Sexismo de Trump foi o principal mobilizador do voto feminino

Donald Trump
Donald Trump, pré-candidato republicano às eleições presidenciais dos Estados Unidos (foto: Lucas Jackson / Reuters)

A eleição inédita de uma mulher para a Presidência dos Estados Unidos era um forte argumento para mobilizar o eleitorado feminino, mas para a investigadora Raquel Vaz-Pinto foi um homem, Donald Trump, que acordou, pelas piores razões, a força do voto feminino.

Quando a ex-secretária de Estado de Obama (Hillary Clinton) decidiu avançar para a candidatura presidencial o Partido Democrata “abraçou a ideia” porque tinha a hipótese de voltar a fazer história: depois de ter eleito o primeiro Presidente afro-americano, seria agora a vez de eleger uma mulher para a Casa Branca. Mas, a tarefa de fazer uma campanha no feminino e mobilizar o voto das mulheres revelou-se difícil para Hillary Clinton, uma candidata que não gerava entusiasmo e empatia junto das eleitoras americanas, recordou a professora de Relações Internacionais.

Com o evoluir da campanha, o rival republicano Donald Trump – com os seus comentários sexistas e misóginos e as denúncias de assédio sexual – colocou na agenda política o mundo feminino e tornou-se “na melhor coisa que aconteceu às mulheres americanas em décadas”, lê-se num artigo da revista Foreign Policy, publicado em meados de outubro.

De acordo com a publicação norte-americana, a misoginia do candidato republicano “galvanizou o movimento feminista com mais força e fúria do que qualquer outra questão política em gerações”.

Como refere Raquel Vaz-Pinto “aquilo que se pensava que poderia ser uma campanha no feminino, mas pela positiva, logo cedo se veio a verificar que não iria ser”. A investigadora salientou que, “pelas piores razões”, a campanha liderada por Trump e o padrão de comportamento do candidato republicano colocaram em foco a questão das mulheres e o seu impacto político.

“É uma análise que se deve fazer em relação a estas eleições. (…) É uma leitura importante porque estamos a falar mais ou menos de metade do eleitorado norte-americano”, realçou, em declarações à Lusa, a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL).

Nas últimas presidenciais de 2012, as mulheres representaram mais de metade (53%) dos eleitores que votaram, das quais 55% votou para a reeleição do Presidente democrata Barack Obama contra o candidato republicano Mitt Romney (44%).

“Não existia uma grande empatia em relação a Hillary Clinton, mas a partir do momento em que foi possível perceber o que estava do outro lado da barricada, as mulheres foram capazes de acordar, de mobilizar (…) e de dizer posso não estar muito entusiasmada com a candidata democrata, mas estou certamente chocada com a candidatura republicana”, prosseguiu a investigadora.

Raquel Vaz-Pinto antevê que em alguns casos, onde estarão incluídas tanto mulheres democratas como mulheres republicanas, “vai ser um voto útil, mas em versão feminina”.


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Peso decisivo nos swing states
O investigadora destacou a importância que o voto das mulheres poderá ter nos chamados ‘swing states’ (estados que não têm uma tendência de voto definida e que podem decidir uma eleição), que nestes últimos dias de campanha são alvo de múltiplas ações eleitorais.

“Sobretudo o voto de mulheres com instrução, que é muito importante em alguns dos ‘swing states’ que estão a agora a ser objeto de uma campanha muito forte, como é o caso da Pensilvânia. (…) O voto delas é absolutamente determinante e aquilo que se tem verificado é que há de facto uma passagem para o lado de Hillary Clinton”, indicou.

Na conquista deste eleitorado, a investigadora destacou o papel assumido por outra figura feminina, a primeira-dama Michelle Obama, que tem sido “um trunfo extraordinário” para a campanha de Hillary Clinton.

A professora de Relações Internacionais lembrou ainda que “talvez das expressões mais genuínas” em relação aos comentários sexistas e misóginos proferidos por Trump surgiram de homens republicanos.

“Foram vários republicanos que disseram que depois [dos comentários] não tinham como justificar às filhas o voto em Trump. No fundo esta expressão é profundamente genuína e já não é de um republicano, é de um pai”, concluiu.

Raquel Vaz-Pinto lançou recentemente o livro “Administração Hillary”, em parceria com o também investigador do IPRI-UNL Bernardo Pires de Lima. Editada pela Tinta-da-china, a obra apresenta o percurso e o perfil de uma figura que já assumiu diversas funções no panorama político dos Estados Unidos: advogada, primeira-dama, senadora, secretária de Estado e, agora, a primeira candidata mulher de um grande partido norte-americano a concorrer à Casa Branca.

As eleições presidenciais nos Estados Unidos estão marcadas para esta terça-feira, dia 08 de novembro.