Relatório do Clima. Teletrabalho, menos avião e menos sete milhões de mortes prematuras

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[Fotografia: Jeswin Thomas/Pexels]

O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) vem propor um conjunto de medidas coletivas e individuais para lutar contra o fenómeno e manter a possibilidade de um futuro “viável”.

O estudo tem quase três mil páginas, é produto do consenso científico mais extenso até agora, e faz contas muito precisas sobre os custos e os milhões que se vão perder se tudo continuar como esta.

Publicado nesta segunda-feira, 4 de abril, o relatório vem mesmo por em evidência as prioridades a cumprir e os riscos a evitar, entre eles a possibilidade de evitar sete milhões de mortes antes do tempo devido à poluição.

Conheça as bandeiras vermelhas e as medidas apresentadas pela comunidade científica:

Reduzir a procura

O relatório propõem incentivar as deslocações curtas, utilizando veículos elétricos, além do teletrabalho, o isolamento doméstico e redução das viagens de avião. Tal permitiria chegar a uma redução das emissões de gases entre 40% e 70% até 2050.

Acabar com o metano

As emissões de metano, gás de efeito estufa de curta vida mas 21 vezes mais potente que o CO2, representam a quinta parte do total. Estas emissões devem ser reduzidas para metade até 2050.
Uma opção que implica conter as descargas, produtos derivados de petróleo e gás, além da pecuária, importante fonte de metano.

Captura de CO2

No pior dos cenários, a redução das emissões deveria acompanhar técnicas de eliminação do dióxido de carbono. Para isso, seria necessário plantar novas árvores para, literalmente, captar o CO2 presente na atmosfera, o que não tem sido feito de forma massiva. Essa decisão permitiria compensar os setores como a aviação, o transporte marítimo e a fabricação de cimento, grandes emissores.

Pico de emissões em 2025

Se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas significativamente até 2030, a meta de +1,5°C para a temperatura média do planeta estará “fora de alcance”. As políticas atuais abrem caminho para um aquecimento global de +3,2°C até o final do século. As emissões deveriam, portanto, atingir o pico em 2025, o que parece improvável. A trajetória voltou a subir em 2021, atingindo níveis recordes pré-pandemia.

O nível de emissões de 2019, que equivale ao “orçamento de carbono” disponível para conservar 66% das possibilidades de ficar abaixo de +1,5°C, será totalmente consumido em oito anos.

Fontes de energia de baixa emissão ou neutras

Se todas as jazidas de petróleo, gás e carvão continuarem a ser exploradas, sem uma tecnologia para capturar o carbono emitido, será impossível chegar a +1,5°C.
Para começar, os subsídios aos combustíveis fósseis devem ser eliminados, para que as emissões diminuam em 10%. Para atingir +2°C, 30% das reservas de petróleo, 50% das reservas de gás e 80% das reservas de carvão teriam que permanecer no subsolo, se o CO2 não puder ser capturado e armazenado. Isso representa biliões de euros em perdas. A capacidade da energia solar e eólica aumentou nitidamente, entre 170% e 70% respectivamente, entre 2015 e 2019. Mas, atualmente, representa apenas 10% da produção elétrica mundial. Acrescentando as centrais nucleares e a hidroeletricidade, chega a 37%. O restante provém de energias fósseis.

Agir custa caro, mas não fazer nada custa ainda mais

Manter o objetivo de +1,5°C implica investimentos de 2,3 mil milhões de dólares anuais entre 2023 e 2052, somente no setor de eletricidade. O montante pode ser reduzido a 1,7 mil milhões, se alcançado o objetivo de +2°C.
Em 2021, o mundo gastou 750 mil mihões de dólares em energias limpas, segundo a Agência Internacional de Energia.
Os climatologistas e ecologistas garantem que o decrescimento económico decorrente destas medidas seria amplamente benéfico, caso a transição energética fosse concluída. Os desastres climáticos e as crises alimentares seriam combatidos, garante o relatório.Só em matéria de saúde pública, 7 milhões de mortes prematuras causadas pela poluição poderiam ser evitadas.

com agências