Greve feminista: sem nós Espanha pára

Foi no setor dos transportes que se começou a sentir a greve das mulheres marcada para esta quinta-feira, Dia Internacional da Mulher, em toda a Espanha. Seguiram-se a saúde, a educação e até a comunicação social.

Sem nós, o mundo para” é o mote desta greve das mulheres que está mesmo a parar a vizinha Espanha.

Às 7h00 (8h00 em Portugal) já as primeiras manifestações aumentavam o trânsito, dificultando os principais acessos em várias cidades. Em Barcelona, por exemplo, a Avenida Meridiana, na Gran Via e Diagonal e noutras faixas de circulação, estiveram cortadas.

A rede ferroviária RENFE cancelou 105 comboios de longa distância e 199 de médio e longo percurso previstos para hoje

A rede ferroviária RENFE cancelou 105 comboios de longa distância e 199 de médio e longo percurso previstos para hoje, mantendo uma taxa de cobertura nos trajetos mais curtos de 50%, subindo para os 75% em horas de ponta. Na Catalunha, algumas estações da Generalitat optaram por encerrar para evitar grandes aglomerados.

Ao fim da manhã Pilar Castiñeira, secretária da CGT, destacou o impacto no setor ferroviário e nas empresas de telemarketing, onde se registou uma adesão de 50%. No serviço da Catalunha, a RENFE sentiu um decréscimo no número de passageiros – menos 25% do que o habitual em dias de semana.

Também o comércio foi afetado pela paralisação. Segundo os sindicatos, mais de 50% dos trabalhadores de lojas como a Massimo Dutti, Bershka e Zara, apoiaram as marchas parciais, estando ausentes dos locais de trabalho.

Na educação, os serviços mínimos fixados pelo Ministério do Emprego obrigaram a que estivessem presentes na instituição, pelo menos: um membro da direção e um do pessoal para assegurar o serviço de cantina. No ensino infantil e primário (com alunos entre os 3 e os 12 anos) foi imperativa a presença de um professor por cada seis aulas, no ensino especial o rácio aumento: um professor por cada quatro aulas.

Estima-se que 90% dos estudantes do ensino médio e secundário tenha apoiado a paralisação feminista e que a participação das universidades tenha sido superior a 65%.

Num primeiro balanço, dá-se conta de escolas em Madrid quase vazias. A confederação sindical CCOO estima que 90% dos estudantes do ensino médio e secundário tenha apoiado a paralisação feminista e que a participação das universidades tenha sido superior a 65% durante o dia.

A greve também teve impacto na saúde. Embora ainda não se tenham avançado números, em Valência, estiveram asseguradas apenas 25% das consultas externas prioritárias e os centros de saúde estão a funcionar seguindo os parâmetros do fim de semana e não de um dia de trabalho.

Na comunicação social, na televisão privada Antena 3 emitiu um Espaço Público especial com entrevistas a mulheres, onde a apresentadora não apareceu diante das câmaras em direto. Tudo foi gravado previamente, deixando uma mensagem de apoio a celebrar a greve feminista.

Também na Telecinco, Ana Rosa Quintana decidiu que, em apoio à paralisação, não haveria emissão do programa AR. Nesse horário, os espetadores encontraram uma emissão especial.

Para as mulheres domésticas, o apelo é que se recusem a fazer as tarefas do lar mantém-se. Nas redes sociais estão a sugerir que coloquem os aventais ou batas nas varandas como sinal de greve.

Elas pararam. E o mundo, parou?

Ainda sem números fechados, os sindicatos consideram já a greve nacional das mulheres um grande sucesso e histórico. CCOO e UGT estimam que tenham aderido à paralisação cerca de 5,3 milhões de trabalhadores. Muitos deles marcando presença nas marchas convocadas entre as 11h30 e as 13h30.

A associação de autónomos ATA contrapõe destacando a escassa adesão à paralisação por parte de entidades autónomas, referindo a normalidade por parte do comércio, atividades e serviços profissionais. De acordo com a secretária-geral da ATA, Soraya Mayo, o monitoramento foi nulo nos setores da indústria do comércio, hospitalidade e agricultura, onde trabalha grande parte das entidades autónomas.

Até ao momento, a greve feminista ainda não registou incidentes.

De acordo com o jornal La Vanguardia, apenas foi relatado um episódio que causou alguns danos em Madrid: quatro contentores foram queimados junto à Universidade Complutense e três pessoas foram identificadas a fazer graffiti. Em San Sebastião, País Basco, algumas mulheres despiram-se da cintura para cima, diante da Catedral do Bom Pastor de São Sebastião em resposta às declarações do Bispo José Ignacio Munilla – na passada segunda-feira, 5 de março, o Bispo de San Sebastião declarou no programa Sexto Continente, na Radio María, que as feministas tinham o demónio dentro do corpo.

Irene Montero, porta-voz da Podemos, considerou a greve um êxito e que objetivo das mulheres foi cumprido: sem elas, o mundo para. Declarando o dia 8 de março como um momento em que as ruas ficaram “cheias de dignidade feminista”, referiu ainda: “As mulheres deste país têm toda a razão. Há que estar nas ruas e enchê-las de panelas e cartazes, manifestações e paralisações”, segundo RTVE.

Segundo La Vanguardia, o presidente do PP, Mariano Rajoy, juntou-se à luta feminista afirmando ter o “compromisso de continuar a trabalhar em defesa da igualdade real”.

[Imagem de destaque: Shutterstock]

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