‘Sei lá’: há (quase) duas décadas a apaixonar gerações

Margarida Rebelo Pinto lançou o seu primeiro livro, Sei lá, há 18 anos. Praticamente duas décadas depois a obra continua a fazer sucesso entre diferentes gerações. Em 2014 foi adaptada ao cinema num filme com atores como Rita Pereira, Ana Rita Clara, Patrícia Bull, António Pedro Cerdeira e Paula Lobo Antunes. Esta semana, após já ter vendido mais de 200 mil exemplares, chega às livrarias uma 40ª edição. Enquanto construía esta história sobre as dúvidas, ambições, fraquezas e preconceitos que faziam parte da vida das mulheres portuguesas da década de 1990, a escritora já pressentia o êxito.

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“Na altura senti que o Sei lá era um retrato muito fiel de Portugal e Lisboa no fim dos anos 1990, acreditei que o livro ia criar um processo de identificação grande com os leitores. Sonhei com isso e achei que era possível. Os meus anos de publicitária serviram-me para isso, mas nunca pensei que ao fim de 20 anos continuasse a vender, tivesse uma sétima capa e 40 edições”, explica ao Delas.pt Margarida Rebelo Pinto.

As mulheres da época continuam a gostar de reler o livro pela nostalgia dos tempos que viveram e as gerações mais novas, filhas dessas mulheres, têm curiosidade em saber como era a vida nos anos 1990. Na opinião de Margarida Rebelo Pinto são estas as razões que têm apaixonado tantas mulheres de diferentes gerações.

“Este livro é um bocadinho O Sexo e a Cidade à portuguesa apesar de não ter visto a série porque estava a ser produzida mais ou menos ao mesmo tempo em que escrevia o livro. É um livro que fala, pela primeira vez, da mulher portuguesa contemporânea, aborda o sexo de uma maneira livre, descomprometida e faz o retrato de uma sociedade lisboeta burguesa“, afirma a escritora.

Nos anos 1990, toda a literatura light que existia em Portugal vinha do estrangeiro. Com Sei lá, o mercado livreiro nacional mudou completamente, dando incentivo a outros autores e editores nacionais para apostarem nesse tipo de livros. Apesar desta mudança, nem tudo foi bom. A autora foi alvo de preconceito.

“O que estou a fazer agora é bastante diferente do que escrevia na altura, mas houve, de facto, preconceito forte, que demorei alguns anos a ultrapassar. Ao mesmo tempo que havia esse preconceito por parte das chamadas elites literárias existia uma grande vontade por parte das editoras em publicar esse tipo de livros porque é uma literatura muito eficaz em termos comerciais”, acrescenta Margarida Rebelo Pinto.