Reynaldo Gianecchini: “Esta peça é para homens e mulheres, porque no fundo fala do ser humano”

Reynaldo Gianecchini e Ricardo Tozzi estão em Portugal para a estreia da peça ‘Os Guardas do Taj’, no Theatro Circo, em Braga, já esta quinta-feira, 9 de novembro. Antes de partirem em direção ao norte do País, o Delas.pt esteve à conversa com os dois atores brasileiros para saber mais sobre a peça de teatro baseada numa das várias lendas sobre o Taj Mahal, um dos monumentos mais românticos da Índia e já considerado uma das sete maravilhas do mundo.

Produzida pela Plano 6, a peça estreia em Portugal e só para o ano é que chega ao Brasil.

Em digressão pelo país, vai poder assistir ao espetáculo de 9 a 12 de novembro em Braga, no Theatro Circo, de 16 a 19 de novembro na Póvoa de Varzim, no Cine Teatro Garret, de 23 a 26 de novembro em Famalicão, na Casa das Artes e, por fim, de 29 de novembro a 17 de dezembro em Lisboa, no Teatro Tivoli BBVA. O preço dos bilhetes varia entre os €12,50 e os €25 e só é permitida a entrada a maiores de 12 anos.

Sem desvendar muito, do que é que trata a peça ‘Os Guardas do Taj’?

Reynaldo Gianecchini (RG): A peça é a história de dois indianos que são amigos, dois guardas do Taj Mahal, uma cultura distante. Mas podia ser qualquer pessoa, quaisquer dois amigos, não é sobre esses indianos, não é sobre Taj Mahal, é sobre as escolhas que fazemos na vida, sobre estar fechado, sobre a amizade, são temas universais e intemporais e que podemos inserir em qualquer contexto. O personagem do Ricardo é o sonhador, ele quer revolucionar tudo e eu sou aquele que não quer mudar nada, que tem um prazer enorme em ser o homem perfeito que cumpre a regra perfeita, só que acabo por ser obrigado a fazer coisas horrorosas em nome dessa ordem, dessa perfeição.

Ricardo Tozzi (RT): O lema da peça é: O que é que realmente importa? Importa preocuparmo-nos com a amizade? Onde está a beleza da amizade? Qual é a melhor beleza? É a do mundo? É fazer sucesso? Ou é a simplicidade de uma amizade?

É então uma peça que faz pensar, que nos vai fazer refletir?

RG: Quando lemos a peça eu disse logo que o texto era muito bom. É difícil ter um texto de teatro assim, com uma estrutura tão bem acabada, que não seja óbvio e que nos faça falar de um tema importante sem ser de uma forma demasiado didática. Um texto que nos faça refletir, mas sem ser de forma direta. Para mim o tema principal dela é algo muito atual nos tempos de hoje: Como é que as pessoas seguem o que lhe dizem só porque lhe dizem que isso é que é bom, só porque é isso que esperam delas, como é que as pessoas seguem ordens sem se questionarem se é isso que realmente querem, se é bom para elas, para o país, para o mundo. As pessoas repetem as histórias dos seus pais, dos seus avós e não estão a olhar para as mudanças necessárias que o mundo já estar a pedir.

RT: Sem dúvida e que permite essa busca da evolução. Eu e o Giane estamos em busca de projetos que façam sentido. Quando vamos fazer teatro acho que tem de fazer sentido e é muito importante que consigamos comunicar o que é para comunicar. É muito importante que se passe a mensagem, que se mexa com as pessoas. Senão não faz sentido.

“Todo espetáculo, quando é ensaiado, faz com que criemos expectativas de como o público o vai receber. Porque se nós estamos apenas numa sala de ensaio não sabemos o que o público vai achar da peça”

Esta é a primeira vez que se estreia uma peça de teatro em Portugal e só depois no Brasil, isto cria algum nervosismo?

RT: Cria. Cria uma expectativa muito grande, porque é num outro país, embora seja um país que nos recebe com um carinho absurdo, mais até que o nosso próprio país. Mas todo espetáculo, quando é ensaiado, faz com que criemos expectativas de como o público o vai receber. Porque se nós estamos apenas numa sala de ensaio não sabemos o que o público vai achar da peça. Neste espetáculo, além dessa expectativa, temos ainda a expectativa de estarmos em Portugal, onde há uma outra cultura, uma outra tradição. Estamos mesmo muito ansiosos para saber como é que vai ser.

Além dessa ansiedade, esperam reações diferentes por parte dos dois públicos?

RT: Não sei. Este espetáculo especificamente é um espetáculo universal. Fala sobre questões muito contundentes da vida, de uma forma brilhante, o texto é maravilhoso. Então a recetividade do público pode ser muito similar. Se fosse uma comédia, onde se tratasse dos costumes regionais, aí talvez fosse diferente. Mas penso que para essa peça não vai ser. Toca de várias maneiras e é impossível alguém se sentar numa cadeira e não ser tocado de alguma forma. É uma peça que fala subjetivamente de tantas coisas importantes e é de acordo com as experiências de vida de cada um que cada um se vai identificar com algumas das coisas.

“A questão do género não é muito o foco da peça, o foco está muito mais das opções que se fazem. O lado racional e o lado emocional, o lado sonhador e o lado duro de cada um. Todos nós temos essas duas energias”

E o facto de ser uma peça baseada no diálogo entre dois amigos homens faz com que seja uma peça mais virada para o mundo masculino? Ou também se identifica com as mulheres?

RG: Esta peça traz um universo bem masculino. São dois homens, dois guardas, o meu personagem é filho de militar, mas direciona-se para homens e mulheres, porque no fundo fala do ser humano. Talvez um pouco mais para o masculino, porque é o mundo dos homens, traz a energia masculina, mas serve, de modo diferente, para o homem e para a mulher. Talvez até pudessem ser duas mulheres, duas guardas, dava na mesma. A questão do género não é muito o foco da peça, o foco está muito mais das opções que se fazem. O lado racional e o lado emocional, o lado sonhador e o lado duro de cada um. Todos nós temos essas duas energias.

RT: Esta peça, de caras, vai identificar-se mais com as mulheres, porque fala muito de sentimento, fala muito de sensibilidade. Mas acredito que os homens que forem tocados vão ser mais tocados do que as mulheres, isto em termos de intensidade. De alguma forma, vai mexer muito com os homens, embora as mulheres se possam sensibilizar mais, porque mulher é mais sensível. O homem vai sair pensativo, é uma paulada.

Ligada a um dos monumentos mais românticos do mundo, ao sentimento e àquilo que é realmente importante na vida, ‘Os Guardas do Taj’ é uma peça romântica?

RG: A peça não é romântica, o que ela tem de bonita é essa relação dos dois amigos-irmãos, que são diferentes e se complementam, mas que passa pelo drama. Não é fofa, a peça não é assim: “Ai que bonitinho”. Mas é bonita, mesmo no drama que acontece, porque aquela amizade existe e é muito bonita.

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Imagem de destaque: Leonardo Negrão / Global Imagens