Secretário de Estado da Educação afirma: “Brincar é bom”

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“O direito à brincadeira aparece como um direito fundamental. Temos o dever de garantir este direito.” As palavras são de João Costa, secretário de Estado da Educação, que se referia à Convenção dos Direitos da Criança que põe no mesmo plano direitos como a segurança, a educação e a não-discriminação.

As declarações foram proferidas na abertura do encontro promovido esta quinta-feira pela Fundação Ikea, para apresentação de uma iniciativa da marca sueca, o Movimento Direito a Brincar. No Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, foram apresentados alguns dados sobre a importância do jogo livre para o desenvolvimento completo das crianças.

João Costa afirmou ser vontade do Ministério da Educação incluir tempos lúdicos nos tempos escolares de forma a contribuir para um desenvolvimento humanista e integral das crianças. Para o governante: “Aprendemos brincando. O jogo permite desenvolver competências mais elevadas, como a criatividade e inovação. Os mais criativos são os mais disruptivos. A escola tem de privilegiar métodos ativos de aprendizagem.”

Num registo informal, pouco habitual nos membros do governo, o ex-professor de Linguística na Universidade Nova de Lisboa, referiu-se à sua própria experiência de pai que deixa os filhos brincarem a rua:

“A rua é a principal estrutura para a brincadeira. Abrir a porta, às vezes não é tão mau como se pensa. Eu próprio um dia abri a porta e agora eles voltam lá sempre.”

Para os pais e mães que não têm essa possibilidade, João Costa desmistifica o excesso de horas passadas na escola: “Uma escola a tempo inteiro é uma resposta para quem não tem alternativa.” O que o secretário de Estado também defende é uma: “Escola como espaço de desenvolvimento humano. Temos de reinventar a escola.” E acrescentou: “Tem-se transformado [a escola], talvez na última década, num campeonato individual.”

Segundo o governante essa escola “humanista”, para o qual o governo diz estar a trabalhar, deve “prever momentos para a brincadeira” e tem consequências educativas:

“Implica não confundir a energia com mau comportamento.”

O secretário de Estado relembrou ainda que da revisão das orientações curriculares para os diversos ciclos escolares se podem já tirar exemplos de boas práticas, como a introdução da palavra brincar nos planos curriculares do pré-escolar, como a alteração das estruturas de aula das Atividades de Enriquecimento Curricular e a inclusão de matérias não académicas, como as “1083 medidas em marcha” que a autonomia das escolas veio permitir implementar, de acordo com os contextos escolares. Para concluir que “Brincar é bom”.

Lisboa, 03/11/2016 - Sandra Nascimento, Mário Cordeiro, Cláudia Domingues, Isabel Stilwell e Madalena Marçal Grilo, intervenientes da conferência do IKEA sobre a importância do brincar para o desenvolvimento da criança, esta manhã no auditório Mariano Gago no Paraque das Nações. ( Global Imagens )
(Gustavo Bom/ Global Imagens )

Movimento Direito a Brincar

A abertura da sessão esteve a cargo da diretora de sustentabilidade da Ikea Portugal, Cláudia Domingues, que definiu este movimento como uma discussão a ser lançada no País, e no mundo. A ideia da marca sueca é que reflitamos sobre as vidas ocupadas que temos hoje e que decidamos encontrar espaços para brincar com as crianças. Uma sugestão concretizada na sala que foi recriada no palco do auditório do Pavilhão do Conhecimento em que as mesas de centro eram da coleção de criança, com gavetas coloridas e peluches lá dentro.

Na sala estavam Sandra Nascimento, diretora da Associação de Proteção e Segurança Infantil, Mário Cordeiro, pediatra, Jonathan Spampinato, responsável da Ikea Foundation e Isabel Stilwell, jornalista, que moderou o debate em torno da necessidade das crianças portuguesas brincarem mais tempo, mais com os pais e mais sozinhas de forma a se desenvolvem equilibradamente. A diretora da APSI concluiu:

“Temos de tratar o recreio das escolas como um espaço nobre. Temos que assumir que os nossos filhos correm riscos. A segurança decorre da ponderação entre o risco e os ganhos. Falta-nos a coragem para fazer a mudança mas podemos perguntar às crianças o que o espaço público ou o recreio da escola precisa. As crianças sabem fazer propostas, sabem identificar os problemas e desenhar soluções.”