Saiba como motivar os seus filhos para o estudo

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É tempo de avaliar os resultados do primeiro trimestre escolar e perceber se há arestas a limar no que toca ao estudo. O seu filho sente-se motivado, ou nota nele pouco interesse pela escola? É proativo e responsável, ou tem de o lembrar constantemente que na semana seguinte terá dois testes? Como deve proceder para lhe dar aquele “empurrãozinho” para melhorar as notas?

Ana Manta, psicóloga, mãe de três filhos e autora dos livros ‘Motivar os filhos para o estudo’ e ‘Filho, presta atenção!’, da editora Clube do Autor, beneficiou da sua própria experiência enquanto mãe e educadora para ajudar outros pais a lidar com as complicações diárias que o estudo (ou a falta dele) trazem à rotina familiar. Segundo a especialista, a chave está em saber cativar a atenção e a curiosidade da criança consoante a sua idade, tornando divertida a aprendizagem.

“Ao longo do percurso escolar a criança vai mudando de interesses e de gostos. Para uma criança no primeiro ciclo uma boa forma de motivar é através de jogos e desafios, por exemplo, trabalhando conceitos de gramática através de sopa de letras (use dois pacotes de massa sopa de letras, uma caixa de plástico e vários cartões com conceitos gramaticais). Os pais devem mostrar sempre aos filhos que a escola é uma coisa boa, que pode ser divertido. Estabelecer rotinas é fundamental para a adaptação, para uma criança desta idade se sentir segura e tranquila deve saber o que se vai passar a seguir.”

No que diz respeito aos mais velhos, podem ser propostos outro tipo de desafios mais exigentes. “No livro ‘Filho, presta atenção!’ existe um capítulo destinado a filhos adolescentes. Mas o mais importante para motivar os filhos em qualquer idade é confiar neles e transmitir-lhes essa confiança.”


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Para a psicóloga, o apoio e incentivo dos pais é essencial para o sucesso escolar, mas há que saber traçar a linha entre o apoio e interesse natural pelo percurso escolar da pressão para os bons resultados que alguns pais, consciente ou inconscientemente, transmitem aos filhos e que, segundo Ana, é contraproducente.

“A criança consegue distinguir bem as coisas: uma coisa é o interesse, que é normal e saudável; outra é a pressão pelos resultados. Nenhum tipo de pressão é positivo e nenhuma criança consegue ter bons resultados neste tipo de ambiente.”

Rita Sousa, mãe de Lourenço, 7 anos, e de Pedro, 12 anos, reconhece que por vezes se excede na sua tentativa de motivar os filhos para os bons resultados. “Tento acompanhar ambos com afinco, mais o Pedro do que o Lourenço, claro, que ainda está no início. E sei que por vezes exagero na forma como exijo deles sempre mais e melhor. O meu objetivo é o mais nobre, tentar que aprendam que tudo se consegue com trabalho, uma lição para a vida, mas por vezes penso se não os estarei a pressionar demasiado.”

Palavras mágicas

Motivar uma criança ou adolescente pode ser tão simples quanto proferir uma única palavra ou frase. Ana Manta refere que “Deve dizer-se sempre, todos os dias, que os amamos e que o que mais queremos é que sejam felizes. O incentivo tem de ser natural, qualquer criança aprende muito melhor e tem melhores resultados se se sentir segura e amada.” Rita Sousa é exemplo disto, e garante que não se esquece de lembrar aos filhos constantemente que os adora, quer tenham boas ou más notas. Quando as avaliações superam as expetativas, Rita prefere recompensar o sucesso com saídas em família ou outro tipo de atividades divertidas, em vez de bens materiais.

“A minha mãe dava-me sempre um bom presente no final de cada ano letivo, se as notas estivessem acima da média, o que sempre aconteceu. Eu posso até dar uma lembrança a cada um, mas nunca a associo ao final do ano nem às boas notas.”

