Semana da Moda da Índia recebe a sua primeira modelo transgénero

Nasceu no Nepal. Era um rapaz de nome Nabin Waiba e o quinto filho de uma família pobre. Hoje, aos 32 anos, é uma mulher prestes a fazer história. É que Anjali Lama – nome com o qual se apresenta hoje – vai-se tornar a primeira modelo transgénero a percorrer as passerelles da Semana da Moda da Índia, que decorre já no próximo mês.

Desde jovem que carrega consigo memórias dolorosas associadas à crise de identidade. Os seus próprios familiares ostracizaram-na quando, há 12 anos, souberam da sua vontade de viver como uma mulher.

“Eu sabia, mesmo quando era criança, que não gostava de ser rapaz nem de usar aquelas roupas”, confessou a manequim, numa entrevista ao jornal ‘The Independent’. “Comecei a sentir-me muito confusa e depressiva. Estava sempre a questionar-me: ‘Se sou um rapaz, por que é que me sinto desta forma?’. Tentei mudar, mas era uma tortura mental”, contou ainda.

Quando se mudou para a capital do seu país, Catmandu, Lama cruzou-se com uma mulher transgénero que a colocou em contacto com a Sociedade Diamante Azul, um grupo para pessoas LGBT. Em 2005, assumiu a sua transsexualidade a familiares e amigos.

“Foi como renascer. Lembro-me de pensar ‘Oh meu Deus. Não estou sozinha neste mundo. Há outras pessoas como eu'”. Foi só quando colocou implantes mamários, cinco anos depois, que a sua vida mudou por completo. “As pessoas começaram a reparar em mim e a dizer-me que tinha figura e altura para me tornar modelo”, explicou.

A indústria da moda, pelo menos no Nepal, nem sempre a recebeu bem. Ao fim de alguns anos de tentativas falhadas para chegar às grandes passerelles, Anjali decidiu tentar a sua sorte na Índia. Valeu a pena. “Estou muito, muito entusiasmada com o que aí vem. Estou a tentar desfrutar do momento. É um sonho tornado realidade”, confessou.

Daqui para a frente, uma das suas missões de vida será inspirar outras vítimas de discriminação a ganharem coragem e a mostrarem-se tal como são. “Nos países do sul asiático, as pessoas ainda não são muito tolerantes, tratam-nos como doentes”, lamentou.