Roseli Siqueira: “O estereótipo da beleza perfeita é completamente arcaico”

Recebeu o título de esteticista de celebridades, no Brasil, ao conquistar nomes como Fafá de Belém, a modelo Izabel Goulart ou a influenciadora Gabriela Pugliesi com os seus tratamentos naturais, não invasivos, e com recurso a plantas e elementos naturais – alguns vindos da Amazónia. Com mais de 30 anos de carreira na área da cosmética e da estética, Roseli Siqueira é hoje uma referência em São Paulo, tendo desenvolvido a sua metodologia e massagens de assinatura no seu Centro de Estética Integrada Roseli Siqueira, na Avenida Europa.

No passado domingo, dia 7 de setembro, Roseli esteve em Portugal para dar o seu primeiro workshop de estética, onde falou sobre auto-massagem, ginástica facial e os cosméticos naturais que foi desenvolvendo ao longo dos anos. Dois dias antes, a esteticista fez uma pausa no seu passeio por Lisboa para conversar com o Delas.pt sobre o seu percurso no mundo da estética, o início de carreira, a Amazónia como fonte de recursos para a indústria da cosmética e ainda o uso de protetor solar, a que Roseli se opõe.

Como se interessou pela área da estética?
A minha mãe era cabeleireira e desde os meus 14 anos que eu já usava máscaras naturais de abacate e pedia para aplicar nas clientes da minha mãe. Além disso, o meu pai era farmacêutico e desenvolvia muitos produtos caseiros para a minha mãe, logo cresci num ambiente familiar muito voltado para estas questões. Depois fui estudar cosmetologia, na Argentina, em Buenos Aires, numa escola que era contra os cosméticos mais modernos, que esticam a pele ou incham os lábios. No Brasil há muitas meninas com pele estragada por usar este tipo de cosmética muito americana.

Na Argentina a formação era mais clássica?
Sim e foi a minha sorte. Lá via manchas de rosto a desaparecerem numa semana. Mas eu tinha um bom mentor no Brasil, que me ensinou que era importante respeitar as células vivas, resgatar a vitalidade celular e ganhar defesas na pele. Não é um tratamento rápido que nos tira as manchas. Já trabalho há 40 anos na área de estética e beleza, sempre com esta filosofia natural presente. Acredito que quando cuidamos da pele e do corpo de forma natural, temos um resultado não só estético, mas também de saúde.

Para si a estética vai além da parte mais física?
Preocupo-me, sobretudo, com o bem-estar de dentro para fora. O estereótipo da beleza perfeita é completamente arcaico. Sou contra o botox, que paralisa o músculo, compromete a circulação e oxigenação das células. Não sou a favor de tratamentos invasivas no rosto.

Quando decidiu abrir a sua clínica para desenvolver tratamentos mais naturais?
Aos 16 anos, eu já ia a congressos de cosmetologia no Rio de janeiro e, aos 20, já tinha a minha clínica de estética e clientes fiéis. A clínica mudou várias vezes de morada, em São Paulo, e hoje estou na Avenida Europa. Sempre fui muito apaixonada por esta área, mas também frequentei a Faculdade de Belas Artes e penso que o desenho ajudou muito na minha evolução enquanto esteticista. Quando eu desenhava observava muito a posição dos músculos, do rosto e refletia sobre isso.

Que tipo de tratamento se pode encontrar nesta clínica?
A mais conhecida é a massagem esplendorosa. Muito relaxante porque ajuda a alongar a cervical, trabalha o rosto e ainda drena. Muitas vezes temos toxinas no rosto, pontos que doem ou que estão inchados. E quando fazemos a drenagem eliminamos as toxinas e trabalhamos a musculatura. Fazemos muitas expressões com o rosto, durante o dia e a noite, que nos prendem o maxilar ou que nos levam a ranger os dentes. E o objetivo deste facial é aliviarmos estes pontos de tensão do rosto e recuperar a elasticidade.

