Seria capaz de seguir um estranho nas suas férias?

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[Fotografia: DR]

Há muito que as fotografias turísticas tiradas na silenciosa e imponente Muralha da China parecem obrigar a longas esperas para que nenhum estranho entre no momento que queremos publicar nas redes sociais. Igualmente difícil deve ser fazer o mesmo nos canais de Veneza ou subir ao topo da Torre Eiffel.

Realidades com as quais as vielas do coração de Lisboa começam agora a sofrer com a massificação do turismo – e que até já levou o jornal britânico The Telegraph – a questionar isso mesmo no início desta semana e a sugerir outros destinos lusitanos como Coimbra, Alentejo, Comporta ou Olhão.

Mas, enquanto, os gostos não mudam, Debbie Kent, especialista em literatura de viagens, deixa, no periódico inglês The Guardian, um novo conselho para se conhecer os destinos que se propõe a visitar.

Se o orçamento for pequeno, pode por isto mesmo em prática, em dia de folga, na cidade onde vive e sempre esteve. Talvez encontre um novo olhar e novos destinos dentro do que pensava que conhecia tão bem.

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Assim sendo, esta sugestão de sair do hotel e de escolher um residente à sorte – diferente todos os dias -, seguindo-o, é uma possibilidade. Mas este jogo tem regras: não se deve ser persecutório, nem invasivo. E tem também um limite. A viagem termina quando um estranho entra em espaços privados.

Debbie Kent decidiu pôr este plano em marcha depois de o ter ouvido da boca do artista sérvio Miloš Tomić e começou, desta forma, por conhecer os arredores de Belgrado, tendo na mira um residente que usava umas calças cor-de-rosa. Debbie crê que nunca pisou as marcas e espera que o residente que decidiu seguir nunca se tenha sentido perseguido. E agradece-lhe a tour turística.

Num texto em que apresenta este inusitado olhar por uma nova cidade – que pode ou não passar pelas fachadas das atrações turísticas recomendadas ou pelos locais de postal obrigatório -, Kent lembra que a iniciativa pode não ser tão pioneira assim. Muito menos desconhecida.

O artista belga, radicado no México, Francis Alÿs, parece ter vindo a usar esta técnica na sua arte – em Doppelgänger -, embora aplicando a variante segundo a qual “cada vez que ele vai a uma nova cidade, escolhe alguém tendo por base a sensação de que será uma pessoa parecida consigo próprio”, escreve Debbie.

A artista, escritora e fotógrafa francesa Sophie Calle, refere Kent, também terá posto em marcha semelhante opção, nos anos 80 do século passado, mas com um cunho muito pessoal. Depois de ter seguido e fotografado estranhos nas ruas de Paris, durante meses, acabou por estabelecer contacto com um deles. Este disse-lhe que ia de viagem a Veneza e ela decidiu segui-lo. Um trabalho que acabaria por culminar no seu primeiro livro de arte, o Suite Vénitienne [disponível na Amazon] e que contaria com imagens dos locais labirínticos por onde o seu estranho a levou.

Com o fim de semana à porta, e mesmo sem orçamento para escapadinhas, porque não ensaiar a técnica para viagens futuras? Mas, por favor, sem pisar o risco!

Imagem de destaque: DR

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