Sexualidade: existe uma idade certa para se perder a virgindade?

Fazer sexo demasiado cedo parece ser um dos maiores arrependimentos dos jovens, segundo um novo estudo britânico que pretendeu avaliar o comportamento sexual dos adolescentes. Mas parece que em Portugal esta realidade está mais distante, até porque “antigamente havia mais este problema”, defende a professora Palmira Graça, 51 anos, professora de ciências naturais e Coordenadora do Gabinete de Apoio aos Alunos e Familiares (GAAF) da Escola Dr. João das Regras, Lourinhã.

À boleia deste novo estudo britânico, que afirma que mais de um terço das mulheres e um quarto dos homens, desde a adolescência até ao início dos 20 anos, admitiram não ter perdido a virgindade “na altura certa”, o Delas.pt falou também com a ginecologista Maria do Céu Santo para perceber a realidade dos adolescentes portugueses no que respeita ao início da sua vida sexual.

Existe ou não uma idade certa para perder a virgindade, eis a questão

“Não, de maneira nenhuma”, começa desde logo por responder a ginecologista e coordenadora do Núcleo de Medicina Sexual da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, que refere que a ‘idade certa’ depende de vários fatores, tais como “a maturidade do homem e da mulher, porque é para os dois”. “Depende da relação que se conseguiu construir com alguém, porque o ideal é ser de facto uma relação com afeto e com amor e não só porque sim”, explica.

A docente Palmira Graça partilha da mesma opinião, acrescentando ainda a ideia de que “tem a ver com as convivências, se há ou não maturidade, e depois todo o contexto social envolvente e o que as pessoas pretendem daqui para a frente”, afirma ao Delas.pt.

Ainda que o estudo, que respondeu a mais de três mil jovens num período de tempo, entre 2010 e 2012, tenha elaborado um teste que promete ajudar raparigas e rapazes dessa faixa etária a entender se estão ou não preparados para iniciar a sua atividade sexual, ambas as especialistas afirmam que não há nenhum truque ou indício que o faça perceber. Tudo depende de pessoa para pessoa, afirmam.

Pressão: quando dizer ‘não’ parece mal

Após a análise dos dados recolhidos, os investigadores britânicos do estudo mencionado concluíram que perto de 40% das adolescentes e 26% dos adolescentes afirmaram que a sua primeira vez não foi “no momento ideal”, sendo que a maioria confessou que deveria ter esperado mais tempo. Mais: quase uma em cada cinco mulheres e um em cada dez homens afirmou que o parceiro não estava igualmente disposto a ter relações sexuais, sugerindo que sentiram pressão para ter relações.

Na opinião da ginecologista Maria do Céu Santo, nos dias que correm, este não lhe parece ser um cenário tão comum como seria há uns anos: “acho que já houve uma pressão maior do que há atualmente. Hoje, com a comunicação e com tudo o que se tem falado sobre a sexualidade, já não há aquela vergonha de dizer que nunca se teve relações, de maneira nenhuma”, disse.

A professora Palmira Graça segue a mesma linha de pensamento de Maria do Céu Santo, afirmando que as jovens de hoje estão não só mais dispostas a recusar como também a falar disso mais abertamente, sem tabus: “Acho que as meninas começam a estar mais preparadas para dizer o “não”. Porque antes como não falavam com ninguém acabavam por pensar que era um problema só delas”, acrescentou.

Escola: o fator protetor que ajuda os adolescentes nas suas questões

Palmira Graça tem 51 anos e leciona a disciplina de Ciências Naturais, onde muitas vezes fala sobre educação sexual. É também coordenadora do Gabinete de Apoio aos Alunos e aos Familiares, onde chegam adolescentes com dúvidas sobre questões de sexualidade, e admite que a escola é “um grande fator protetor e ainda é uma instituição que protege sempre os que estão mais fragilizados ou os que estão menos elucidados”.

