Diversidade, inclusão e Comporta marcam as criações portuguesas na Semana da Moda de Londres

Os valores de inclusão e diversidade guiaram o desfile da coleção de moda feminina para a a próxima estação primavera/verão da Marques’Almeida, no passado sábado, em Londres. A dupla de designers portugueses apresentou as novas propostas no calendário oficial da Semana da Moda londrina, com o apoio do Portugal Fashion, e aproveitou o momento para celebrar a diversidade das mulheres que vestem a marca, dentro e fora das passerelles.

O desfile, refere a agência Lusa, começou com uma série de vídeos de raparigas que usam a roupa desenhada por Marta Marques e Paulo Almeida, na qual elas expressam algumas das suas opiniões e experiências relativamente à moda.

“Esta coleção para nós foi importante, sobretudo o desfile em si, por causa do ‘set’ [cenário] e dos vídeos que fizemos com as M’A Girls, que lhes dá uma voz sobre coisas que são muito importantes para nós, como a inclusão e a diversidade na moda. São coisas que sempre foram um ‘driving factor’ [factor determinante] para nós”, afirmou Marta Marques à agência Lusa no final do evento, que decorreu no edifício Truman Brewery, uma antiga fábrica de cerveja.

As “M’A Girls”, como são conhecidas, usam a roupa da Marques’Almeida no quotidiano e nas redes sociais, frequentam o ateliê e participam nos desfiles, apesar de muitas não serem modelos profissionais.

“São elas basicamente que nos inspiram”, explicou Paulo Almeida, que enfatizou as diferentes personalidades, as quais podem ser um ponto de partida para o trabalho dos criadores, conhecidos pelas referências recorrentes ao ‘punk’ e ao ‘grunge’. Essas referências também continuam a estar presentes na nova coleção, que, em termos de inspiração, recua até meados do século XX, mas sempre com o cunho da rebeldia.

“Nesta estação, começámos com uma fotografia de uma rapariga chamada Esme Chapman, porque ela tinha uma fotografia que parecia uma fotografia de atriz dos anos 1950, mas que, ao mesmo tempo, não era nada estilo anos 50. Era um bocadinho rebelde. Anos 50, mas não é uma dona de casa bem-comportada”, vincou o designer.

Na prática, tudo isso resultou numa coleção variada nos estilos, cores e materiais, que refletem a importância da referida “diversidade e personalidade” no processo criativo da dupla de estilistas.

“Há coisas novas, como os tafetá com que trabalhamos agora, que são muito mais fifties’ [anos 50] e muito mais ‘couture’ [alta-costura], mas depois há os nossos elementos do costume, tipo o denim [ganga], o ‘jersey’ e a ‘shirt’ [camisa], que são muito mais ‘effortless’ [naturais]. É sempre uma mistura”, resumiu Marta Marques.

Este desfile marcou o regresso da Marques’Almeida à Semana da Moda de Londres, onde participam consecutivamente desde 2010, ano em que eram ainda como estudantes.

Outra repetente no que toca à representação portuguesa na Semana da Moda da capital britânica é a marca Sophia Kah.

Atrizes como Gillian Anderson, Sarah Jessica Parker e Keira Knightley e cantoras como Beyoncé e Florence Welch são alguns dos nomes que já usaram os vestidos da marca portuguesa, vendidos em lojas como Harrods em Londres e Barneys em Nova Iorque. A inspiração da coleção deste ano, apresentada este domingo, num evento paralelo ao calendário oficial, e também com o apoio do Portugal Fashion, promete continuar a conquistar as estrelas internacionais. Falamos da Comporta, a zona de praia portuguesa que está a fazer furor e a atrair cada vez mais celebridades de todo o mundo.

Depois do Douro no ano passado, as novas propostas da marca colheram inspiração nesta zona do litoral alentejano, revelando-se através dos tecidos, das cores, nas associações ao mar e aos cavalos. “Tudo inspirado em Portugal, feito em Portugal, [com] tecidos portugueses, algodões portugueses, bordados portugueses”, disse à Lusa a estilista Ana Teixeira de Sousa.

A designer portuguesa elegeu a região no sul do país por considerar que a paisagem está ainda “muito virgem”, mantendo uma autenticidade inspiradora.

“Inspirei-me muito na natureza da Comporta, no branco, no azul das casas. É um sítio que acho lindo”, sublinhou a estilista, que tem vindo a desenvolver o negócio em Londres desde 2010, mas que mantém uma relação próxima com a indústria têxtil nacional, através da unidade fabril que a família possui no norte de Portugal.

Nos últimos anos notou um aumento do interesse na cultura e produtos do país, por isso continua a apostar em elementos portugueses.

A coleção foi apresentada em forma de desfile no restaurante de influência latino-americana “Isabel”, no bairro de Mayfair, procurando refletir o estilo sofisticado dos vestidos e acessórios.

“Escolhi [este local] porque esta é uma coleção de dia. Nós antigamente fazíamos mais noite. Este é um lugar cheio de luz, podíamos fazer um pequeno-almoço, uma coisa leve que trouxesse um bocadinho de Portugal para Londres”, explicou.

Apesar de ser versátil e adequada a outras situações, a coleção foi pensada para ser usada durante as férias, num clima ameno e luminoso, para mulheres com uma personalidade “descontraída, bonita, sempre muito confortável, mas elegante e sofisticada”.

A Semana da Moda de Londres começou na sexta-feira, 13 de setembro, e termina esta terça-feira, dia 17.

Nesta edição, a organização do evento, o British Fashion Council, apostou, pela primeira vez, na realização de alguns desfiles abertos ao público e preparou um programa com a participação de mais de 66 marcas, 74 lojas e 170 eventos também abertos ao público em geral.

Perante a crescente pressão para responder a questões como a sustentabilidade, igualdade e diversidade, a entidade organizadora anunciou a criação do Instituto de Moda Positiva (Institute of Positive Fashion) com o objetivo de “reunir conhecimentos de diferentes áreas para ajudar as marcas do setor” a enfrentar estas questões.

AT com Lusa

 

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