Remodelação governamental: o perfil das quatro secretárias de Estado

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A tomada de posse terá lugar esta sexta-feira, 14 de julho, às 19:30 horas. Para que não se perca no quem-é-quem das secretarias de Estado, fique a conhecer ao detalhe as quatro mulheres escolhidas pelo primeiro-ministro António Costa para esta remodelação governamental.

Uma mexida que passa pela substituição de sete executivos e a criação de uma nova secretaria: a da habitação, sob tutela do Ministério do Ambiente.

Entre os oito novos nomes, o chefe de Governo escolheu fazer uma remodelação integralmente igualitária, nomeando quatro responsáveis femininas e quatro executivos masculinos.

A mulher que vai ter as start ups e o ‘Web Summit’ entre mãos

Ana Teresa Lehmann [Fotografia: Porto Business School]

Ana Teresa Lehmann nasceu em 1972, é economista de formação e tem feito a sua carreira entre a consultoria, a docência e a captação de investimento e inovação.

A nova secretária de Estado da Indústria – que substitui João Vasconcelos – é próxima do autarca do Porto, Rui Moreira, e presidia a InvestPorto, uma estrutura ligada à câmara e que tinha por objetivo captar investimento. Politicamente, foi também, em 2013, mandatária de Moreira para a Economia, Emprego e Formação.

No exercício das funções para as quais agora foi nomeada estão pastas como as que estão ligadas às empresas start ups, bem como eventos como o Web Summit, que volta a ter lugar entre 6 e 9 de novembro deste ano, em Lisboa.


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Ana Teresa Lehmann é atualmente professora da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP-UP) e é responsável pelo departamento de ‘International Business’ na Porto Business School.

No currículo académico conta com um doutoramento em Economia e Negócios Internacionais e mestrado completados na universidade britânica de Reading e foi pró-reitora da Universidade do Porto entre 2006 e 2008.

Entre esse ano e 2012, Lehmann foi vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) e, ao mesmo tempo, assumiu a presidência da Autoridade de Gestão do Programa Operacional de Cooperação Territorial Espaço Atlântico.

Em entrevista recente ao Porto Canal, a economista defendeu a autonomia das regiões administrativas como caminho para a competitividade e para a reforma do Estado.

Adeus Bogotá, olá Lisboa

Ana Paula Zacarias [Fotografia: Facebook]

Não é possível dizer se Ana Paula Zacarias estava na Colômbia quando foi convidada para assumir a Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus, sucedendo a Margarida Marques, que diz nunca ter pedido a demissão do cargo

No entanto, era na capital daquele país, em Bogotá, que a antropóloga cultural, de 58 anos, estava a exercer funções como representante diplomática da União Europeia. Aliás, desde 2011 que está em representação externa da União Europeia (UE), tendo passado também pelo Brasil.

Agora, diz adeus à América Latina para regressar à Europa e ao país que a viu nascer, a 5 de janeiro de 1959, mais precisamente em Lisboa. Pela frente tem a negociação de dossiês como o Brexit e matérias sensíveis como o estatuto dos cidadãos comunitários – incluindo os portugueses – que vivem no Reino Unido.


Leia mais sobre as preocupações das portuguesas que vivem e trabalham no Reino Unido e o papel que as mulheres têm no Brexit


Filha de um militar e de uma funcionária dos correios, Zacarias ainda tentou ingressar na faculdade de Medicina, mas o seu percurso seguiria outro caminho: a inscrição em Direito, na Católica, acabaria por falar mais alto. Mas por pouco tempo. Três anos depois, conta a revista Visão, mudar-se-ia para Antropologia Cultural.

Findo o curso, tentaria a sorte na carreira diplomática, concorrendo. Foi aceite e acabou por ficar. Ao longo de anos conheceu personalidades como Jacques Delors, a princesa Diana ou o senador Kennedy. Foi neste âmbito que, em 1988, esta diplomata chegou a assessora de Mário Soares, enquanto Presidente da República. Entre outros, participou na equipa que negociou o processo de paz no Médio Oriente.

Depois de ter trabalhado em países como o Brasil, regressava a Lisboa já no fim do milénio para dirigir os serviços do Gabinete de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros e exerceu também a vice-presidência do Instituto Camões (1998-2000).

De referir ainda que, a nível diplomático, esteve na embaixada portuguesa em Washington, em Talin, na Estónia, e, entre 2009 e 2011, assumiu a pasta de representante permanente adjunta de Portugal em Bruxelas.

Ana Pinho ocupa pasta recém-criada: a da Habitação

Ana Pinho [Fotografia: Augusto Mateus & Associados]

É uma das mais novas nesta remodelação ministerial. Tem 43 anos. Ana Pinho é licenciada em Arquitetura, tem doutoramento em Planeamento Urbanístico e trabalho feito em consultoria nesta área.

Foi, aliás, nessa qualidade, que trabalhou ao lado da Câmara Municipal de Lisboa, num período que coincide com a presença de António Costa, atual primeiro-ministro, enquanto autarca da capital.

Em 2009, esta especialista – que não tem carreira política – comissariava a Carta Estratégica para Lisboa e, já nessa ocasião, assinava um documento que, entre outras medidas, procurava promover a oferta de casas a rendas mais acessíveis.

Agora, assume a recém-criada pasta da Secretaria da Habitação, inserida no Ministério do Ambiente, e tem como uma das tarefas mais prementes o realojamento das vítimas dos trágicos incêndios de Pedrógão Grande.

