Revista feminina talibã? Sim, agora existe e mete medo

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O primeiro número da ‘Sunnat E Khaula’ é de julho. A revista escrita em inglês e vendida no Paquistão é dedicada ao público feminino e quem conhece a história do Islão percebe imediatamente que não vai ler nela truques de beleza ou receitas de cozinha. É que o título ‘Caminhos de Khaula’ faz referência a uma mulher, Hazarat Khaula Bint al-Azwar, uma muçulmana de origem árabe que lutou contra o Império Romano do Oriente no século VII, e ficou para a história como uma grande guerreira. Agora, a revista recupera a figura o imaginário coletivo para dar o mote à radicalização das mulheres muçulmanas do Paquistão.

De acordo com jornal Daily Times de Islamabade, a revista apresenta um editorial de 3 páginas em que é feita a previsão de uma nova guerra entre o Paquistão e a Índia, defendendo que o partido Tehrik-e-Taliban Pakistan, ilegalizado naquele país, será a única salvação dos paquistaneses. “Queremos que as mulheres se juntem às fileiras dos mujahedins”, lê-se no editorial, de acordo com a CNN.

No artigo que se segue, segundo o Daily Times, 18 páginas são dedicadas a comprovar que a educação dada nas escolas do país não serve os interesses do conhecimento e, no mesmo artigo, demonstra-se a necessidade das mulheres cobrirem o corpo de todos os olhares menos o do marido. A revista de 45 páginas tem ainda um testemunho de uma criança de 8 anos que diz ter tido um irmão que morreu a executar um atentado à bomba no país e que espera agora a sua vez para se tornar um bombista suicida e uma carta de uma mulher que diz estar a treinar para entrar na Jihad, a guerra aos infiéis.

Porquê agora?

A emancipação feminina nunca foi, sob nenhum prisma, uma preocupação dos talibãs -casamentos forçados, proibição de ir à escola, redução das mulheres à esfera da casa e violência doméstica fazem parte da história deste movimento e a título de exemplo lembre-se a história de Malala Yousafzai, baleada na cabeça por talibãs do Paquistão porque queria estudar.

A revista Sunnat E Khaula, de acordo com Nikita Malik, entrevistada pela CCN, corresponde a uma alteração de estratégia de recrutamento para a causa talibã. Segundo a investigadora do instituto The Henry Jackson Society, da Universidade de Oxford, citada pela televisão norte-americana, é a tentativa dos grupos radicais de atingirem uma nova audiência, num momento em que o Estado Islâmico perde terreno no Iraque e na Síria e começa a mostrar sinais de alguma debilidade financeira.

Outra investigadora citada pela CNN, Mia Bloom, diz que as mulheres são vistas como meros objetos. “É uma estratégia lógica, a que os terroristas estão a usar. Para eles as mulheres são uma ferramenta ou um instrumento, para serem exploradas sejam quais forem os objetivos, e os objetivos são a longevidade, a sobrevivência e o crescimento [do movimento]”. A investigadora da Universidade da Georgia relembra ainda que as mulheres têm sido utilizadas tanto pelos Talibãs como pelo ISIS como recompensas sexuais para os guerrilheiros, e para garantir a procriação dos terroristas.

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