Rueffa: A artista que quer fazer os portugueses apaixonarem-se pela Pop Art

Até ao dia 23 de setembro, é possível visitar, no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, a exposição “Roy Lichtenstein e a Pop Art”. A artista plástica Rueffa, que se tem dedicado a esta corrente artística, em Portugal, é a embaixadora da exposição, que apresenta uma seleção de obras da coleção particular do espanhol Rupperez Cebolla. Crying Girl, Whaam! e As I Opened Fire são algumas dos quadros em destaque, nesta mostra, onde a tarefa da artista de 32 anos enquanto embaixadora, explica a própria ao Delas.pt, é fazer a “ligação desta corrente com o nosso país” e a “própria divulgação desta expressão artística”, pela qual se apaixonou numa cama de hospital. O que a Pop Art lhe traz em termos artísticos e a importância, em particular, de Roy Liechtenstein como inspiração foram outros dos assuntos em conversa, numa entrevista que explora o lado feminino da arte, da de Roy e da Pop Art. No caso de Rueffa, feminino e masculino misturam-se, assim como Andy Warhol e Basquiat se juntam a Variações e Camões, na sua obra. O seu traço esbate as diferenças e torna o género difícil de decifrar. “O meu trabalho é de difícil execução técnica, com materiais que raramente são manuseados por mulheres, pelo menos nas escalas em que os produzo, o que faz com que até possa ter uma componente masculina”. Este ano, a autora de “Três Fridas” expôs pela primeira vez fora da Europa, numa exposição coletiva, em Nova Iorque.

Como nasceu o seu interesse pela Pop Art?
Curiosamente, ainda muito nova, devido a um acidente que tive, fiquei hospitalizada por algum tempo. Nesse período, os meus pais ofereceram-me um livro de Pop Art. De entre tantos autores deste movimento, apaixonei-me de imediato pela obra de Roy Lichtenstein: SUNRISE. Reproduzi-a no hospital, vezes e vezes sem conta, e isso trouxe um novo significado à minha vida. Uma obra que à partida nos parece ser simples, mas que me deu imensa força para voltar a querer ver o sol nascer. A Pop Art explora imagens do quotidiano, mas influencia também a publicidade, o design, a indústria e a nós. Apesar de ter sido o artista Lucio Fontana um dos principais impulsionadores do meu trabalho técnico e artístico, Roy L. funcionou para mim como um detonador: apresentou-me um conjunto de possibilidades na pintura com intenso impacto visual e paralelamente a contrastar, mensagens simples, diretas. É uma arte que se dirige diretamente à sensibilidade do público e é isso que realmente me importa.

Como fez a seleção das obras para esta exposição, “Roy Lichtenstein e a Pop Art”?
As obras em exposição fazem parte da coleção particular de Rupperez Cebolla, um colecionador espanhol apaixonado pela Pop Art. A minha colaboração nesta exposição não está diretamente ligada à seleção das obras, mas sim à ligação desta corrente com o nosso país e à própria divulgação desta expressão artística. Não poderia estar mais feliz por fazer parte de uma iniciativa tão importante para o nosso enriquecimento cultural e artístico dentro do panorama da Pop Art em Portugal. A principal razão que me levou de imediato a aceitar este convite para embaixadora, prende-se precisamente por abraçar maioritariamente as premissas da Pop Art, e validá-las nas minhas criações sobre um discurso que é encetado para o campo da Neo Pop Art.

“Estudando a arte de Lichtenstein cada vez a tenho vindo a sentir mais feminina, inteligente e sensível. Quase que nos revemos nela e queremos ser, num tom mais romântico, parte integrante dela”

Na sua perspetiva, o que é que este campo artístico tem de mais interessante para os artistas explorarem?
No meu caso, sempre gostei da estética e da força que apenas uma imagem ou palavra pode ter. A Pop Art liberta-nos nesse sentido.

