Second Home: uma casa para trabalhar

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Já ouviu falar da Second Home? Fica na Mercado da Ribeira, tem mais de mil plantas, um bar que, além de cocktails, serve comida com ingredientes comprados aos vizinhos do mercado e tem ainda um ambiente descontraído e internacional. E não, não é um bar, é um espaço de trabalho com ares de segunda casa, onde ‘vivem’ várias empresas e freelancers num open space aberto à criatividade, à partilha e troca de ideias. Ao final do dia, há aulas de yoga, pilates, música ao vivo e também palestras, eventos e muito networking.

À conversa com Lucy Crook, gestora da Second Home Lisboa, ficámos a saber tudo isto e muito mais. De sorriso aberto e espírito aventureiro, recebeu-nos na capital portuguesa que, há cerca de ano e meio, é também a sua segunda casa.

A Second Home nasceu em Londres. Porquê abrir o segundo espaço em Lisboa?
A escolha de Lisboa teve a ver com um conjunto de oportunidades que acabaram reunidas sem esforço. Lisboa está a passar por uma revolução criativa muito interessante. Os dois fundadores da Second Home vieram conhecer as opções e apaixonaram-se não só por este espaço aqui no Mercado da Ribeira, mas também pela energia da cidade.

Na altura em que optaram por Lisboa, havia outras cidades em cima da mesa? Como Berlim ou Barcelona, por exemplo?
Sim. A Second Home existe em Londres desde 2014. Estamos a abrir mais dois novos espaços em Londres e também em Los Angeles. Ou seja, o plano sempre foi expandir o projeto e alargar a comunidade de networking Second Home. Mas por outro lado, há a vontade de não fazer o expectável. Havia outras opções mais óbvias, mas há algo de único em Lisboa…27556843_GI30032017LN000059

A cidade está na moda. Na sua opinião é um fenómeno que está para ficar?

Acredito que as cidades estão sempre em constante mudança, há um fluxo natural que faz com elas sejam mutáveis. Hoje em dia, tudo muda muito depressa por isso nunca diria que este momento que a cidade vive agora vai manter-se igual. Acho que Lisboa está a viver um período interessante: está geograficamente bem localizada, tem ótimas ligações ao resto da Europa, oferece uma boa qualidade de vida – o que atrai muitas pessoas de todo o mundo – e depois há uma energia empreendedora que é muito óbvia. Há cada vez mais pessoas que querem iniciar o seu próprio negócio, há também um número crescente de startups bem-sucedidas…

Fale-me deste espaço de coworking.
Na verdade, nós nem sequer nos consideramos um espaço de coworking. Descrevemo-nos como um novo espaço de trabalho e local de cultural. Reconhecemos que o mercado de trabalho está de facto a mudar, havendo um grande boom de pequenos e médios negócios – que estão a ganhar terreno na economia. Há cada vez mais empreendedores e a Second Home é um lugar que responde às novas tendências e às necessidades que delas advém. Oferece um ambiente que promove a criatividade e a inovação para que os membros possam fazer o seu trabalho da melhor forma possível. Nós vivemos e respiramos essa filosofia em tudo o que fazemos.

Qualquer pessoa ou empresa pode ser membro da Second Home ou há um perfil específico?
Procuramos ter a maior diversidade de membros possível. Junto a empresas já bem estabelecidas no mercado estão startups e todas aprendem umas com as outras. Temos marcas relacionadas com o universo da moda junto a chefes de cozinha, arquitetos ou empresas de tecnologia. Nós acreditamos na diversidade e acreditamos que temos todos a aprender uns com os outros. Se criarmos um espaço que é partilhado só por startups, ou só por agências criativas, ou só por qualquer outra área em particular, estamos a fazer com que todos vivam dentro da sua bolha.27556868_GI30032017LN000122

Então, qualquer pessoa pode candidatar-se a ter um espaço dentro deste espaço de partilha?
Sim. Obviamente temos uma capacidade limitada, mas o que tentamos fazer é garantir que quem fica na Second Home partilha a nossa visão e valores. Temos excelentes empresas e empreededores portugueses e também temos muitas pessoas de outras partes do mundo.

