Robôs nas escolas contra a violência e pela aprendizagem

Robô crianças istock
[Fotografia: istock]

Alunos, professores e matéria. Estas são as componentes tradicionais presentes numa sala de aula. Mas, e se juntarmos um ou mais robôs? Foi isso mesmo que a investigadora Maribel Miranda decidiu trazer até ao terreno nacional. E se já teve a robótica no pré-escolar, o projeto alarga-se agora às aulas de primeiro ciclo (KLM2).

Numa altura em que tanto se discute a violência entre alunos e professores dentro de muros e quadros brancos ou negros, a investigadora explica ao Delas.pt que a entrada destes novos ‘amigos’ programados podem ajudar a desacelerar a pressão que se sente. “Sim, de certa forma pode-se dizer que ajuda a combater a violência”, assegura Maribel. E explica: “Porque o projeto passa por conseguir com que as crianças colaborem, há um trabalho de diálogo, partilha, reflexão e talvez colmatar muitos problemas de violência, podendo auxiliar no combate desta desigualdade nas estruturas familiares das crianças”.

Depois de ter levado este projeto de programação, robótica e pensamento computacional ao pré-escolar (o Kids MediaLab) e com resultados publicados que identificaram “um maior nível de envolvimento das crianças nas atividades, menos desmotivação, mais tempo de concentração, mais tempo de trabalhar neste tipo de recursos”, a investigadora explica a extensão do projeto para o primeiro ciclo (KLM2) e para todas as disciplinas.

Todas? Sim, exatamente, todas. “Em Matemática, em Português, na Música, na Expressão motora”, enumera Maribel Miranda sobre este projeto que arrancou a 1 de outubro e que se vai estender a 30 de junho próximo. “No 1º ciclo, temos cinco robôs em sala. Por exemplo, na aula de Português e perante a leitura de um texto literário por parte de um aluno, podemos criar um robô programando o mapa que reflete partes da história. Pode solicitar uma parte da história e reprogramar para a história”, exemplifica.

O projeto conta agora com 30 pessoas a integrar a investigação e depois de terem sido selecionadas “140 para fazer a formação a nível nacional”. Os testes prosseguem agora em escolas do “Algarve, Aveiro, Viseu, Bragança, Évora, Setúbal, Lisboa e Braga, em parceria com universidades que aceitaram integrar”, explica Maribel Miranda.

E como ficam as emoções e as competências sociais?

A imitação e as expressões fazem parte do conhecimento adquirido nas primeiras idades. Em que pé é que ficam quando as máquinas tomam de assalto o espaço escolar e convocam todas as atenções? “Houve uma criança que disse, com graça, que os robôs não dão abraços, e isso é verdade. Mas também conseguimos, através de alguns robôs, que estes falem, expressem ideias, proponham desafios às crianças e os motivem, o que cria uma ligação aquele robô. O aluno vai aprender e vai divertir-se explorar, e sem ele seria diferente”, justifica Maribel Miranda.

Garante ainda que há “um reforço, uma complementaridade” na “aprendizagem das emoções e na curiosidade” . “Não vamos pôr de lado o professor e o educador. Utilizamos estes recursos para os professores reinventarem o processo como trabalham. Temos é uma geração de crianças que vivem com muitas tecnologias, contactam com elas fora do contexto educativo e vão passar a trabalhar com elas no espaço escolar, vai auxiliar”, justifica a investigadora.

No que diz respeito à aprendizagem, a investigadora nota que “as crianças que têm dificuldades de aprendizagem acabam por, quando estão perante estes recursos, ter um desempenho muito bom e acabam por ter um bom ambiente de trabalho ao lado dos colegas”. Experiências que – reitera – não excluem as competências sociais. “São muito trabalhadas. Trabalhamos a parte de partilha, de negociação, de colaboração, de poder perceber os limites e respeitar o outro porque está a realizar a programação do robô. Neste tipo de interação acabam por se criar aprendizagens sociais”, justifica.

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