Foi em 1984, com a Lei n.º 3/84 – Direito à Educação Sexual e ao Planeamento Familiar, que a educação sexual passou a entrar nas escolas e a ser vista como um direito das crianças, jovens e famílias. Gradualmente a educação sexual foi ganhando importância nos currículos escolares, mas o caminho tem sido demorado e longo. Apesar disso, há diferenças: se há uns anos era impensável um professor falar sobre sexo com os seus alunos, atualmente e não raras as vezes, são mesmo os adolescentes a dar o primeiro passo e a tirar as suas dúvidas junto dos docentes, como nos conta a professora.

“O ideal, de facto, é quando a pessoa tem já alguma relação afetiva com o outro. Isto é muito melhor. Até porque o sonho de qualquer pessoa é fazer amor e não ter só relações [sexuais]”, diz Maria do Céu santo

Na Escola Dr. João das Regras, no âmbito da disciplina de Cidadania abordam-se os temas da sexualidade, o que “reforça os fatores protetores”, diz Palmira Graça. “Ou seja, se a pessoa não está preparada, ela consegue dizer que não está preparada. Isto são fatores protetores: é o dizer «não»”, afirmou, acrescentando que é importante que os jovens tenham noção de que “se tu não queres, não fazes. Não és obrigada. Isto não é uma compra onde estamos aqui a regatear o preço”, continuou a docente.

Arrependimento: o bicho papão que divide o sonho da realidade

No estudo britânico referido, a maioria dos intervenientes afirmou que se arrependeu da altura em que perdeu a virgindade, admitindo que deveria ter esperado mais tempo. Mas será que ainda existem muitos jovens a arrepender-se da sua primeira relação sexual? E, se sim, porquê? Maria do Céu Santo explica porque é que isso pode acontecer.

“Na maior parte das vezes, a primeira vez não corresponde àquele sonho que as pessoas projetaram. Porque quando dizem a uma adolescente que fazer amor é ótimo, é como ir até à lua e ver estrelinhas, de facto aí cria-se um sonho. Outras vezes a informação que dão é que pode sangrar ou que dói e muitas vezes as adolescentes criam algum receio. Algumas pessoas arrependem-se porque acham que não correspondeu, de maneira nenhuma, àquilo que elas tinham idealizado”, elucida a especialista.

Palmira Graça já passou por algumas situações mais complicadas na sua carreira, nomeadamente sobre adolescentes que se arrependem da sua primeira vez e acabaram mesmo por mudar de escola. A titulo de exemplo, recorda o caso de um ex-aluno que fez uma aposta para conseguir tirar a virgindade a uma rapariga – feito que conseguiu cumprir. Quando a jovem descobriu “ficou bastante mal”, conta a professora, e sentiu mesmo a necessidade de mudar de escola e residência.

Há ou não sinais que nos mostram se estamos prontos?

Ainda que a importância da informação sexual e da autodeterminação da vontade de cada jovem sobre o seu próprio corpo seja consensual entre os especialistas, não se pode dizer que existam sinais específicos que nos mostrem se estamos ou não preparados. Esta decisão depende única e exclusivamente da pessoa em questão. A única forma de perceber é quando “uma pessoa já criou uma relação afetiva intensa e que tem maturidade para tal. Mas não há um sinal”, confirma a ginecologista.

“O ideal, de facto, é quando a pessoa tem já alguma relação afetiva com o outro. Isto é muito melhor. Até porque o sonho de qualquer pessoa é fazer amor e não ter só relações [sexuais]”, sublinha.

Já a docente, habituada a falar com os seus alunos sobre a temática, afirma igualmente que não existem sinais concretos que nos digam “sim, estou pronto”. “Se a pessoa sente que é aquilo que ela quer fazer, à partida, está bem. Mas isto tem que ver com cada pessoa. Nós, exteriormente, podemos conversar e ver se tem maturidade para tal”, continuou.

Apesar de não existirem sinais concretos que provem se a pessoa está ou não preparada para começar a sua vida sexual, o estudo britânico desenvolveu um pequeno teste que promete ajudar os adolescentes a tomar essa decisão, pelo menos de forma um pouco mais informada. O objetivo é responder às questões apresentadas e, consoante as respostas, perceber até que ponto a pessoa está ou não preparada para perder a virgindade.

Na galeria de imagens acima pode ver os dois testes britânicos.

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