Samantha Power: “As mulheres estão mais disponíveis para aceitar a vulnerabilidade de concorrer a presidente”

Samantha Power
Fotografia de Darren Ornitz/Reuters

A ex-embaixadora dos Estados Unidos da América na ONU, Samantha Power, foi, durante esse cargo, a única mulher no Conselho de Segurança da organização. Esta tarde esteve em Lisboa para participar num debate, na conferência, A Mulher, Hoje, a decorrer na Aula Magna, em Lisboa e organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Pouco antes de participar no segundo debate da tarde, sobre a perspetiva das condições das mulheres no mundo, com a moderação da jornalista política e colunista do jornal Huffington Post, Ghida Fakry, e Freida Pinto, atriz indiana que se destacou no filme Quem Quer ser Milionário, Samantha Power falou, em declarações ao Delas.pt, sobre a vaga de mulheres que está a entrar na política americana e o que prevê para a próxima corrida à Casa Branca.

Com tantas mulheres eleitas para o Congresso americano e algumas a anunciarem a intenção de se candidatarem às primárias para as próximas eleições presidenciais, o que podemos esperar na próxima corrida para a Casa Branca, quão longe essas candidaturas podem chegar?

É uma grande evolução. Temos mais mulheres a competir nas primárias democratas americanas do que já competiram na história das eleições presidenciais do país. Isso é histórico. Temos mais mulheres representadas no Congresso do que alguma vez tivemos. Uma das razões porque penso que isso é importante é que espero que coloquem a política num lugar mais humano, que se preocupe mais com a dignidade das crianças, das mulheres, dos homens, dos seres humanos, em geral. A outra é que para as jovens raparigas ver cinco mulheres candidatas à presidência muda a sua perspetiva daquilo que podem realizar e a que podem aspirar. Mas no fim não será se se é homem ou mulher o fator que vai ditar a vitória, é o facto de se conseguir apresentar uma visão que consiga derrotar [Donald] Trump, antes de tudo, porque estamos todas unidas nisso, e também que mostre que a pessoa que está a concorrer sabe porque o está a fazer. Não se pode concorrer para ser uma mulher presidente, concorre-se e procura-se convencer as pessoas de que há razões especificas para que o candidato em causa seja a pessoa certa para o cargo. Por isso, acho que o processo das eleições primárias, que demora mais de um ano inteiro para apurar quem vai ser o candidato final, acaba por ser muito útil porque fica-se a saber se os candidatos sabem porque estão a concorrer. Hillary Clinton foi uma líder incrível mas não foi capaz de convencer as pessoas.

Acha que as mulheres agora estão mais preparadas para isso?

Penso que estão mais disponíveis para aceitar a vulnerabilidade da exposição de concorrer para presidente e sabem o que as espera. Já vimos as mulheres a serem dilaceradas de uma forma que não vemos nos homens, o que é muito injusto. Mas acho que o que elas estão a mostrar é: como é que se podem queixar dessa diferença de tratamento se nem sequer concorrem?

Que importância tem para si participar numa conferência sobre a mulher, em Portugal?

Estou maravilhada por participar num evento destes e impressionada com a organização da fundação não só em torno desta conferência, mas por há 10 anos, com a crise a começar, ter investido na ideia de democracia, em trabalhar os dados da democracia, investir em juntar grandes camadas da população. Nunca devemos dar por garantido o que faz a democracia funcionar, o que custa criar a equidade. Só conheci o trabalho da fundação nos últimos meses, mas acho que é realmente importante e fico contente de trazerem estudantes aqui, porque fundamentalmente são os jovens que vão decidir o futuro da democracia.

Como perspetiva o futuro das mulheres daqui a 30 anos, por exemplo?

A minha maior esperança é que possamos acabar com o facto horrível de haver 6 milhões de raparigas que não têm acesso à educação, no mundo. Para mim, a existir uma linha de base de investimento que tenhamos de fazer enquanto comunidade global, terá de ser na educação. E como sabemos, quando educamos as raparigas elas não são mães tão cedo, fazem parte da força de trabalho, as sociedades são mais pacíficas. Temos todas as razões para fazer esse investimento. Certamente já teremos, nessa altura, uma mulher presidente nos Estados Unidos da América e, possivelmente, uma primeira-ministra, em Portugal. Não consigo imaginar que não tenhamos isso, as mulheres têm vindo a quebrar o chamado glass ceiling em diferentes campos. Uma coisa boa do Trump – e não costumo começar uma frase dessa maneira – é que ele tornou cargos que anteriormente não estavam ao alcance das pessoas parecerem mais acessíveis. Ou seja, as pessoas pensam que se ele pode ser presidente, elas podem candidatar-se à direção de uma escola, por exemplo. As pessoas que estão descontentes com o que ele está a fazer e querem fazer diferente podem avançar.

AT e CB

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