Señoritas: “Fazer um novo caminho dá-nos um gozo particularmente bom com esta idade”

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Sandra Baptista e Mitó Mendes são as senhoras que comandam este barco chamado Señoritas. A nova dupla musical portuguesa era a metade feminina do grupo A Naifa, que terminou em 2014. Nele tomavam conta do baixo (Sandra Baptista) e da voz (Mitó), os dois elementos que servem de base a este duo minimalista e denso que agora é um todo, sem pretensões e com vontade de cantar o desconforto e subterrâneo. A maturidade dos 40 anos traz-lhes a liberdade de dizerem o que querem e como querem, sem imposições ou amarras. Até porque, dizem, já tiveram os seus 15 minutos de fama. Por isso, estão dispostas a olhar para o passado sem preconceitos e constrangimentos, e assumir novos caminhos e deixarem surpreender-se por ele, nesta altura da vida. O caminho transformou-se em disco, com lançamento previsto para dia 23 deste mês e a que deram o título ‘Acho que é meu dever não gostar’. Nós achámos que era nosso dever ouvi-lo e conhecer melhor estas duas senhoras.

Dizem que em vez de irem beber copos ou à praia, juntavam-se para tocar música. Quando é que sentiram que isso se estava a transformar num projeto a sério, nas Señoritas?
Sandra Baptista – É verdade, nós começámos isto como um ponto de encontro em que as coisas iam acontecendo. À medida que ia escrevendo as letras, a Mitó ia dando uma vida enorme às músicas e começámos a perceber que as canções ganharam uma vida para além daquela coisa só do papel ou de uma linha de baixo ou de guitarra e começámos a ficar extremamente entusiasmadas com esse processo criativo. Tornou-se quase um vício. Ensaiámos só uma vez por semana, mas aquele momento era mesmo sagrado. Pegávamos na nossa intuição e na nossa forma de criar.
Mitó – Isto aconteceu até 2015, altura em que já tínhamos meia dúzia de canções, tudo gravado no iPhone, no dictaphone. Como isto nos causava grande entusiasmo, mostrámos a alguns amigos e as reações de toda a gente era: ‘pá, isto são músicas completíssimas e é um crime não mostrar isto a outras pessoas’. Fomos mostrando a um círculo maior de amigos e todos diziam a mesma coisa. E chegou o momento em que achámos que devíamos gravar, como deve ser, aquilo que tínhamos.
Sandra Baptista – Foi no final de 2015 que decidimos criar caminho, mostrar isto ao público e viver aqui uma nova experiência.

E esta experiência começou quando?
Mitó – Nada disto aconteceu enquanto estávamos n’ A Naifa., mas notávamos, nesse tempo, que quando nós as duas nos tínhamos de juntar para tocar era, acima de tudo, divertido. Aconteceu algumas vezes encontrarmo-nos para ensaiarmos umas partes dos espetáculos e antes de tocarmos a música que era suposto, andávamos ali em brincadeiras musicais, e depois acontecia sem nada marcado. De vez em quando, eu aparecia em casa da Sandra, pegávamos na guitarra e ela mostrava estas letras maravilhosas que nós temos. E eu vejo uma letra daquelas e fico logo com o bichinho carpinteiro, começo logo a imaginar uma linha de voz para ali. Por isso, é difícil dizer exatamente quando começou. Era uma brincadeira.
Sandra Baptista – Foi um processo todo muito intuitivo e muito espontâneo, as coisas foram acontecendo, sem se decidir o que quer que fosse, até ao momento em que decidimos, aí sim, que íamos gravar, que queríamos um registo e que queríamos partilhá-lo.