A Roseli tornou-se também conhecida pela sua seleção de produtos naturais nos tratamentos. Como criou esta cultura na sua clínica?
Eu sempre adorei produtos naturais e descobrir mais sobre a história deles. Além disso, criei também uma linha de cosméticos naturais com o meu nome e nos quais acredito. São desenvolvidos num laboratório em Araras, no Brasil, no meio de um vale com muita natureza. Entre os ingredientes das minhas máscaras e cremes só se encontram produtos naturais. Uso muito a polpa do cacau do Brasil para limpar a pele. Também uso abóbora numa das máscaras, que aumenta as defesas naturais da pele.

O que é ginástica facial?
[risos]. São uns exercícios que trabalho com as minhas clientes, que servem para lhes dar elasticidade à musculatura. Quando fazemos ficamos com o olhar mais vivo e as maçãs do rosto mais definidas. Digo-lhes para fazerem estes pequenos movimentos em casa várias vezes, porque nós temos 44 músculos nesta zona do pescoço e do rosto. Só trazem benefícios, como a circulação e a oxigenação. Uma coisa importante é fazer os movimentos certos no rosto, ascendente, de dentro para fora e dar uns beliscões no rosto para ativar a circulação.

É também conhecida como esteticista da Fafá de Belém e de outras figuras públicas, como a Izabel Goulart ou a Gabriela Pugliesi. Como chegou até elas?
Ai a Fafá de Belém ama-me. É deus no céu e eu na terra [risos]. Na verdade, eu trato da pele dela há mais de 20 anos. A Fafá é uma pessoa que ama o sol e quando me procurou pela primeira vez tinha manchas na pele e hoje tem a pele linda. Eu acho que quando se trabalha a sério as pessoas vêm. Como também desenvolvi vários métodos e tratamentos com a minha assinatura, que só existem ali em São Paulo, as pessoas quando confiam voltam. A Izabel Goulart vem de propósito de Paris para a minha clínica.

Como se consegue reduzir, por exemplo, manchas?
É difícil. Porque as pessoas ganham receio de estar ao sol, mas na verdade elas precisam de se expor algum tempo porque a pele precisa de desenvolver os queratinócitos, que produzem queratina, o que permite a epiderme ter uma camada protetora. Quem fez peelings, lasers, tirou todas as defesas naturais da pele. E eu incentivo-as a apanhar sol. Também sou contra os filtros solares. Não faço nada invasivo nem que obrigue as pessoas a ficarem dependentes. Às vezes quando fazem tratamentos invasivos ficam com a pele boa no inverno e no verão mancha logo porque não tem proteção.

Porque não concorda com os fatores de proteção solar?
Têm muitos químicos, que prejudicam o nosso organismo. E podem comprometer a vitamina D. Nós precisamos dela, o sol faz bem para evitar uma série de doenças, como a osteoporose. Na minha clínica recebo clientes que não apanham sol há dez anos e ele é necessário.

Como é que se evita as queimaduras solares e se garante a proteção da pele?
Hidratando muito bem a pele, alimentando-se muito bem. A água é super importante para a nossa pele. E quando estiver exposta ao sol é não exagerar, não ficar horas deitada ao sol. É preciso ter noção e disciplina de não nos expormos demasiado tempo.

Os graves incêndios na Amazónia são um dos grandes temas da atualidade. Além de todas as consequências que conhecemos, estes incêndios podem também prejudicar a indústria da cosmética natural?
Deixe-me dizer primeiro que é muito triste o que está a acontecer no Brasil. Temos a Europa preocupada a tentar cuidar da Amazónia, o que eu acho brilhante, porque é um tesouro do mundo. Isso é um crime. O nosso presidente está a fazer muitas aberrações, eu fico triste pela forma como ele se coloca perante o mundo. Mas falando da cosmética, claro que sim, muitos cremes e máscaras de aloé vera vêm daí e também fragrâncias florais. Eu que lido com a cosmética natural preciso das plantas. Mas o que que eu quero mais ainda é que preservem o nosso índio, porque ele sim vai preservar a nossa flora.

 

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