São celebridades, são mães e estão a acabar com a culpa da maternidade

O pós-parto, as depressões, as mudanças no corpo, as presenças e as ausências, a amamentação e alimentação dos bebés … Um número infinito de contrariedades, imposições e complicações que as mulheres vivem e que nem sempre recolhem a compreensão da sociedade. Muitas vezes, elas não podem contar com o apoio de quem, incrivelmente, passou pelo mesmo que elas.

A combater e a deitar por terra a maravilha absoluta e inquestionável da procriação, cada vez mais famosas deixam de lado os títulos simples de infinita alegria e satisfação porque acabaram de ser mães e revelam que, a par da felicidade – que existe – também elas sofrem as agruras de uma nova condição: a de ter filhos.

A ajudar – felizmente – ao fim do politicamente correto, estas mulheres, celebridades em todo o mundo, trocam a ocultação dos problemas pela divulgação dos reveses e recebem tantos aplausos como críticas. Mas não se importam. Para o bem de muitas mulheres.

A tenista Serena Williams, 36 anos e mãe há quase um, tem sido uma das vozes mais sonoras desta batalha nos últimos tempos. A querer prosseguir com a sua carreira de alta competição e conciliá-la com a maternidade, a norte-americana voltou à sua conta de Instagram para falar, agora, da culpa que sente e dizer que “não é boa mãe”.

Um desabafo que chega depois de ter perdido e de ter anunciado a sua retirada no Rogers Cup, no Canadá. “A semana passada não foi fácil para mim. Estava a lidar com algumas questões pessoais difíceis. Principalmente, senti que não era uma boa mãe”, escreveu na madrugada de terça, 7 de agosto. E revelou: “Li vários artigos que diziam que as emoções do pós-parto podem durar até três anos, se não forem resolvidas. Gosto mais de comunicação. Ao conversar com a minha mãe, as minhas irmãs, os meus amigos, fiquei a saber que os meus sentimentos são bastante comuns. É completamente normal sentir que não estou a fazer o suficiente pela minha bebé (Olympia)”.

Serena Williams: “Não sei o que fazer com um bebé”

É por considerar que “a maioria das mães lida com a mesma realidade”, aí está Serena – na sua conta de Instagram – para dizer: “Se estão a ter um mau dia ou uma má semana, tudo bem. Eu também!”

E quem não se lembra de Adele, a cantora britânica que desafiou os cânones da absoluta beleza da maternidade quando deu uma entrevista à Vanity Fair, em outubro de 2016? “Tive uma depressão pós-parto muito complicada depois de ter tido o meu filho e isso deixou-me assustada”, recordou a cantora, quatro anos depois de ter dado à luz.

Pressão e culpa… e o internamento de Pink

Pink tem ajudado a deitar por terra mitos da maternidade: seja nas redes sociais, seja em ocasiões públicas em que tomou a palavra. Mas nem sempre tudo corre de feição. Em tournée pela Austrália, a cantora gerou polémica por suspender dois concertos, tendo sido depois flagrada por um fotógrafo na praia, onde estava com o seu filho. Ela garantiu, nas suas redes sociais, não estar a tirar partido de ninguém e justificou que estava em tratamentos. Esta segunda-feira, 6 de agosto, acabou por ser internada por, alegadamente, ter sofrido uma desidratação. Há, contudo, quem avance um quadro clínico mais grave e fale em vírus.

Recentemente, o programa Entertainment Today foi o palco que Pink escolheu para revelar que colocou “demasiada pressão” em si própria”. “Todos o fazemos, é assim que todas somos mães agora”. Para acabar de vez com a culpa, a artista diz estar a transformá-la em algo positivo, promovendo – considera – a oportunidade para dar um bom exemplo aos filhos Willow e Jameson. “Quero poder seguir a minha paixão, trabalhar para conseguir os meus objetivos e quero que meus filhos vejam como é ter uma mãe que lidera. Há sempre uma escolha … é um equilíbrio”.

“Coloquei demasiada pressão em mim. Todos o fazemos, é assim que todas somos mães agora“, diz Pink

É por saber que a conciliação é difícil e que nem sempre há compreensão no mundo que a atriz Jessica Alba decidiu criar uma empresa de aconselhamento a mulheres que vivem nestas circunstâncias.

