Imagine um estudo global que se focou na análise de remoinhos no cabelo. Pois bem, ele aconteceu e recebeu, em 2024, um dos prémios Ig-Nobel. Estes galardões, entregues cerca de um mês antes dos importantes Nobel, são entregues pela sua peculiaridade e pela sua capacidade de surpreender todos.
Nesta 34ª adição, o cirurgião maxilofacial francês do Hospital Universitário de Paris, no Necker-Enfants Malades, Roman Khonsari, conseguiu, com uma equipa global, ganhar o prémio Ig-Nobel de Anatomia por ter descoberto que os remoinhos no cabelo não se desenvolvem todos no mesmo sentido, existindo diferenças entre quem é do Hemisfério Norte e do Hemisfério Sul, com os primeiros a crescerem nos sentido dos ponteiros do relógio e os segundos em movimento inverso.
“Estava no bloco operatório quando recebi o telefonema [de que tinha vencido]”, afirmou Khonsari, que acrescentou: “Apesar da irrelevância inegável deste estudo, fiquei extremamente feliz porque estou convencido que decifrar padrões na Natureza pode levar a descobertas importantes sobre mecanismos fundamentais de desenvolvimento. As formas carregam quantidades interessantes de informações.” Uma descoberta que pode, considera, levar a comparações com tornados, que também rodam em diferentes direções, consoante o hemisfério onde se desenvolvem.
Já Saul Justin Newman arrecadou o prémio Ig-Nobel da Demografia por, aparentemente, ter descoberto o segredo de uma longa vida. Depois da décadas e décadas de estudos e investimentos na área da nutrição e da indústria da beleza pela eterna juventude, a resposta parece vir, afinal, dos registos civis.
Segundo a análise deste professor de Oxford, as pessoas com vidas mais longas vêm de lugares com curta expectativa de vida e com registos de nascimentos e de mortes de “nível medíocre”. Portanto, o segredo da longevidade está em… “mudar-se para um lugar onde os certificados de nascimento são escassos, onde se possa ensinar os filhos a enganar o sistema de reformas e começar a mentir”, brincou o professor galardoado.
Mas as descobertas inusitadas dos vencedores não se ficaram por aqui. O galardão da Fisiologia foi entregue a uma equipa internacional japonesa e norte-americana que conclui que mamíferos como ratos e porcos também conseguem respirar pelo ânus, transformando os intestinos num “órgão respiratório auxiliar”. O psicólogo B.F. Skinner ganhou o Ig-Nobel da Paz por ter recuperado um projeto abandonado em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, e que colocava pombos treinados na ponta de mísseis para os guiar ao seu destino.
O galardão da Botânica foi entregue a uma equipa da Universidade alemã de Bona, que concluiu que algumas plantas – entre elas a Boquila trifolioata, uma trepadeira da América do Sul – imitam a forma das plantas de plástico que estão mais próximas.
A Probabilidade foi entregue a quem descobriu que, no jogo de Cara ou Coroa, a moeda cai mais vezes para lado que está voltado para cima antes de ser mandada ao ar. Um conclusão extraída após quase 351 mil lançamentos, apontando para uma incidência estatística na ordem dos 50,8% dos casos.