Começou na moda e foi a moda que lhe abriu as portas do ‘Blitz’. Em fevereiro Rita Carmo comemora um quarto de século de carreira e é quase desde sempre fotógrafa residente do icónico jornal, agora revista. Tem no portfólio algumas das mais emblemáticas fotos de artistas que todos temos na memória e vem sempre de preto, também isso nos vai explicar porquê.
Porque decidiste fazer um curso de moda?
Decidi fazer um Curso de Moda porque sempre fiz roupa, desde os meus 14 anos. O que me interessava mais era fazer ilustração de Moda, na altura. No secundário, resolvi seguir Humanidades e o Curso de Moda compensava-me a falta do desenho e das artes…
Quando o terminaste?
Terminei o Curso de Moda do IADE em 1991, com 21 anos.
Como começou a fotografia?
A Fotografia começou precisamente durante o Curso de Moda. Na altura, o IADE permitia que todos os alunos usassem o Laboratório de Fotografia da escola, e eu comecei a ir para lá de manhã, já que o curso que eu frequentava era à noite. Fotografava as coleções dos meus colegas e no último ano do IADE propus à direção da Escola fazer o trabalho final na vertente Fotografia de Moda, e não fiz o normal desfile de finalista, mas sim uma apresentação sobre o trabalho dos meus colegas e uma exposição no stand da FIL Moda.
Estas duas paixões conviveram ao mesmo tempo? Como foi esta ‘convivência’?
A moda e a fotografia ainda convivem muito bem. Até há muito pouco tempo, o ‘Blitz’ cobria a Moda Lisboa, por exemplo. E durante largos anos, fazíamos produções de moda.
Quando e como começou a colaboração no ‘Blitz’?
O ‘Blitz’ surge exatamente… com a exposição no Stand da FIL Moda, em 1992: a Cristina Duarte, que escrevia no ‘Blitz’, convidou-me nessa noite a fotografar o desfile dos meus colegas finalistas para o ‘Blitz’. Foi o meu primeiro trabalho fotográfico a sério.
A tua formação em moda influencia de algum modo a tua maneira de fotografar?
Acho que sim, nos pormenores e na cor. Mas diria que a cultura visual, e mesmo a minha formação em Design Gráfico (que fiz durante o Curso de Moda na Escola Superior de Belas-Artes) me influencia mais ainda no enquadrar.
Quem gostaste mais de fotografar ao longo desta longa carreira?
É difícil responder. São muitos anos a fotografar intensamente, e muitas pessoas e artistas muito interessantes… Há bandas com quem me identifico mais do que outras, mas vou destacar os Dead Combo.
Quem ainda não fotografaste e gostarias muito de fotografar?
Ahh… o Tom Waits, por exemplo. A Tori Amos, gosto muito dela. Mas há muitos mais, esqueço-me sempre nestas alturas em que me perguntam… Tive pena de nunca ter fotografado o David Bowie.
Por quem gostarias de ser fotografada? Quem é o teu ídolo no teu ramo de trabalho?
O Anton Corbijn! Há mais, obviamente…
Uma fotografia vale mais que mil palavras? E que uma cantiga, vale?
Uma boa fotografia pode, de facto, valer mais do que mil palavras, porque nós somos livres de escrever e de pensar o que quisermos quando descodificamos essa fotografia. Mas tudo isto são comparações difíceis. As músicas também nos fazem viajar, tal como as imagens.
A ser verdade que a cantiga é uma arma, achas que a fotografia também o pode ser?
As imagens de guerra, por exemplo, são importantíssimas. As imagens, de facto, despertam-nos para a realidade, de uma forma mais eficaz que qualquer texto, porque não oferece dúvidas: nós estamos a ver, ninguém está ali a dar uma opinião, somos confrontados com aquela realidade. E nessa medida claro, são importantíssimas.
Para além do ‘Blitz’, que mais coisas fazes?
Para além do/a ‘Blitz’ (que agora é uma revista), trabalho para quem me contrata, muito na área da música: retratos para capas de discos, para promoção e divulgação de artistas, cobertura de concertos que têm edição de DVDs, por exemplo. Mas também faço muito grafismo (também muito na área cultural, capas de discos, cartazes, a Festa de cinema francês, por exemplo), dou aulas de Fotografia de Espetáculo em três escolas de Lisboa. Editei, em 2003 e em 2013, dois livros de fotografia, também.
Podes contar o episódio mais picaresco que te tenha acontecido enquanto fotografavas uma ‘estrela’?
Há vários… uns que não são bonitos de contar, mas há este, por exemplo, da Alanis Morissette, que eu fotografei há largos anos a entregar uma guitarra a uns fãs e que, disseram-me, eu teria de contar até “três” (alto) antes de fazer o disparo (para ela ter o sorriso pronto). Achei, no mínimo, caricato…
Diz depressa:
Como é ser-se sénior e saber-se tudo?
Obriga-me a não poder falhar.
Nos festivais deste ano, quem tens mesmo que fotografar e nós que ir ver?
O Tom Waits!
Se não fosses fotógrafa serias o quê?
Qualquer outra coisa, de cozinheira a costureira. E seria boa, certamente! Mas também poderia ser Inspetora da PJ!
Porque te vestes sempre de preto?
Porque me sinto mais invisível. Mas às vezes até tento comprar coisas de cor, mas caio sempre no preto: parece-me sempre melhor!
O que tem sempre de haver num teu espaço?
A minha gente, um computador, música, luz natural, cor e conforto.
E o que nunca pode lá entrar?
Pessoas que me são estranhas… o meu espaço é muito meu.
O que há sempre na tua despensa?
Muitas especiarias, chás, queijo, frutos secos…
O que te aborrece profundamente?
Erros de português. E “montanhistas”.
O que te deixa feliz?
Trabalhar, deixar-me dormir no sofá, ir de férias para a praia (ou para a serra) e viajar.