Como é que isso se foi desenvolvendo?
Mitó – Às vezes passavam-se meses sem a gente se encontrar. Se calhar num mês encontrávamo-nos duas vezes…Só a partir do verão de 2015 é que começámos a encontrar-nos com mais regularidade, a querer aumentar um bocadinho o número de músicas que tínhamos e no final desse ano decidimos então o que gravar. Mas até lá ficávamos meses sem nos vermos.
Sandra Baptista – E era alternado. Às vezes íamos às compras, fazíamos ensaios, depois coisas de mulheres.
Mitó – Sim, às vezes acontecia isso. Pensávamos em ir tocar e quando chegávamos lá era: “epá, oh Sandra, estou sem onda nenhuma. ‘Bora para o Freeport para as compras”. Isso aconteceu montes de vezes e passavam-se três meses sem a gente perceber, porque não tínhamos nada aquela coisa de irmos fazer uma banda.

Numa banda com elementos masculinos, como era o caso de A Naifa tinham à vontade para falar sobre essas questões mais femininas?
Sandra Baptista – A química é completamente diferente. A partir do momento em que tens uma banda com quatro pessoas, independentemente do sexo, a química, a energia e o método de trabalho são diferentes. Quando tens só duas pessoas, as coisas são muito mais intensas, tu cá tu lá…
Mitó – São só dois lados. É mais simples, mas ao mesmo tempo mais intenso.
Sandra Baptista – Se há uma coisa que eu não gosto nela, ou ela não gosta em mim, dizemos logo. E chegamos a um compromisso que fica ali no meio. Isto é um trabalho sem egos. Eu costumo dizer que nós já tivemos os nossos 15 minutos de fama em vidas passadas, sinto que estamos como num jogo da Playstation e que esta é uma vida extra. Já jogámos todas as que tínhamos direito e de repente deram-nos uma vida extra, então vamos lá usufrui-la. Nós estamos a vive-la, ou seja estamos libertas de tudo, temos uma experiência passada que permite ter uma certa bagagem, este amadurecimento de fazer um novo caminho e isso dá-nos um gozo particularmente bom com esta idade. Dá-me uma grande pica, porque nunca pensei na minha vida estar aqui, neste caminho.

Onde é que gravaram este disco?
Mitó -Os ensaios e as preparações para o espetáculo foram todas em casa da Sandra, as gravações foram na minha.
Sandra Baptista – A minha casa é muito fria e as gravações foram no inverno. A casa da Mitó é mais quentinha.
Mitó – É, para já é isso. Apesar de na minha se ouvir um bocado de tuc-tucs e eléctricos.

Mas quando ouvimos o disco temos a sensação que ele foi gravado numa casa, ou num estúdio escuro e denso…
Mitó – Escura não é. A minha casa é bem alta, vê-se o rio Tejo, tem luz…

Embora o disco tenha esse ambiente denso.
Mitó – O ambiente sim. Mas se fosse na casa da Sandra ia ouvir-se o galo a cantar, a vaca a mugir, os cães a ladrar.

O facto de ter sido gravado num meio urbano contribui para esse clima urbano que se sente quando se ouve o disco, e que também já se ouvia n’A Naifa?
Mitó- Sim, mas nós n’A Naifa nunca gravámos aqui, nem em casa da Sandra. Era sempre diferente.
Sandra Baptista – Era sempre num estúdio. Aqui, o plano de trabalho é todo ele muito caseiro. Nós simplesmente fizemos este disco num gravador de quatro pistas, que é mesmo o mínimo. E só adquiríamos o material que era realmente necessário.
Mitó – Não ter bateria simplifica muita coisa. Basicamente, temos dois instrumentos, a guitarra e o baixo, que alterna com o acordeão. E depois a voz. É uma coisa, hoje em dia, relativamente simples de se gravar. Por isso, foi muito simples montar o estaminé na minha casa.

Isso foi também uma novidade para vocês, face às vossas experiências anteriores?
Mitó – Foi, mas foi também pensado. O que nós não queríamos era aquela história de chegamos a um sítio, pagamos à hora e temos aqueles dias de gravação e aquilo tem de ficar gravado. Porque, tal como acontecia nos nossos ensaios, se sentíamos que não estávamos a sentir a disposição para gravar um determinado tema, mudávamos e fazíamos outra música ou se calhar não fazíamos música nenhuma. Queríamos estar perfeitamente à vontade, com tempo, sem ter aquela coisa de ‘estamos a pagar isto à hora, portanto saia como saia vai ter ficar feito hoje’.
Sandra Baptista – Haver pressão na criatividade para nós não é saudável. Temos de sentir a liberdade e espontaneidade no momento que está a acontecer. Há muitas músicas que somos só mesmo nós as duas e temos de estar muito bem sintonizadas. E isso traz um lado emotivo para a gravação que normalmente não existe, porque há uma certa rigidez.