Uma novidade organizacional que foi comunicada pelo chefe de Governo no debate parlamentar “Estado da Nação” e que foi justificada pelo facto de a habitação ter de “ser uma nova área prioritária nas políticas públicas, dirigida agora às classes médias e em especial às novas gerações”. Costa explicava então que estas “não” podiam “ficar condenadas ao endividamento ou ao abandono do centro das cidades, sendo necessário promover a oferta de habitação para arrendamento acessível”.

Recentemente, Ana Pinho exerceu funções na consultora Augusto Mateus & Associados, que abandonou em fevereiro para administrar a Fundiestamo (da Parpública). No seu currículo consta ainda o trabalho no Laboratório Nacional de Engenharia Civil, onde esteve mais de uma década (2001- 2012).

Precários e carreiras congeladas: eis as missões de Maria de Fátima Fonseca

Maria de Fátima Fonseca [Fotografia: CML]

Também oriunda da Câmara Municipal de Lisboa, esta diretora Municipal de Recursos Humanos da autarquia, desde 2011, trabalhou perto de António Costa.

Agora, sucedendo a Carolina Ferra, a futura secretária de Estado da Administração e Emprego Público vai lidar com os difíceis dossiês da vinculação de trabalhadores precários – programa que já terá recebido mais de 26 mil candidaturas – que trabalham no Estado, bem como o descongelamento das carreiras.

A título académico, Fátima Fonseca é mestre em Administração e Políticas Públicas pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e licenciada em Direito pela Universidade de Lisboa. Aliás, entrou na autarquia da capital como jurista. Atualmente, está a elaborar a tese de doutoramento em políticas públicas, de acordo com a nota curricular apresentada pelo Governo.

Recorde-se que esta responsável mediou, no âmbito das suas funções como diretora de Recursos Humanos, o processo transferência de competências da câmara para as juntas de freguesia, tendo conversado diretamente com as forças sindicais, que lhe elogiam a capacidade de negociação e o cumprimento de compromissos.

Em texto de opinião recente, a ainda diretora municipal falava dos desafios da gestão de “capital humano” na administração pública”. Nesse sentido, referia – em janeiro último e no site human.pt – que “a aprendizagem individual dos dirigentes constitui em boa parte o cerne da mudança”, com particular atenção às “especiais responsabilidades de liderança e gestão”.

Ainda no mesmo documento, a futura secretária de Estado reclamava a necessidade de “aprendizagem dos próprios trabalhadores”, considerando importante que estes “interiorizem novas metodologias de trabalho e participem ativamente na vida da sua organização, identificando necessidades, ajudando a decidir sobre a melhor forma de as satisfazer, participando no processo de implementação dos projetos, e percebendo, depois, o grau de sucesso das iniciativas para identificar melhorias a adotar”.

Maria de Fátima Fonseca defendia, assim, a intenção de “trazer as pessoas para a vida da organização”, deixando-as de as tratar “como sujeitos passivos de ordens, diretivas, despachos e decisões” e criando “espaço para, com elas, codesenhar, codecidir, coproduzir, coavaliar”.

Recorde-se que, há cerca de onze anos, Fonseca integrou a equipa que previa a redução de 187 organismos públicos, no âmbito do Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE), definido ainda no primeiro mandato de José Sócrates.

Os quatro novos secretários de Estado

Irmão da secretária-geral adjunta do Partido Socialista, Ana Catarina Mendes, António Mendonça Mendes (40 anos) troca a presidência da Federação Distrital de Setúbal para assumir a Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais, em substituição de Fernando Rocha Andrade. É também importante ressalvar que é sócio da empresa Advogados AM-António Miranda e Associados, tendo passado por gabinetes de apoio a executivos socialistas e em pastas como a administração pública, justiça, transportes e saúde.

Era António José Seguro secretário-geral do PS e escolhia Eurico Brilhante Dias, 45 anos, para porta-voz. Agora, António Costa escolhe este quadro do partido para assumir a pasta de secretário de Estado da Internacionalização, para a cadeira que estava ocupada por Jorge Costa Oliveira. O atual deputado socialista, e que tinha em mãos a vice-presidência da Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus, é licenciado em Gestão de Empresas e tem um mestrado e um doutoramento em Ciências Empresariais.

A secretaria de Estado da Presidência do Conselho de Ministros também vai mudar de mãos: Miguel Prata Roque passa a pasta da preparação das reuniões e o controlo de qualidade da legislação produzida pelo governo a Tiago Antunes, 37 anos. Jurista e professor universitário, este atual chefe de gabinete socialista em Bruxelas (de Pedro Silva Pereira) foi adjunto de Filipe Batista e João Almeida Ribeiro, que foram secretários de Estado adjuntos de José Sócrates.

Engenheiro agrícola e professor universitário em Évora, e ex-deputado socialista, Miguel João de Freitas sucede a Amândio Torres e assume as funções de secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural. Pela frente, este responsável de 57 anos, natural de Angola, tem a missão de pôr em marcha a prioridade máxima da reforma da floresta, na sequência da tragédia dos incêndios de Pedrógão Grande, na qual morreram 64 pessoas. Desde o ano passado que exercia funções de secretário executivo da Comunidade Intermunicipal do Algarve, mas antes foi deputado durante os dois executivos de José Sócrates e no primeiro governo de Pedro Passos Coelho.