Crime pela não partilha de tarefas domésticas. A ideia da ecologista Sandrine Rousseau

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Sandrine Rousseau [Fotografia: JOEL SAGET / AFP]

Gostaria que existisse até a possibilidade do crime da não partilha de tarefas domésticas, porque acho que a esfera privada é política”. A declaração é de Sandrine Rousseau, a ex-candidata às primárias do partido ecologista francês.

Para a economista e política, de 50 anos, a questão é clara: “Enquanto não dermos às mulheres os meios para obter verdadeiramente igualdade na partilha, não vamos conseguir”. As declarações foram proferidas numa entrevista realizada esta semana ao site feminista francês MadMoizelle.

Crê Sandrine Rousseau que esta é a única forma de interromper um ciclo que mal evolui. “As mulheres estão a reduzir a parcela de tarefas domésticas que cumprem, mas os homens não aumentam as suas. Desde os anos 70, eles aumentaram a participação na divisão das tarefas em 14 minutos“, contextualizou a política.

Aliás, de acordo com um estudo de 2020 do Observatório francês das Desigualdades, 80% das mulheres cozinhavam ou limpavam por, pelo menos, uma hora todos os dias, em comparação com 36% dos homens. E desde 2003, ano de arranque das pesquisas, a evolução da partilha de tarefas dentro de portas aponta para uma estagnação.

Uma ideia que, salvaguarda a ambientalista, é um “desejo pessoal” e que não consta do programa do candidato presidencial de seu partido, Yannick Jadot, e de quem se afastou recentemente, tendo sido afastada da equipa dos Ecologistas na corrida ao Eliseu. Porém, vinca que só pela criminalização da igualdade de género é possível “reconhecer a violência sexual dentro dos casais”.

Portugal: Mulheres jovens trabalham três vezes mais em casa do que homens

Por cá e no caso dos jovens casais, a distribuição das tarefas domésticas e relacionadas com o cuidado e educação dos filhos é desigual.

Segundo o estudo, Os jovens em Portugal hoje: Quem são, o que pensam e o que sentem, um retrato da Fundação Francisco Manuel dos Santos, divulgado em novembro, as mulheres consideram que fazem três vezes mais trabalho não pago do que os companheiros.

“Isso é um sério problema”, sublinha Laura Sagnier, justificando que, por muito que legalmente haja uma igualdade de oportunidades, se as mulheres forem sobrecarregadas em casa, comparativamente aos homens, é difícil que essa igualdade se verifique noutros contextos.

Na educação e figura de referência, para oito em cada dez jovens inquiridos (80%), a mãe foi o elemento fundamental na sua educação, tendo-o sido mais vezes em regime solitário (46%) do que em parceria com o pai (34%). Para os 20 % de jovens cuja mãe não desempenhou um papel central na sua educação, as alternativas mais habituais são: o pai (7%) ou uma avó (6%).