Sarah Mullally: de enfermeira a primeira bispa de Londres

sarah Mullally_ RT

Foi enfermeira, trabalhou para o Serviço Nacional de Saúde britânico e, desde que que começou a trilhar o caminho na religião anglicana, disse adeus à sua profissão civil. Hoje, aos 55 anos, casada e mãe de dois filhos, é eleita a primeira bispa de Londres e será investida, nesse âmbito, membro da Câmara dos Lordes e reitora das capelas reais.

“Tenho de admitir que estou maravilhada e ligeiramente amedrontada por ter sido nomeada” para o cargo, escreveu a bispa, numa nota publicada esta segunda-feira, 18 de dezembro, na página da Diocese de Londres. “Vivi e trabalhei 32 anos em Londres. Por isso, voltar a Londres é regressar a casa”, adiantou. Sarah Mullally era atualmente chefe da igreja de Credition, em Devon, onde exercia funções desde julho de 2015.

Com a nomeação, esta 133ª bispa passa a ocupar a terceira mais alta cadeira da Igreja da Inglaterra – atrás dos Arcebispos de Canterbury e de York – e divide, de alguma forma, a opinião pública. Se a escolha vem responder aos que há anos pedem mais igualdade de oportunidades na Igreja, é ao mesmo tempo uma opção que traz algum desânimo às alas mais conservadoras da sociedade.

A pobreza no feminino e a desigualdade são prioridades da nova bispa

No dia em que comunica que aceita o desafio, Sarah Mullally fala da cidade que a vai receber, olhando para ela como desafiante e “aberta a todos”, mas também como centro de “desigualdade e privação”. “Onde as mulheres estão mais propensas a viver na pobreza e têm menos probabilidades de terem um emprego do que um homem; Onde uma mulher em Tower Hamlets viverá 30 anos com pouca saúde e um homem em Enfield apenas 12 anos. É uma cidade onde o número de pessoas que vivem sozinhas vai aumentar em mais de 50% nos próximos 25 anos”, afirmou. Indo mais além, vinca que se Londres se trata de “uma cidade onde as pessoas se sentem ignoradas, marginalizadas e irritadas”, declarou numa primeira nota antes de ser consagrada na catedral de St Paul, para 2018

16 anos depois de ter sido ordenada sacerdotisa assume uma das funções de maior relevo na Igreja Anglicana e diz que nunca teve várias vidas. Esta a percorrer apenas um único caminho. Sobre isto, referiu: Perguntam-me frequentemente “como é ter tido duas carreiras?” primeiro como enfermeira e como responsável da entidade governamental para tal, e depois como padre e como bispa. Costumo dizer: “Mais do que ter duas carreiras, tenho uma vocação: a de seguir Jesus Cristo, conhecê-lo melhor e dá-lo a conhecer”. Antes. Mullally foi a mais jovem chefe de enfermagem do país e, em 1999, terá sido conselheira do então primeiro-ministro, Tony Blair.

No exercício da função como reitora das capelas reais, a imprensa avança já a possibilidade de esta nova responsável na Igreja de Londres vir a desempenhar um papel de relevo no casamento do Princípe Harry com Meghan Markle, que deverá ser batizada antes de subir ao altar, cerimónia marcada para 19 de maio de 2018.


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Sarah Mullally sucede a Richard Chartres que, segundo recorda o jornal britânico The Guardian, se recusou a ordenar sacerdotes de qualquer género, com o propósito de evitar polémicas.

A bispa ocupa agora esta posição de liderança na Igreja, três anos depois de os anglicanos terem nomeado uma primeira mulher num cargo semelhante, mas não com o mesmo poder. Estávamos em finais de 2014 quando Libby Lane foi consagrada, numa cerimónia que decorreu na catedral de York. Curiosamente, esta investidura teve lugar duas décadas – e muita resistência – depois de Igreja de Inglaterra começar a permitir a entrada das mulheres no sacerdócio (1994).

Ainda hoje, a presença do clérigo feminino na comunidade anglicana mundial está longe de ser consensual. As mulheres já ocupam estes cargos nos Estados Unidos da América, no Canadá, timidamente no Reino Unido, na Austrália e a na Nova Zelândia, mas há muitos países em que tal não acontece, sobretudo nos africanos.

“Jesus não discriminou as mulheres”

Quando Libby Lane foi consagrada, em 2014, o padre, professor na universidade de Coimbra e ensaísta Anselmo Borges explicava à Lusa a importância desta nomeação e explicava as razões de a Igreja Católica arredar o sexo feminino da estrutura da Igreja. “Não sei quando, mas que vamos ver, vamos” a ordenação de mulheres na Igreja católica, afirmou o padre, vincando que “a Igreja católica, aqui no ocidente, é a última grande instituição que continua machista e que discrimina as mulheres. Ora, Jesus não discriminou as mulheres”. Por isso, explicava Anselmo Borges “mais tarde ou mais cedo, esta discriminação na Igreja terá de acabar”.


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Anselmo Borges lembrou, naquela ocasião, as declarações polémicas do cardeal português José Policarpo, que afirmou não ver razões teológicas para a não-ordenação das mulheres, e do cardeal italiano Carlo Maria Martini, morto em agosto de 2012, em defesa do mesmo pressuposto.

Imagem de destaque: Reuters