Será que existe assim tanta diferença entre uma peça de 10€ ou de 100€?

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Sabemos que é comum as grandes lojas de fast fashion imitarem padrões ou modelos de marcas mais caras, tornando-os mais acessíveis a outras carteiras. Exemplo disso é a Zara, que tende a copiar alguns conjuntos de marcas como a Gucci. Mas será que existe mesmo diferença entre dar 10€ por uma peça em vez de 100€?

Segundo dados de 2017, sete em cada dez ‘escravos’ são mulheres ou meninas. Sabemos que a exploração infantil continua a ser um tópico atual, sendo que várias marcas aproveitam-se desta realidade para conseguirem baixar os seus preços.

Portanto: se as coisas forem bem feitas e todos os implicados no processo de produção das peças de roupa forem bem pagos e foram cumpridas todas as condições, é impossível que uma peça saia tão barata assim.

“Custo do tecido, 13€. Trabalho (2 horas e meia) 37,50€. Preço da fotografia do produto, 8€”. Estes são apenas alguns dos números citados pela revista feminina S Moda, dadas pela marca francesa Maison Cléo, que ficou popular a nível mundial graças às suas camisas românticas, popularizadas por Emily Ratajkowski ou Leandra Medine.

A fundadora da marca, Marie Derrow, decidiu “levar a transparência ao limite”, desvendando o preço de todo o processo de produção e dos materiais que usa nas suas criações – feitas à mão pela sua mãe.

Esta iniciativa pretende mostrar que quando as coisas são benfeitas e todos os envolvidos no processo de produção recebem um salário digno, “é impossível que uma camisa custe 11€”, afirma ao meio de comunicação citado.

Decidi divulgar os custos de fabrico das minhas roupas porque quando eu era estagiária, trabalhei em algumas marcas que produzem em Paris mas que utilizam tecidos como o 100% poliester e que depois vendem as peças a preços que a meu ver não se justificam”, explica Marie Derrow à S Moda.

“A transparência por detrás do processo também ajuda a que aqueles que optam por vender produtos supostamente sustentáveis e ​​caros, como os propostos por essa e outras marcas, possam refletir sobre se o preço “alto” é realmente “justo”. Este movimento foi batizado de #truecostoffashion [o verdadeiro custo da moda] e está presente nas redes sociais”, explica a estilista.

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Sabemos que a grande maioria das pessoas acaba por não comprar em lojas de tecidos sustentáveis, por exemplo, usando a justificação de que o valor “é muito elevado”. E a verdade é que continuam a existir marcas de fast fashion que continuam a garantir que uma t-shirt fique por 3€ e umas sapatilhas a 20€.

“É verdade que, geralmente, estes são preços mais altos do que os preços a que nos acostumámos. Mas eles precisam de ser assim”, defende Lauren Bravo, escritora, ao jornal The Independent. “Embora a palavra ‘caro’ seja subjetiva, o preço de tecidos, fios, fabricação de padrões, máquinas e outras despesas não o é. O custo do trabalho humano também não deve ser negociável, mas muitas vezes são pessoas que se sacrificam pela margem de lucro. No mundo todo, menos de 2% dos trabalhadores do setor de vestuário ganham um salário mínimo. Quando compramos um vestido de cinco euros de uma marca de moda rápida, isso não é mágico, é barato porque alguém está a pagar o preço “, acrescenta.

Mas será que todas as marcas de luxo cumprem com o suposto?

Uma das grandes questões dos consumidores é mesmo tentar entender se as roupas são caras porque obedecem a várias normas de qualidade de produto e de trabalhadores ou se apenas é tudo lucro para os donos dessas mesmas marcas.

“Muitos consumidores perguntam-se se o alto preço de uma marca sustentável ou premium se deve à qualidade, ao respeito pelo meio ambiente e aos direitos dos trabalhadores ou se é realmente uma questão de posicionamento e marketing”, começa por afirmar a especialista.

Para encerrar a eterna suspeita, a empresa inglesa Sancho decidiu vender algumas de suas criações a três preços diferentes. Os consumidores escolhiam o preço que queriam pagar e recebiam exatamente a mesma peça. A diferença é que o menor valor cobre apenas o seu custo de produção, o segundo também inclui o marketing, e o maior valor agrega ainda uma quantia para contribuir com o desenvolvimento da empresa. Será que sabe qual o valor mais escolhido?

“Surpreendentemente, como já disseram da marca, citada pela S Moda, muitos clientes decidiram pagar o preço mais alto, porque as pessoas estão dispostas a pagar mais quando há transparência e, assim, decidem comprometer-se com a causa”, explica a autora citada.

E se é repreensível um vestido custar 500€, porque não poderá ser um que custa 8€? Claro que há marcas com mais ou menos margem para lucro, no entanto, a verdade é que para que as roupas fiquem demasiado baratas, existe sempre alguém que tem de ficar prejudicado.