Saffiyah Khan: a nova mulher a fazer frente ao racismo

Até há uma semana, Saffiyah Khan era, provavelmente, uma ilustre desconhecida, mas a sua atitude perante o grupo de extrema-direita britânico English Defence League (EDL), que ficou imortalizada na fotografia tirada por Joe Giddens veio mudar isso.

No passado sábado, 8 de abril, o EDL organizou um protesto na cidade inglesa de Birmingham contra os últimos atentados terroristas. A manifestação tomou um tom mais agressivo quando uma mulher usando um hijab chamou os manifestantes de islamofóbicos e se viu cercada por 25 elementos, que a acusaram de violar o minuto de silêncio em memória das vítimas do atentado. A incitação contra a comunidade muçulmana faz parte do historial deste grupo de extrema-direita, criado em 2009, e as autoridades já alertaram publicamente para o facto de as suas atividades acabarem por reforçar o radicalismo islâmico que dizem querer combater.

Quando Saffiyah Khan, também ela muçulmana, viu o grupo a rodear a mulher decidiu intervir e confrontá-lo.

“Ela estava cercada… Eu avancei e identifiquei-me como apoiante dela e confrontei-os”, disse à BBC.

Nessa altura o grupo passou a concentrar atenções em Saffiyah Khan, com o seu líder, Ian Crossland, a ameaçá-la. “Ele apontou o dedo para a minha cara. Foi muito agressivo. Um agente da polícia afastou-o. Eu não iria responder de forma violenta.”

Em vez disso, Saffiyah Khanm optou por sorrir e a imagem que capta esse momento tem corrido mundo, com milhares de partilhas nas redes sociais.

A deputada trabalhista Jess Phillips, de Birmingham, foi uma das personalidades que partilhou a fotografia no seu Twitter, com a pergunta: “Quem tem o poder aqui, uma mulher de Birmingham ou o homem da EDL, que migrou para nossa cidade por um dia e não se conseguiu integrar?”

jesse philips

Esta não é, contudo, a primeira imagem de uma mulher sozinha a enfrentar grupos de extrema-direita. Há cerca de um ano, Tess Asplund colocou-se no caminho de uma marcha de neonazis na Suécia e enfrentou os homens de cabeça rapada.

Em julho de 2016, a ativista pelos direitos dos negros nos Estados Unidos da América, Ieshia Evans avançou sozinha em direção à polícia de choque durante uma manifestação contra o abuso do uso da força por parte das autoridades em relação à comunidade afro-americana.

O protesto realizou-se em frente ao departamento policial de Baton Rouge, no estado do Louisiana, e a imagem mostra Ieshia Evans a estender as mãos para que os agentes a prendam.


Na fotogaleria, em cima, pode ver mais exemplos de imagens semelhantes, com mulheres como protagonistas.


Viral antes das redes sociais
Apesar de a internet ajudar a uma maior divulgação deste tipo de imagens, tornando-as rapidamente em fenómenos globais, elas estão longe de ser um ícone dos tempos atuais.

Em 1985, ficou célebre a fotografia ‘A senhora da mala’ de Hans Runesson. A imagem imortaliza o momento em que uma mulher sueca, descendente de judeus polacos que foram enviados para um campo de concentração, agride com a mala um dos manifestantes do grupo nazi.

Anos antes, em 1967, Marc Riboud cristalizou os protestos contra a guerra do Vietname, na fotografia intitulada “O último confronto: A rapariga e a baioneta”. A rapariga em causa é Jan Rose Kasmir, na altura uma jovem estudante de liceu, que confrontou as autoridades, de armas apontadas, num protesto que juntou, em frente ao Pentágono, milhares de pessoas que se opunham à guerra do Vietname.

O facto de não existir internet e redes sociais, na altura, não impediu que a fotografia se tornasse “viral” e num símbolo mundial do chamado flower power, em que as flores surgem associadas aos movimentos pacifistas.