Foram buscar o nome a uma canção do segundo disco d’ A Naifa, o projeto que integravam anteriormente. Pode dizer-se que foi uma separação amigável e natural.
Mitó – Ah, isso claro. Somos amigos e espero que sejamos sempre. Isto é uma absoluta assunção de onde viemos, quem somos.

E também não se nota um corte abrupto com a sonoridade d’A Naifa quando se ouve este disco.
Mitó- Claro, temos aqui a voz e o baixo. É uma das duas metades, por isso é difícil que soe completamente diferente (risos).
Sandra Baptista – Nunca tivemos essa preocupação de nos aproximarmos ou distanciarmos, de fazer diferente ou igual à Naifa, ou aos Sitiados, a Megafone ou qualquer outro projeto onde tenha estado. Agora estamos a falar aqui de uma voz que é o elemento principal do projeto musical ou que o caracteriza e de determinados instrumentos. A Naifa tinha a guitarra portuguesa e em que a base de criatividade era o fado. Aqui não tem nada a ver com fado. Aliás eu cansei-me imenso de fado, hoje em dia nem consigo ouvir.
Mitó- Eu consigo.
Sandra Baptista- Ela é fadista, eu não. Mas a base de construção é muito importante e no Señoritas há aqui uma base de construção, da minha parte, muito mais punk ou mais rock, se quiseres, uma coisa mais agressiva. Consigo ver ali Joy Division, Massive Attack, consigo ver coisas que são influências musicais que tenho e que inconscientemente fui buscar. Mas realmente acaba por fazer a ligação à Naifa pelas características da voz da Mitó.
Mitó – E as linhas de baixo também. É verdade que o mais audível era a guitarra portuguesa, mas as linhas de baixo também caracterizavam muito o projeto.

E diferenças, além das que já mencionaram?
Sandra Baptista – Na Naifa as coisas eram altamente complexas, nas Señoritas há um minimalismo muito assumido. Nós falamos da vida, das nossas vidas e da vida em geral. A realidade da vida e uma certa parte urbana pode tocar em algumas vertentes da Naifa, mas é uma coisa mais rude, mais bruta.

Mais underground?
Sandra Baptista – Sim, sem dúvida, muito mais underground. E assumir também o lado ruidoso, poluído, sujo e imperfeito, porque isso também faz parte da nossa vida, esse lado mais negro. Nós queremos também evidenciar isso.

Quem são estas señoritas que as Señoritas cantam?
Mitó – São toda a gente. É claro que como nós somos mulheres, os poemas foram escritos e cantados no feminino e como temos o nome Señoritas no projeto, essa é uma pergunta muito recorrente e pode induzir em erro fazendo crer que isto é um projeto de mulheres para mulheres ou feminista. E não é. Isto fala sobre vidas. Qualquer homem que oiça este projeto, adolescente, idoso vai identificar-se com tudo o que dizemos, porque falamos da vida, de sentimentos. Portanto, estas Señoritas são toda a gente, não são mulheres específicas, nem são homens específicos.
Sandra Baptista – Há uma certa maturidade na linguagem, porque há letras como o da ‘A Mão Armada’, que às tantas diz ‘já nada tenho nada a perder’, ela está pronta para disparar para qualquer lado. Ela já viveu tantas coisas na vida, que naquele momento há um corte radical e ela diz isso. E isso acontece-nos regularmente na nossa vida. Fechamos caminhos e abrimos outros. E isso acontece com toda a gente, não é uma coisa exclusivamente feminina.

