Rita Lee: a cantora que preferia ser ‘padroeira da liberdade’ do que ‘rainha do Rock’

Rita Lee
Rita Lee [Fotografia: Arquivo Global Imagens]

“Gosto mais de ser chamada de ‘padroeira da liberdade’ do que ‘rainha do rock’, o que acho um tanto cafona…”, revelava a cantora e compositora Rita Lee à revista Rolling Stone Brasil, em 2022.

A célebre intérprete e compositora brasileira, conhecida pelo seu espírito rebelde e visionário, morreu aos 75 anos, nesta segunda-feira, 8 de maio, em casa.

Em 2021, foi-lhe diagnosticado um cancro de pulmão, mas a cantora tinha anunciado a remissão do tumor no ano passado. Agora, as causas da morte não foram ainda reveladas, sendo que Rita Lee chegou a estar internada e a inspirar sérios cuidados em fevereiro deste ano.

Rita Lee estado saúde delicado cancro pulmão
Rita Lee [Fotografia: instagram]
Nascida em São Paulo, a 31 de dezembro de 1947, a compositora era oriunda de uma família de classe média, tendo-se estreado na música como vocalista na banda feminina Teenage Singers, cantando covers dos The Beatles e de outros grupos estrangeiros.

Em 1966, formou o trio de rock psicadélico Os Mutantes, com o qual alcançaria fama nacional no auge da Tropicália, um movimento libertário que revolucionou a música brasileira durante a Ditadura Militar (1964-1985). O último post que Rita Lee publicou no Instagram versou precisamente a dificuldade de se impor como mulher e vocalista no panorama musical do país.

Foi com Caetano Veloso e Gilberto Gil, líderes do movimento, que Rita Lee descobriu o seu “lado brasileiro”. “Deram-me as dicas de como fazer música brasileira, porque até então era só coisa gringa”, disse Rita Lee no documentário biográfico Ovelha Negra, de 2007, realizado pelo músico Roberto de Carvalho, o marido e sócio musical durante quatro décadas. Separada de Os Mutantes em 1972, seguiu com a banda Tutti Frutti e, depois, com carreira solo.

Músicas sobre sexo, amor e liberdade e look extravagante

“Eu era a única garota roqueira no meio de um clube só de Bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e ovários e me senti uma igual, gostassem eles, ou não”, escreveu na sua autobiografia lançada em 2016.

Com uma imagem de marca definida pela extravância das roupas e acessórios como óculos de lentes coloridas e os cabelos ruivos – embora nem sempre – Rita Lee agitava consciências e moral ao cantar o sexo, amor e liberdade.

A artista evitou, no entanto, o compromisso político defendido por muitos de seus colegas durante a ditadura. Entre os seus êxitos estão Ovelha Negra, de 1975, Mania de você, de 1979, Lança Perfume, um ano depois, e Amor e sexo, de 2003.

CD – O melhor de Rita Lee
concerto de rita lee na praca sony 11jun99 ©psdias

Em 50 anos de carreira, a cantora e compositora lançou mais de 30 álbuns, foi indicada sete vezes ao Grammy Latino e venceu uma vez em 2001, na categoria de Melhor Álbum de Rock Brasileiro, com 3001. No ano passado, a Academia Latina da Gravação concedeu-lhe o Prémio de Excelência Musical pelo somatório de todo o seu trabalho.

com AFP