Procura-se cavalheiro educado, honrado e cortês, com instrução e rendimentos para constituir família séria e honrada.
Este bem podia ser um anúncio para encontrar um homem casadoiro, mas dificilmente estaria publicado numa página de jornal dos nossos dias. Muito menos, parece estar na idealização que as mulheres de hoje em dia fazem do parceiro.
Graças à parte, o mundo em que elas procuravam um homem para subir ao altar que lhes garantisse o sustento do lar e dos filhos está a ficar mais pequeno. Quem o diz é a investigadora e economista Melissa Kearney e o co-autor, também economista, Riley Wilson, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos da América. Num estudo intitulado Ganhos Masculinos, Homens Casadoiros e Fertilidade Não Marital.
Os professores verificaram e traçaram evolutivamente o universo amoroso dos homens sem instrução universitária, com profissões nas indústrias pesadas e de baixos rendimentos (blue collors) durante décadas, e desde o século passado. O foco do trabalho centrou-se na população residente nos estados norte-americanos que assistiram a um pico económico de incremento de empregos e salários que se verificou nas indústrias da extração de petróleo e gás: Texas, Oklahoma, Califórnia e Pensilvânia.
Olhando para os dados, Kearney conta que os resultados a que chega agora, por comparação aos do século passado, são “soberbos”.
Em declarações ao jornal Washington Post, a investigadora afirma que “a relação dos filhos e do casamento a que se assistia nas décadas de 70 e 80 já não existe”.
Atualmente, Melissa Kearney e Riley Wilson concluíram que o número de nascimento de bebés fruto de pais casados e solteiros tinha aumentado em igual proporção, em períodos e zonas de quebra e aumento de rendimentos.
“Em 2014, mais de 40% de todos os nascimentos nos Estados Unidos foram fruto de mãe solteira, uma taxa que subiu aos 62% quando comparada com o universo de mães não escolarizadas. Uma das principais conclusões que decorre do facto das mulheres menos habilitadas a nível escolar estarem a escolher a maternidade fora do casamento deve-se às fracas perspetivas económicas dos seus parceiros masculinos. A ideia é que a mudança das estruturas do mercado de trabalho e das condições económicas afetaram negativamente as perspetivas económicas de homens menos educados, tornando-os menos “casadoiros” na perspetiva das mulheres com quem eles se relacionam sexualmente”, consta no documento da investigação.
Mais filhos, mas menos casamento. Dinheiro já não importa tanto para elas
Para conferir a teoria, a dupla de economistas da Universidade de Maryland tentou inverter a hipótese em estudo, procurando perceber se a uma melhoria das perspetivas de rendimentos das classes mais baixas e pouco escolarizadas estariam associados os aumentos do casamento e dos filhos no seio do casal.
Para tal, testaram a aplicação desta hipótese da formação da família entre 1997 e 2012 em micro-regiões do Censos, conciliando-as com um aumento de trabalho e salários nas indústrias da extração do gás natural.
As conclusões indicam que não há “uma mudança em direção ao casamento como resposta ao aumento potencial dos salários dos homens que trabalham naqueles setores de atividade pesados. Porém, os nascimentos no seio da conjugalidade e os não-matrimoniais aumentam significativamente”, afirmam os autores do estudo.
Kearney e Wilson compararam ainda o incremento de rendimentos nos anos 2000 face ao boom de carvão dos Apalaches, registado nas décadas de 70 e 80.
A dupla de investigadores calculou que por cada mil dólares (894 euros) de aumento per capita se verificava um aumento de seis filhos por cada mil mulheres. Cerca de metade deste aumento de bebés eram fruto de relações matrimoniais estabelecidas.
No século passado, associado a um aumento de 10% dos rendimentos estava uma diminuição de 9,6% de mulheres, entre os 15 e os 34 anos, solteiras e uma redução de 25% de crianças fruto de mães solteiras.
Ora, historicamente, os baby booms que tinham lugar na sequência do incremento dos rendimentos familiares aconteciam sobretudo dentro da esfera do casal. Logo, a prosperidade económica nas classes profissionais mais baixas surgia intimamente ligada a uma redução do número de crianças fruto de pais solteiros.
Posto isto, conclui a dupla de economistas, as mulheres norte-americanas já não procuram – com o mesmo afã – o macho que sustente o lar. Alterações que, defendem os especialistas, podem decorrer da alteração dos valores sociais, mas também das mudanças legislativas.
A economia encaminhou este vasto grupo de trabalhadores para rendimentos mais magros – após terem vivido com maior desafogo -, e tal não impediu a mudança demográfica no que diz respeito aos filhos dentro do casamento.
Na verdade, os homens norte-americanos estão a casar-se menos e a maternidade fora do casamento é hoje considerada normal.
Maternidade fora do casamento já suplanta a do casal, em Portugal
Em Portugal, por exemplo, o número de bebés que nasceu nestas circunstâncias (50,7%) ultrapassou os que chegaram no seio do casal (41,3%), em 2015. Uma tendência que registou um aumento no ano seguinte, sendo de destacar que, entre 2010 e 2016, duplicou o número de bebés nascidos de pais que não vivem juntos: 14862 crianças, no ano passado.
Recorde o que está a ser discutido na AR para promover a natalidade
De volta aos EUA e aos economistas Kearney e Wilson, “como os nascimentos não-conjugais se tornam cada vez mais comuns, os indivíduos são mais propensos a responder ao aumento do rendimento com o aumento da fertilidade”. “Mas não necessariamente com o casamento”, escrevem os autores, citados pelo site de informação económica Bloomberg.
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