Sentença para o marido e abusador de Gisèle Pelicot revelada esta quinta-feira

Gisele Pelicot
Gisele Pelicot [Fotografia:Guillaume Horcajuelo / EPA]

O veredito no caso de violações múltiplas Pelicot deverá ser ser proferido na quinta-feira, 19 de dezembro, anunciou o tribunal criminal de Vaucluse, no sul de França.

Espera-se um veredito pelas 09:30 horas locais (08:30 de Lisboa), mas esta data poderá ser adiada até sexta-feira de manhã, 20 de dezembro, em função “da duração das deliberações”, disse o presidente do tribunal, Roger Arata, antes de se retirar da sala de audiências. “Vamos, portanto, para a sala de deliberação e só sairemos de lá depois de tomarmos a nossa decisão”, afirmou o magistrado.

Dominique Pelicot, o principal acusado pelas violações, pediu à sua família que “aceite as suas desculpas” e elogiou a coragem da sua ex-mulher, Gisèle, durante todo o processo de múltiplas violações cometidas por si e por dezenas de outros homens que recrutou na Internet.

“Peço-lhe [a Gisèle], e ao resto da minha família,
que aceitem as minhas desculpas”

“Peço-lhe [a Gisèle], e ao resto da minha família, que aceitem as minhas desculpas”, afirmou Dominique Pelicot, de 72 anos, reconhecendo a sua culpa e a dos outros 50 arguidos durante a sua última comparência no tribunal que o julga desde 02 de setembro, em Avignon.

Entre 2011 e 2020, o principal acusado agrediu sexualmente Gisèle e recrutou dezenas de homens desconhecidos na Internet para a violarem, colocando-a repetidamente em estado de inconsciência com doses elevadas de ansiolíticos.

“Todos os que estão aqui, apesar da presunção de inocência, são culpados como eu”, disse Dominique, sentado no camarote envidraçado, onde comparece juntamente com os outros 17 arguidos detidos, reafirmando que disse “toda a verdade” desde o início.

O septuagenário, descrito por advogados da defesa como “o ogre de Mazan” que alegadamente enganou os seus clientes com um cenário de um casal promíscuo em que a mulher fingia estar a dormir, pediu também desculpa à companheira de Jean-Pierre Maréchal, o único arguido que agrediu a sua mulher e deixou que fosse violada por Dominique.

O principal arguido, que enfrenta a pena máxima de 20 anos de prisão pedida pelo Ministério Público em 25 de novembro por violação agravada, terminou a sua declaração agradecendo ao tribunal, a quem disse que “a privação de não ver os seus entes queridos é pior do que a privação da liberdade”.

“Posso dizer a toda a minha família que os amo. Têm o resto da minha vida nas vossas mãos”, concluiu, dirigindo-se aos cinco magistrados profissionais do tribunal.

Enquanto isso, grande parte dos acusados não quis testemunhar nesta segunda-feira, outros quiseram reiterar as suas desculpas à vítima e alguns insistiram em negar os factos, apesar dos milhares de fotografias e vídeos tirados por Dominique Pelicot durante os crimes, provas fundamentais que foram reveladas em 2020.

Em 25 de novembro, o Ministério Público pediu também entre 10 e 18 anos de prisão para 49 dos co-arguidos por violação agravada, e quatro anos de prisão para o último arguido acusado apenas de “tocar” em Gisèle Pelicot.

Ao longo do processo, Gisèle Pelicot afirmou-se como um ícone feminista mundial ao decidir tornar o julgamento público e assistir às sessões com o rosto descoberto “para que a vergonha mude de lado”.

 

LUSA