Seis cidades portuguesas acolhem marcha contra Trump

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Protesto contra Donald Trump (Mike Segar/Reuters)

Donald Trump toma posse esta sexta-feira, 20 de janeiro, como presidente dos Estados Unidos da América e amanhã enfrenta a sua primeira manifestação.

A Women’s March (Marcha das Mulheres) promete levar, este sábado, centenas de milhares de pessoas a Washington e outras tantas a diferentes cidades do mundo, que decidiram entretanto juntar-se à iniciativa de protesto. Portugal não é exceção e estão marcadas concentrações para o mesmo dia em seis cidades do país. Braga, Porto, Coimbra, Lisboa, Faro e Angra do Heroísmo prometem juntar-se ao protesto internacional.

A ideia de aderir a essa iniciativa internacional nasceu no Porto, como explica ao Delas.pt, Andrea Peniche, um dos membros do grupo que tem estado a promover as manifestações nacionais.

“Estávamos a começar a organizar uma campanha contra o assédio sexual em espaço público quando aconteceram as eleições nos EUA. No dia seguinte, vimos a convocatória da Marcha e achámos que era uma boa ideia fazer coincidir o fim da campanha do assédio com a organização/participação na Marcha”, afirma.

Conseguiram alargar essa participação a mais três cidades – Braga, Coimbra e Lisboa -, que marcaram concentrações. Na capital, a marcha terá lugar em frente à Embaixada dos Estados Unidos da América, às 15h. A Braga, Coimbra, Lisboa e Porto juntaram-se mais duas convocatórias para marchas em Faro e Angra do Heroísmo. “Não sabemos quem organiza, mas ficámos mesmo contentes pelo facto de mais gente ter querido associar-se à Marcha Internacional”, diz Andrea Peniche.

Trump e o assédio sexual
O apelo à participação tem sido feito sobretudo através das redes sociais e sob o lema ‘Marcha das Mulheres#NãoSejasTrump’, frequentemente acompanhado das palavras de ordem “parar o assédio, construir a igualdade”.

A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres é uma das organizações que apoia esta Marcha das Mulheres.

“Esta marcha que vem de Washinghton é, de facto, um grito contra o assédio de que as mulheres ainda são vítimas. Acontece depois da tomada de posse de Donald Trump, nos Estados Unidos, mas exatamente para manifestar e dar voz às mulheres vítimas de assédio permanente e que, neste caso, é muito visível através de quem vai tomar posse. É um grito contra o assédio”, diz ao Delas.pt a presidente da Plataforma, Alexandra Silva.

Tal como em Washington, a marcha é promovida por mulheres, mas aberta a outros movimentos que se queiram associar e a qualquer pessoa independentemente do seu género.

Chama-se Marcha das Mulheres “pelas circunstâncias em que surgiu e porque, de facto, foram as mulheres quem tomou a dianteira”, explica Andrea Peniche. Mas desde o início que é também “interseccional como se pode ler no seu manifesto, isto é, procura juntar várias lutas, porque todas são importantes e acabam por se cruzar”, acrescenta.

Em Portugal, associaram-se à organização do protesto várias associações e plataformas, oriundas dos “movimentos feminista, antirracista, ambientalista, antifascista, de defesa dos direitos dos e das imigrantes, dos e das refugiadas, de quem trabalha e dos precários, dossem-abrigo e das pessoas LGBTQ”, exemplifica.

Não conseguindo prever a adesão à marcha, Andrea Peniche defende que o que se pretende é, acima de tudo, “tomar posição, dizer que estamos presentes e que escolhemos o nosso lado, e ele é contra tudo aquilo que Trump e a sua administração representam”. “A nossa expectativa é que o número de pessoas que não se revê neste discurso e nestas políticas decida tomar posição e fazer dela um ato público em defesa da democracia, da igualdade e dos direitos humanos”, acrescenta.

Mesmo assim, será a relação entre o discurso misógino e xenófobo do novo presidente dos Estados Unidos da América suficiente para mobilizar as mulheres de outros países, como Portugal?

“Escolhemos como ‘assinatura’ da campanha a consigna ‘Não sejas Trump’, porque ser Trump tanto significa ser misógino como ser um negacionista das alterações climáticas. E acreditamos que ser diferente de Trump é uma ideia querida à maioria das pessoas, que saberão entender que, quando se trata de direitos humanos e de democracia, não há cá e lá, até porque cá a direita extremista tem galopado, da vergonha da Hungria ao susto austríaco, não esquecendo os amigos europeus de Trump, Farage e Le Pen”, diz Andrea Peniche

A organização espera, por isso, que se juntem nas diversas concentrações espalhadas pelo país e por outras cidades do globo “as pessoas que veem em Trump e na extrema-direita um sinal de alerta”.

“Esta marcha será, pois, a soma de todas as razões que existem para dizer ‘presente!’ quando o tempo é de tomar partido e fazer frente às ideias e às políticas que se avizinham”, justifica.

Americanos em Portugal protestam no dia da tomada de posse
Antes da Marcha das Mulheres, esta sexta-feira, quando Donald Trump tomar posse, um grupo de cidadãos americanos em Portugal realiza uma vigília no Largo do Carmo, Lisboa.

O encontro, marcado para as 17h e intitulado ‘Vigília Americana Pela Democracia’, é promovido pelos Democrats Abroad Portugal e conta mobilizar não só americanos que se encontrem no país, mas também cidadãos portugueses. O objetivo da vigília é “prestar tributo ao Presidente Barack Obama pela melhoria da situação interna dos EUA e das suas relações no mundo, bem como chamar a atenção para a necessidade de vigilância do futuro político dos Estados Unidos e a sua adesão aos princípios democráticos durante a administração do Presidente- eleito Donald Trump”, refere o comunicado dos promotores da iniciativa.

“Para os americanos no exterior é particularmente importante continuar envolvidos no processo político do país e mostrar ao mundo que vamos examinar e responder às ações de um governo cujos primeiros sinais têm sido muito preocupante”, diz um dos organizadores, Misha Pinkhasov, consultor e escritor, que vive em Portugal desde 2014.

Donald Trump foi eleito presidente a 8 de novembro de 2016, derrotando Hillary Clinton. O discurso e as ideias que defendeu durante a campanha fazem com que muitos olhem com apreensão para o futuro, dos Estados Unidos, mas também do mundo.

Além da vigília de Lisboa estão marcadas iniciativas semelhantes em Paris, Londres, Amesterdão, Berlim e Praga.