Ana Manta corrobora: “Devemos incentivar sim, com elogios e com pequenos gestos diários, nunca com presentes materiais. A criança não deve sentir que é «paga» para ter boas notas. Uma boa forma de recompensar é ler os testes com eles, perceber o que correu bem, o que correu menos bem. Reconhecer com pequenos privilégios, uma sobremesa especial, uma palavra de apreço, um recadinho na lancheira, enfim, com mimo…”, explica a especialista.

TPCs, sim ou não?

Habitualmente, o momento mais conflituoso do dia em muitas casas acaba por ser a realização dos TPCs, que muitos professores optam por enviar apenas à sexta-feira. Muitos pais insurgem-se atualmente contra estes exercícios, alegando que são desnecessários e diminuem ainda mais o tempo de qualidade em família, mas Ana Manta acredita que os TPC não têm de ser o “bicho-papão”.

“Os TPC, com conta peso e medida, são benéficos, fomentam a responsabilidade e são uma forma de os pais terem conhecimento do que os filhos estão a aprender na escola. O ideal é que os TPC não ultrapassem os 30 minutos por dia. Penso que os pais devem incitar a realização dos mesmos, já que deve haver sintonia entre a escola e a família.”

Rita Sousa considera que em alguns casos os TPC podem sim ajudar a consolidar matéria, mas tem noção de que os filhos passam já grande parte do seu dia nas instalações escolares, o que torna preciosos todos os minutos em casa. “Sim, por vezes preferia que não trouxessem TPCs, já que a sobrecarga horária é uma realidade. Tento desdramatizar e não lhes dar a entender que não valorizo os TPC, para lhes incutir esse sentido de dever, e normalmente o que acontece é que acabo por ajudá-los, para que os terminem mais depressa e possamos fazer outra coisa agradável a seguir, o que também os motiva. A verdade é que também eu fazia os meus trabalhos de casa responsavelmente, e acredito que assim seja o correto.” Ana Manta assegura que deve existir um tempo estipulado para o estudo diário em casa, nada de muito rígido, mas regular, sem nunca esquecer a importância da brincadeira. “Meia hora por dia é o suficiente para mostrar aos pais o que se aprendeu, mas claro que a partir do segundo ciclo esse tempo deve aumentar. No entanto, nunca devemos esquecer que as crianças precisam de brincar e que a brincar se aprende muita coisa.” A psicóloga aconselha também atividades extracurriculares divertidas que façam a criança feliz e que a ajudem a descontrair. “A música é das atividades que mais ajudam na concentração. A dança também ajuda a trabalhar o ritmo e a concentração, mas cada família saberá escolher tendo sempre em conta a personalidade dos filhos.”

Desdramatizar os maus resultados

Rita Sousa considera-se felizarda por ter dois filhos que, até agora, têm demonstrado interesse pela escola e alcançam bons resultados. No entanto, sabe que se assim não fosse, não deixaria de lhes prestar todo o seu apoio do mesmo modo, para que não se sentissem “sozinhos”. “Acho que é fundamental que eles percebam que uma má nota não compromete o valor do esforço, que o essencial é não baixar os braços, e que eu estarei lá para os ajudar a superar esse percalço, no dia em que acontecer.” Ana Manta reforça que “Nenhuma criança gosta de ter maus resultados, e é quando os tem que mais precisa de um pouco de colo, de um abraço forte… Se sentirmos que o seu esforço não foi suficiente, aí é importante refletir em conjunto sobre o que falhou para que na próxima vez possa correr melhor. O mais importante é a criança sentir que não está só no caminho, tem o apoio dos seus pais.”

E porque é que há crianças que naturalmente têm inclinação para o estudo, e outras que fogem dos livros como o diabo da cruz? A especialista explica: “Cada criança é única, para além do seu património genético e da educação, tem algo que é só seu: o seu temperamento. Cada uma delas tem a sua forma de se relacionar com o estudo, no entanto, o nosso dever como adultos e responsáveis pela sua educação é incentivar, levá-los a perceber que a escola é uma coisa boa e que é o sítio certo para aprender e descobrir coisas novas.”