Roupa digital já se impõe como tendência. Mas, afinal, como funciona?

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A moda digital é a nova tendência e faz tudo como a moda tradicional: saias, vestidos, calças, chapéus, calçado e acessórios, com a diferença que nenhuma das peças é tangível. Quem compra estes artigos acaba por os usar em programas de realidade aumentada ou em fotografias alteradas digitalmente.

A dita roupa digital não é algo novo, pois já os gamers a usam em jogos com Fortnite ou até mesmos os filtros das redes sociais. Mais, em março último, a Gucci aventurava-se neste domínio ao lançar um modelo de ténis digitais por 12.99 euros.

Atualmente, os designers estão a criar peças digitais para que as pessoas se possam expressar e ultrapassar barreiras criativas.

Dhanush Shetty, é gerente de produto há 22 anos em São Francisco e afirma que a compra de roupas digitais era estranha ao início, mas era mais fácil, barato e parecia mais ético do que adquirir roupas reais.

“Normalmente quando compra roupa tem que considerar o tamanho, como vai ficar nas fotografias e por vezes o quão ético é a compra. Não é preciso preocupar-se sobre ser ‘grande’ ao comprar roupa digital ou se foi feita numa fábrica que explora pessoas”, disse Shetty ao site norte ameicano VICE.

Shetty confessou que adquiriu as suas primeiras peças digitas na DressX, uma companhia lançada em agosto de 2020, e que agora vende a sua própria roupa bem como colabora com vários designers.

Os clientes podem experimentar a roupa através da realidade aumentada. Se decidirem comprar podem fazer o upload da fotografia eles mesmo no site ou na aplicação, em dois ou três dias, recebem a imagem com as suas roupas novas e editadas profissionalmente.

“O nosso objetivo é dar a cada pessoa a sua roupa digital”, disse Natalia Modenova, co-fundadora da DressX. Ela e a co-fundadora Darla Shapovalova estão em Los Angeles, nos Estados Unidos da América, e antes trabalhavam na indústria da moda, onde viram vários problemas que queriam resolver.

De acordo com Comissão Europeia das Nações Unidas para Europa, a moda está num estado ambiental e social de emergência. A entidade estima que 20% das águas residuais globais são produzidas pela indústria da moda, que também é responsável por 10% das emissões globais de carbono. A indústria têxtil foi identificada como um dos principais contribuintes para o desperdício de plástico no oceano e a fast fashion é ainda conhecida pelas suas perigosas condições de trabalho.

As empresas que trabalham com moda apenas digital ainda têm que lidar com processos intensivos de energia no mundo digital, como a criação de NFTs, mas Modenova e Shapovalova afirmam que encontraram soluções para muitos dos problemas da indústria na moda digital, o que permite que as pessoas “usem roupas novas e emocionantes com a frequência que quiserem, sem que tenham que ser produzidas fisicamente”. Shapovalova prevê que no futuro toda a gente terá roupa digital.

Outra vantagem da moda digital, de acordo com Shapovalova, é que permite que mais designers iniciem a sua carreira sem grandes custos ou produção física – exatamente o que aconteceu com Stephy Fung, uma artista 3D.

“Na altura não sabia como criar moda digital, mas estava fascinada e excitada por assistir os criadores a criarem roupas do nada. Foi só aí que percebi que as minhas capacidades 3D eram completamente necessárias para a moda digital”, explicou Fung.

Hoje em dia, Fung usa as suas próprias criações. “Uso-as digitalmente porque quero ilustrar o que é possível com a moda digital e porque estas roupas fazem-me parecer muito melhor que as da vida real”, confessou.

“Pode usar roupas que flutuam e que não têm gravidade. Pode ter indumentárias que brilham em cores diferentes e que animadas com palavras diferentes ou padrões – as possibilidades são infinitas e divertidas”, acrescentou.

Por outro lado, Roei Derhi, fundador da Placebo, acredita que este tipo de roupa transporta as pessoas para mundos diferentes. “Acho que a melhor parte da roupa digital é que o seu efeito de escape. A moda digital é maior que a realidade e faz com que as pessoas não usem apenas roupa, mas fantasias”, afiançou Derhi.

Ele acredita que a moda digital é também uma forma mais sustentável de criar conteúdo para as redes sociais.

De acordo com um estudo levado a cabo pela Barclaycard, uma empresa bancária online sediada no Reino Unido, um em cada dez britânicos revelam que já compraram roupas online apenas para usar uma vez, com o intuito de publicar uma fotografia nas redes sociais e depois devolveu as roupas.

“Se as roupas são usadas apenas para a parte digital então porque não usar roupas digitais?” questionou Doddz, um criador de Manchester, Reino Unido.

Doddz, que descobriu a moda digital enquanto pesquisava sobre a forma como esta indústria usava a realidade aumentada, pensa que é apenas uma questão de tempo até esta forma de fazer moda seja adotada pelos fashionistas na vida real. Da mesma forma que as pessoas já usam óculos de sol digitais através de filtros do Instagram e como marcas como Louis Vuitton e Balenciaga entraram no mundo dos jogos.