E para o público?
A Pop Art é um estilo. A minha missão é fazer com que o público, no momento em que se defronta com uma obra minha, não viva por momentos a sua realidade, mas sinta e se eleve para um campo por mim reproduzido. E é nesse imaginário que coabita uma demagogia, um simbolismo ou alguma coisa de Rueffa.

Rueffa junto à obra “Três Fridas”, inspirada em Frida Kahlo [DR]
O ano passado, para assinalar os 110 anos do nascimento da pintora mexicana Frida Kahlo, fez uma obra a que chamou “Três Fridas”. Frida Khalo é um caso paradigmático da artista que se tornou num ícone pop. Na sua opinião, a que é que isso se deve?
Frida Kahlo mais do que um caso paradigmático foi uma artista do seu tempo e que permanece no nosso. A obra “Três Fridas” foi um dos trabalhos mais intensos que realizei até hoje, talvez pela responsabilidade autoimposta em trazer para esta obra toda a força, luta e dor de Frida Kahlo. A exploração da sua imagem massificada tornou-a um ícone, até comercial. Mas, Frida Kahlo vive num lugar especial, que não é Pop. É mais do que isso.

“Em Londres, pensaram sempre que o artista da exposição era um homem e não eu”

Que perspetiva a Pop Art dá do feminino?
A Pop Art, na minha opinião, compõe, direciona e emociona. É nela que me revejo, e me expresso. Estudando a arte do Lichtenstein cada vez a tenho vindo a sentir mais feminina, inteligente e sensível. Quase que nos revemos nela e queremos ser, num tom mais romântico, parte integrante dela.

Qual é a sua artista feminina preferida da Pop Art?
Ana Hatherly e Barbara Kruger. Ambas sugerem uma linguagem Pop no que respeita à imagem, design e às próprias questões estéticas deste movimento. Em períodos da arte diferentes estas artistas extravasaram, como por exemplo em questões técnicas. No caso da artista portuguesa, Ana Hatherly, aprecio imenso as colagens de cartazes do Pós 25 Abril de 1974, que em simultâneo foram mensagens de intervenção e rutura. Barbara Kruger apesar de ser artista conceptual, considero que o seu trabalho aborda um lado estético Pop que lhe é muito peculiar.

O seu nome está numa exposição coletiva, na galeria Krause , em Nova Iorque. Como surgiu esta oportunidade e que importância tem para a sua carreira?
A Galeria Krause, situada em Manhattan, centro de Nova Iorque, realiza todos os anos uma exposição onde apresenta uma seleção de obras de vários artistas de renome internacional. A convite da galeria integrei a exposição coletiva ‘Emerging to Established’ com três obras, incluindo as luvas de homenagem a Basquiat, uma continuação da coleção ‘Selfie Dollar’. Apesar de ter realizado várias exposições na Europa, esta é a primeira vez que exponho fora do velho continente, tornando o meu trabalho ainda mais internacional. A partir desta oportunidade, seguramente, que irão surgir outras.

Sente que o mundo da arte é sexista? É difícil uma mulher impor o seu talento?
O mundo da arte é uma espécie de arena, de difícil conquista. A história da arte revela-nos isto. E essa pergunta também. A arte não é sexista. Mas está relacionada a uma certa dureza. A um domínio de materiais. A uma verticalidade. Mas talento é talento, desde que seja devidamente reconhecido, pouco importa se é mulher ou homem. O que devemos ter sempre em conta é a obra em si.

Há diferenças, nessa matéria, entre Portugal e os grandes centros do circuito mundial da arte?
Depende de muitos fatores.

Há um traço feminino na arte da Rueffa?
Não sei se consigo responder a essa pergunta. O que é hoje em dia ser feminino? Ou um traço feminino? Na verdade, até considero que o meu trabalho é de difícil execução técnica, com materiais que raramente são manuseados por mulheres, pelo menos nas escalas em que os produzo, o que faz com que até possa ter uma componente masculina. Curiosamente, em Londres, [em 2015] pensaram sempre que o artista da exposição era um homem e não eu.

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