Na Honest Company (Companhia da Honestidade, em tradução literal), há conselhos para as mães que querem arrancar com o seu negócio. Esta mãe de três (Honor, 10 anos, Haven, sete, e Hayes, de sete meses), pede que as mulheres giram “a culpa da maternidade” e que a afastem dos pensamentos.

“Não fique sobrecarregada a tentar fazer tudo de uma vez. Esquematize o que pode fazer agora, mesmo que tal possa levar mais tempo”, refere. E pede ainda: “Não seja dura consigo mesma. Fazer o melhor para estar presente é o que é importante. Arranje tempo para se alimentar de forma saudável e permanecer ativa, durma, saia uma noite e também faça uma noitada com as amigas, beba um pouco de vinho.”

O corpo e a amamentação

Em jeito de antevisão, a edição de setembro da revista Vogue norte-americana começou já a mostrar o que se pode esperar da entrevista de Beyoncé, dois meses depois de ter sido mãe de gémeos. As expressões usadas para descrever os excertos falam em “refrescante honestidade” por parte da cantora, segundo o site Motherly.

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Depois da cesariana, tudo internamente parecia diferente. Tinha sido uma grande cirurgia. Alguns dos órgãos do corpo foram deslocados temporariamente e, em casos raros, removidos temporariamente durante o parto. Não tenho certeza se todos entendem isso. Precisava de tempo para me curar, para recuperar”, referiu.

Já sobre o corpo, mundialmente admirado, a cantora revelou que tinha “99 quilos no dia em que” deu “à luz Rumi e Sir” e que, desta vez, aceitou o corpo de forma diferente face a 2012, quando nasceu Blue Ivy. “Depois do nascimento da minha primeira filha, acreditei no que a sociedade dizia sobre o aspeto do meu corpo. Pressionei-me para perder todo o peso que ganhei na gravidez em três meses e agendei uma pequena turnê para garantir que cumpriria isso mesmo”.

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“Olhando para trás, foi uma loucura. Ainda estava a amamentar quando fiz os espetáculos em 2012. Depois dos gémeos, olhei para as coisas de forma muito diferente. Até agora, os meus braços, ombros, mamas e coxas estão mais cheios. Tenho uma pequena barriga de mãe e não tenho pressa em livrar-me dela. Acho que é real”, afirma.

“Até agora, os meus braços, ombros, mamas e coxas estão mais cheios. Tenho uma pequena barriga de mãe e não tenho pressa em livrar-me dela”, avança Beyoncé

Num outro campeonato, a manequim Chrissy Tiegen, de 30 anos, tem feito parar as redes sociais, recentemente por mostrar o que é um corpo pós-parto. A 20 de maio, três dias depois de ter dado à luz o filho Miles Theodore Stephens, a modelo norte-americana mostrou, sem vergonha, o lado real da maternidade. Com o cabelo apanhado e envergando apenas uma saia comprida, deixava entrever a cueca descartável – peça utilizada por muitas mulheres nos primeiros dias a seguir ao parto.

Por cá, quem não se lembra da polémica – e da libertação – que a cantora e compositora Carolina Deslandes (grávida do terceiro filho) suscitou ao publicar uma fotografia do seu corpo um mês após a segunda cesariana a que foi sujeita para o nascimento do segundo filho, Benjamim? Uma atitude que desafiou as verdades, as alegrias e os corpos imaculados das inúmeras recém-mamãs famosas que, ao longo de anos, têm desfilado nas redes sociais e nos media.

Com toda a calma, Blake Lively, de 30 anos, reverteu os 28 quilos ganhos durante a segunda gravidez e disse, com orgulho, tê-lo feito em 14 meses. A atriz de Gossip Girl reconheceu que foi à custa de muito trabalho, de ginásio e suor, mas que recusou acelerar o regresso à boa forma, como manda o showbizz. “Acontece que não se perdem 28 quilos que se ganharam durante a gravidez, a percorrer simplesmente o Instagram ou a perguntar porque é que não nos parecemos com todas as modelos que surgem de biquíni”, escreveu a atriz, mulher de Ryan Reynolds.

No mês passado, Teigen voltou a pôr a maternidade real sob os holofotes, mas agora devido à amamentação. Desta vez, a polémica instalou-se porque a manequim, casada com John Legend, surge deitada numa espreguiçadeira a amamentar o filho mais novo, Miles, e segura, com a outra mão, um boneco bebé. Toda esta situação diante dos olhos da filha mais velha, Luna, de 2 anos. Críticas e aplausos. De todo o lado houve eco.

 

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