Por exemplo?
Temos, por exemplo, a Monday, que é uma agência criativa, com 18 pessoas; a equipa portuguesa da Vice Media, serviços financeiros da Volkswagen…
Temos diferentes tipos de planos, dependendo de como se quer usar o espaço. Há também um plano específico para quem, por ventura, já tem um espaço de trabalho noutro local, mas quer participar nos workshops, talks e eventos de networking, assim como nas aulas de yoga, pilates, etc…

Estes eventos paralelos e as aulas estão incluídos no preço?
Aulas de yoga e de pilates, mindfulness, surf e clube de corrida está tudo incluído no preço. Hoje em dia, com o laptop, trabalha-se em qualquer lado e a partir de qualquer lado, o que faz com que a fronteira entre trabalho e casa fique cada vez mais esbatida… Aqui, mais do que um espaço para trabalhar é um espaço para viver, é uma segunda casa. Quando sais de casa e vens para a Second Home não pensas ‘que chatice… lá vou eu para o escritório…’ Pensas: ‘que bom, vou para o meu happy space’.
Acreditamos que tens de olhar por ti e por isso a aposta nesta parte do bem-estar. Também toda a comida que servimos no bar é caseira e feita com ingredientes frescos aqui do mercado.

Têm, ou está previsto, algum tipo de apoio aos pais e mães com filhos?
Em Londres, um dos espaços que vamos abrir é muito vocacionado para dar resposta a essa necessidade. Terá a sua própria creche, áreas tranquilas para amamentar, entre outras facilidades. Neste nosso espaço aqui em Lisboa não temos, mas não quer dizer que não venhamos a ter…

Quantas horas passa aqui, por dia?
Bastantes. Mas às vezes nem sinto que estou a trabalhar.

O que a trouxe a Lisboa? A Second Home?
Vim para Lisboa há mais de um ano para abrir o meu estúdio de yoga. Entretanto, soube que a Second Home iria abrir um segundo espaço cá. Em Londres, eu era membro da Second Home e sempre gostei muito do conceito. Entrei em contacto com eles e aqui estou.

Porque é que escolheu Lisboa para iniciar um negócio?
Na verdade, os meus pais têm uma casa perto do Baleal e há 15 anos que vimos passar férias a Portugal, durante o verão. Mais tarde, os meus pais acabaram por se mudar para cá definitivamente.
Eu tenho vivido entre Londres, Sidney e Nova Iorque, mas Lisboa é uma cidade única… Não haverá muitas cidades no mundo a oferecer todo o dinamismo de uma cidade grande, tão perto da natureza… A combinação entre estar perto da família, estar perto do mar e viver num ambiente citadino, dinâmico, fizeram com que eu viesse.

Mas antes de se mudar para cá trabalhava em publicidade. Ou seja, mudou de país e de profissão…
Sim. Eu tenho 8 anos de experiência na área da Publicidade, adorava o que fazia, trabalhei em grandes cidades com grandes marcas, com pessoas muito interessantes que me inspiraram, mas cheguei ao ponto em que me senti confinada naquele contexto, àquela estrutura. Sentia que já não tinha outros objetivos com aquela profissão e foi aí que decidi começar o meu próprio negócio.27556857_GI30032017LN000135

Com Yoga?
Exatamente. Não tinha qualquer experiência de como gerir um negócio próprio, não tinha qualquer experiência na gestão de um negócio de yoga, mas senti que tinha as ferramentas necessárias para tentar.

O que é que temos de ter para fazer essas mudanças?
Acho que é preciso gostar de aventura. Quando estás num lugar que conheces – e esse lugar pode ser o grupo de amigos de sempre, o mesmo trabalho, o teu país, a tua família – fazes dele a tua capa de proteção e às vezes isso pode fazer com que fiques confinado, estático, sempre no mesmo lugar.
Tens de ter vontade de sair dessa zona de conforto com a consciência de que não sabes o que te vai trazer o futuro, não fazes ideia de como vão correr as tuas próximas experiências. E a parte divertida está mesmo aí, no não saber, na descoberta.
Sempre fiz mudanças na minha vida, mudei de país, por exemplo, e em todas as mudanças eu fiquei mais enriquecida. Ficas exposta a novas pessoas, novas ideias, novas formas de viver…

O que se sente quando se está prestes a saltar para o desconhecido?
Quando saltas, percebes que a ideia de saltar é sempre mais difícil do que o salto em si.

Fotografias Leonardo Negrão