Elas falam do quotidiano, de experiências, como disseram, quase sempre de forma crua e carregada. Até que ponto são autobiográficas se é que são?
Sandra Baptista – Quando escrevo, escrevo rápido. Não consigo estar a criar uma letra durante quatro, cinco dias, a letra sai-me no momento. E é nessa altura em que estou conectada com um determinado processo inconsciente em que faço uma filtragem de determinada experiência da minha vida. É esse filtro que me faz escrever da maneira que escrevo. Se são autobiográficas? Algumas sim, e outras são escritas como se estivesse na pele do outro, são mais externas.

As canções ‘Confissão’ e ‘Confesso’, que são ligadas pela gravação de fundo da Avé Maria, parecem fazer isso mesmo: juntar uma espécie de visão externa e interna do ato de confessar.
Sandra Baptista – Esse é um belíssimo exemplo e tem a ver um bocadinho com aquilo que a sociedade te impõe, te obriga, uma série de regras e depois tu entras naquela de quantas Avé Marias é que eu tenho de rezar para ficar livre daquele pecado. Mas, no fundo, fazemos todos o mesmo. Mentimos, traímos, fazemos uma série de coisas, mas andamos a ver como podemos ficar santinhos aos olhos de toda a gente. Não me aconteceu diretamente, mas com pessoas com histórias que me tocaram desta forma. É algo que acho muito cínico e a ‘Confissão’ revela esse cinismo. Mas depois vem o ‘Confesso’ em que ela se assume, em que diz: eu gosto, confesso que faço isto, isto e isto e até gostei. Ainda por cima uma mulher a dizer coisas como ‘traí e até gostei’.
Mitó – Em muitas das letras a Sandra não passou por aquilo que escreveu, se calhar a maior parte. De qualquer maneira, ela inspirou-se em vidas e naquilo que nós sabemos que acontece a toda a hora, mas que a maioria das pessoas não tem coragem para falar. E isso é um lado que nos interessa muito na arte, que é escarafunchar aquilo que ninguém diz. A mim não me interessa muito fazer música sobre o sol de Lisboa. Eu sou de Lisboa, adoro Lisboa, adoro o rio Tejo, mas arte que eu gosto é uma arte obscura, que vai a coisas muito íntimas e profundas, sobre as quais a maior parte das pessoas pensa mas não fala no dia-a-dia, não diz a ninguém. E a Sandra traduz isso muito bem nas letras dela.
Sandra Baptista – Como sociedade, não estamos habituados a falar das emoções, guardamo-las, e aos poucos é que vamos aprendendo a lidar com elas. E é fundamental conseguires passar isso para o outro. E acho que o nosso projeto tem essa mais-valia.

Este projeto tem algumas particularidades que não estamos habituados a ver na música portuguesa. Não é assim tão comum haver duplas femininas, muito menos com as características da vossa, a cantar em português e a explorar um território mais denso e underground e usando palavras muito diretas, que raramente ouvimos ditas ou cantadas por mulheres…
Mitó – Palavrões, não é?

Por exemplo.É a maturidade que vos liberta desses constrangimentos?
Mitó – Sem dúvida. É como a Sandra dizia, já tivemos os nossos quinze minutos de fama, agora estamos a fazer o que nos dá na real gana.
Sandra Baptista – Isto é um processo altamente libertador. É como nos relacionamentos, com casais, vais tendo o primeiro namorado, o segundo, e tendo determinadas reações e vais aprendendo, até que chegas a um ponto em que já não te vais chatear com coisas que não faz sentido nenhum. Se queres livre, tens de dar essa liberdade ao outro. A nossa sociedade ainda está muito formatada. Há uma coisa que me chateia solenemente, e deve-se também aos programas de televisão, que esta coisa de as pessoas terem uma grande voz, muito perfeita e bonitinha ou cantarem desalmadamente. Podes ter uma voz fantástica e tocar lindamente um instrumento, mas se não tiveres uma ideia por detrás disso tudo esquece. Vais cantar na casa-de-banho, com os teus amigos ou vais para o karaoke. Estamos a criar essa ilusão nos putos e presos a esse formato. São miúdas e miúdos muito giros, com todos os clichés atuais e que cantam muito bem desde que seja daquela maneira. Mas não tem de ser assim. Não temos de ser todas novinhas, nem ter todas 20 anos para ter projetos musicais. São precisos novos modelos e novas referências. E é bom saber podes contribuir.

