As teses que defenderam o uso de saltos altos como forma de as mulheres se emanciparem e conquistarem o respeito dos seus pares do sexo masculino estão a cair em desuso no Ocidente. Mas a Oriente, mais concretamente no Japão, elas têm estado a ganhar um novo fôlego.
Exemplo disso é a criação da Associação Japonesa dos Saltos Altos (AJSA), que lidera um movimento para tornar esse tipo de calçado num símbolo de empoderamento da mulher na sociedade nipónica, uma das mais desequilibradas em igualdade de género, no ranking dos países desenvolvidos.
A associação defende que as mulheres devem trocar os sapatos de salto raso pelos que acrescentam alguns centímetros à sua altura, porque, segundo dizem, não só permite aumentar a autoconfiança, como melhorar a postura.
Para que esse caminho se faça sem desequilíbrios, a AJSA disponibiliza aulas às mulheres que queiram aprender a andar corretamente em cima de saltos altos. Um curso de seis meses pode custar mais de três mil e quinhentos euros, mas o valor não parece ter afastado as interessadas. Segundo refere o The Telegraph, já completaram o curso quatro mil mulheres e há várias escolas do género espalhadas pelo país.
“Muitas mulheres são demasiado tímidas para se permitirem expressar. Na cultura japonesa, não se espera ; que as mulheres se afirmem e se coloquem em primeiro lugar”, refere ao jornal britânico a diretora da organização sediada em Tóquio, “Madame” Yumiko.
Contudo, esta visão da emancipação feminina também encontra alguma oposição. Para Mitsuko Shimomura, uma reconhecida comentadora social no país, não existe qualquer relação entre uma coisa e outra.
Ocidente luta contra os saltos
A posição de Mitsuko Shimomura converge com a tendência que se verifica, neste momento, no Ocidente e que segue em sentido contrário à japonesa. A luta recente tem sido pelo fim da obrigatoriedade de as mulheres terem de usar saltos altos.
No Reino Unido, Nicola Thorp, uma atriz de 27 anos e rececionista em part-time, é o rosto de uma campanha para erradicar aquilo que é considerado um “dress code” sexista e que permite aos empregadores obrigar as mulheres a usar saltos altos no trabalho. Questões de saúde também entram nesta reivindicação, com especialistas a defenderem que o uso continuado de calçado com essas características é prejudicial às mulheres.
Porém não é só no campo laboral que ele é imposto. Associado a uma imagem de glamour, os sapatos de salto alto podem definir, por exemplo, quem tem direito ou não a entrar no Festival de Cannes. Em 2015, várias mulheres, e algumas com problemas de saúde, foram barradas à porta por estarem a usar sapatos rasos. A decisão gerou polémica e deu que falar. Por isso, este ano o assunto não foi esquecido e atrizes como Julia Roberts e Kristen Stewart, percorreram a passadeira vermelha descalças, usando a ironia para marcar uma posição contra as rígidas regras de Cannes.