Reino Unido: Austeridade prejudicou sobretudo as mulheres

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O número é avassalador. 86% do peso das medidas de austeridade britânica recaiu sobre as mulheres, desde 2010. Esta é a principal conclusão de um estudo levado a cabo pela ministra trabalhista sombra para a igualdade, Sarah Champion, que pediu aos conservadores a realização de uma auditoria de género sobre as taxas e sobre as políticas de gastos.

“As mulheres continuam a suportar o peso do falhanço da agenda de austeridade promovida por este governo conservador – com 86% das mulheres a viverem uma situação que permanece inalterável desde o ano passado. As coisas continuam tão más como estavam para elas neste governo”, afirmou, citada pelo jornal ingês The Guardian.

Sarah Champion, deputada trabalhista britânica e ministra sombra para a igualdade [Fotografia: womenlabour.org]
Sarah Champion, deputada trabalhista britânica e ministra sombra para a igualdade [Fotografia: womenlabour.org]

Por isso, Champion lembrou que “os trabalhistas devem levar a cabo, urgentemente, uma análise em torno do verdadeiro impacto dos seus orçamentos e gastos sobre as mulheres e explicar como pretendem inverter esta situação desproporcional”.

A parlamentar vincou que “a primeira-ministra [Theresa May] e o chanceler [Philip Hammond] falaram sobre a importância do Dia Internacional da Mulher e as suas palavras parecem ter levado a nada”.

Primeira-ministra britânica Theresa May [Fotografia: Twitter]
Primeira-ministra britânica Theresa May [Fotografia: Twitter]

A análise olhou para os dados desde 2010 e estimou que os custos para as mulheres estão nos 79 mil milhões de libras (90,5 mil milhões de euros), face a 13 mil milhões (15) para os homens. O mesmo estudo ontem apresentado perspetiva que, em 2020, que os homens terão suportado 14 mil milhões de libras cortes, comparados com os 86% para mulheres.

Esta revelação surge dois dias depois de o chanceler ter anunciado um pacote de 30 milhões de libras (34,4 mil milhões de euros) para causas de apoio às mulheres: o que inclui 20 milhões (22,3 milhões de euros) alocados para as questões da violência doméstica, cinco milhões (5,7) destinados para financiar as comemorações do centenário das sufragistas, e mais cinco milhões a serem dirigidos a “devoluções” para os pais que fiquem sem trabalhar.

As críticas já se fizeram ouvir e Mary-Ann Stephenson, co-diretora do Grupo de lobby pelos Orçamentos das Mulheres, veio a terreiro alinhar com a trabalhista e criticar as medidas tomadas por este executivo conservador nos últimos anos.

Mary-ann-stephenson [Fotografia: DR]
Mary-Ann Stephenson [Fotografia: DR]

As 1,8 milhões de famílias trabalhadoras que recebem créditos tributários são ‘apenas gerentes’, mas o aumento da inflação e o congelamento das taxas de crédito fiscal significam uma queda mais acentuada na renda em termos reais”, sublinhou Stephenson. E prosseguiu:

“A decisão do chanceler em manter as mesmas práticas, as mesmas decisões dos seus predecessores em cortar na segurança social para as famílias de baixos rendimentos e, ao mesmo tempo que cortar impostos, é uma transferência de dinheiro das bolsas das mulheres mais pobres para as carteiras dos homens mais ricos”.

Os estudos levados a cabo pelo governo parecem apontar outro tipo de conclusões, excluindo as análises detalhadas por género. Apesar desta exclusão, os conservadores parecem não ter esquecido as mulheres, tendo prometido a possibilidade de conceder 30 horas semanais para a assistência à infância, com as creches a lembrarem que as verbas pensadas não deverão cobrir todos os custos que tal medida vai gerar.

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