhou o ‘slogan’ “estou com medo”, numa referência a uma eventual, e posteriormente confirmada, vitória de Lula da Silva nas presidenciais.

Em 2018, a atriz declarou o seu apoio a Bolsonaro e, durante a campanha, visitou o agora chefe de Estado na sua residência no Rio de Janeiro, enquanto o político recuperava de uma facada que sofreu durante um comício eleitoral.