Apenas um em cada três alunos no mundo irá regressar às salas de aulas no fim do verão, com dois terços da população estudantil a nível mundial a permanecer “sem escola” devido à atual pandemia.
Num comunicado emitido esta terça-feira, 1 de setembro, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que quis assinalar o novo ano escolar que arrancou em vários países europeus, referiu que o total estimado de crianças e jovens matriculados em todo o mundo, desde a pré-primária até ao secundário, ronda os 1,5 mil milhões de estudantes, dos quais cerca de 900 milhões começam geralmente a escola entre os meses de agosto e outubro. Os restantes estão abrangidos por outros calendários escolares (por exemplo, entre janeiro e novembro ou entre março e dezembro).
De acordo com a UNESCO, cerca de 128 milhões de estudantes já regressaram às salas de aulas e outros 433 milhões, em 155 países, devem iniciar o ano escolar nas próximas semanas, o que irá representar um total de 561 milhões de alunos.
Mas, feitas às contas, a UNESCO alertou que cerca de mil milhões de alunos, ou seja, dois terços da população escolar a nível mundial, vai continuar “sem escola ou numa situação de incerteza” devido a constrangimentos associados à pandemia da doença covid-19.
A agência da ONU realçou igualmente que as estimativas apontam que “mais de metade dos 900 milhões de alunos que (agora) iniciam o novo ano escolar deverão prosseguir num ensino à distância, de forma total ou parcial”. E, frisou a UNESCO, “a maioria destes alunos e as respetivas famílias ainda estão à espera de indicações claras sobre o que esperar do início do ano letivo de 2020-21, a poucas semanas da data programada” do regresso às aulas.
Máscaras: o novo material escolar na Europa
Milhões de crianças regressam esta terça às escolas na Europa, com máscaras faciais e várias medidas de precaução para evitar que os estabelecimentos de ensino se tornem focos do novo coronavírus.
Jovens franceses, belgas, russos e ucranianos voltam às salas de aula hoje, após os alunos alemães, escoceses e da Irlanda do Norte já terem começado nos últimos dias e semanas.
Nas escolas francesas, que recebem esta terça, 1 de setembro, 14,2 milhões de alunos, o uso de máscara é obrigatório para professores e alunos a partir dos 11 anos. Na Grécia, as máscaras serão exigidas desde o jardim de infância.
Se o ministro da Educação de França, Jean-Michel Blanquer, considera o novo protocolo de saúde “simples e claro”, alguns professores ainda tem questões quanto à organização nas cantinas ou nos parques infantis.
Em Espanha, onde o início do ano letivo será escalonado entre 4 e 15 de setembro, dependendo da região, as crianças a partir dos seis anos deverão usar a máscara na escola em todos os momentos.
Na Bélgica, a primeira-ministra, Sophie Wilmès, considerou “fundamental que as crianças possam retomar uma vida escolar normal ou tão normal quanto possível”, justificando a manutenção do início hoje das aulas.
Uma visão compartilhada pelo Governo britânico, para quem os benefícios de um retorno à escola – esta semana na Inglaterra e no País de Gales – são maiores do que os riscos potenciais.
Em alguns países, as crianças saem em turnos durante o recreio, para evitar pátios lotados. É o caso da Grécia, onde o retorno às aulas agendado para 7 de setembro pode ainda ser atrasado em uma semana.
E por cá?
Em Portugal, o arranque do ano letivo está previsto começar entre os dias 14 e 17 de setembro. Na segunda-feira, a Federação Nacional da Educação, a Confederação Nacional das Associações de Pais e a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas apelaram para que as orientações para o ano letivo 2020/2021 sejam “claras e coerentes”.
Também na segunda-feira, a Direção-Geral da Saúde informou que está a preparar um manual de apoio aos estabelecimentos de ensino para agir perante casos suspeitos ou confirmados de covid-19, de forma a controlar “o pânico” e a “tendência de encerrar toda a escola”.
De acordo com a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, o documento em questão será conhecido a 7 de setembro. Na mesma nota informativa, a UNESCO reiterou os alertas para as consequências da pandemia do novo coronavírus no setor da educação a nível mundial – escolas fechadas, ensino à distância, situações de incerteza e risco de abandono escolar –, apontando que tal cenário irá ter um impacto nas populações mais vulneráveis, em particular junto das crianças do sexo feminino.
Como tal, a agência da ONU exortou as autoridades educacionais a nível internacional a assegurarem um rápido regresso à escola, bem como a aplicarem medidas que garantam a saúde e a segurança dos alunos, dos professores e de todos os funcionários escolares.
“A crise da educação continua grave”, declarou a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay.
“Várias gerações encontram-se ameaçadas por estes encerramentos de escolas, que afetam centenas de milhões de estudantes e se prolongam há muitos meses. Existe uma emergência educacional mundial”, acrescentou Audrey Azoulay.
A UNESCO, em colaboração com outras agências da ONU e o Banco Mundial, está atualmente a trabalhar para a reabertura das escolas em todo o mundo, que ficaram encerradas e deixaram de ter aulas presenciais devido à crise pandémica.
A pandemia da doença covid-19 já provocou pelo menos 851.071 mortos e infetou mais de 25,5 milhões em todo o mundo desde dezembro, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
CB com Lusa