Há, de resto, uma canção em que falam diretamente disso, a ‘Nova’.
Sandra Baptista – ”viver bem sempre nova, com os pés para a cova”… Pois, esse sentido de humor é algo de que eu gosto. Há aquela parte toda muito triste ou muito contente, mas depois há sempre um risco que estraga o quadro e eu gosto desses pormenores.

Foi esse sentido de humor que vos fez darem a um tema chamada ‘Ciática’ aquela que é provavelmente a melodia mais leve do disco?
Sandra Baptista – Há duas letras que não são nossas, que é essa e “Os funerais são o casamento dos mortos”. Tínhamos decidido não pôr letras de mais ninguém mas quando recebemos essa, que é de um amigo nosso, o Francisco Resende, achamos que ia ter de ficar porque é mesmo Señoritas.

Além do quererem explorar as emoções a nível artístico, o que mais vos une ?
Sandra Baptista- Acima de tudo a nossa forma muito específica de estar na vida. Não somos propriamente aquelas “mulherzinhas” que estão em casa, a cobrar coisas aos outros, com uma exigência e uma atitude de vítimas e já não há pachorra para isso. E nós temos uma atitude na vida completamente diferente. Temos os nossos relacionamentos, mas com uma autoestima saudável, e um ego bastante curto. Costumo dizer que estamos com uma boa raiz de autoestima, mas os egos não são realmente necessários e isso é importante para o nosso dia-a-dia. E o que se vê depois nos amigos e tudo mais é que ainda funciona tudo com uma cambada de egos que não se pode.
Mitó- Essa maneira idêntica de estar na vida também se espalha à arte. Temos uma ideia muito parecida do que queremos esteticamente de uma música ou de uma letra. Podemos ter alguns pontos de discordância, mas são raríssimos. E por detrás disso, há também uma grande amizade que nos une.

O que este disco reflete é apenas o vosso estado atual, é a marca das Señoritas, ou o próximo disco ou projeto pode ser completamente diferente deste?
Mitó- Eu diria que pode ser completamente diferente, mas a profundidade, a densidade, a ironia e jogar com coisas do subterrâneo dificilmente não estarão num projeto em que esteja envolvida.
Sandra Baptista- Eu conseguia ver-me num outro tipo de projeto se fosse uma cena punk hardcore. De descarga elétrica (risos).

As letras ficaram a cargo da Sandra. Começou a escrevê-las depois do fim de A Naifa ou já tinha começado a escrever mais cedo?
Sandra Baptista – Eu neste projeto estou a viver todo o meu lado desconfortável. É muito bom quando te surpreendes a ti própria. Eu sempre escrevi carta e gosto de ler as que escrevi com 19 ou 20 anos, acho piada porque relatam-me aquela altura e vou lembrando de algumas emoções e sentimentos que tive naquela altura. E isso aproveita, porque nos lembra do nosso percurso. Mas todos nós temos essas escritas e nunca me passou pela cabeça que algum dia isso poderiam ser letras, como nunca me passou pela cabeça cantar.

Porquê?
Sandra Baptista- Porque não calhou nos outros projetos. E esses projetos já existiam, não foram criados por mim. Este é o verdadeiro projeto que foi criado por mim e pela Mitó. E agora apetece-me, porque já tenho idade para isso, o que é muito bom, que é viver o lado desconfortável sem ter vergonha. Não ter vergonha de ir à gaveta e tirar essas letras, estar num ensaio e meter a minha voz, apesar de a detestar, e agora até lhe estou a achar piada. Nada disto foi pensado e de repente estamos a comandar este barco e dirigi-lo à nossa medida, mas ele só anda até nós querermos, não temos obrigação nenhuma. Não queremos imposições. Todo este processo é surpreendente para nós e é muito bom chegarmos a uma certa altura da vida e ainda nos surpreendermos connosco.

Imagem de destaque: Nuno Carvalho