Sinais de anulação no amor quando as borboletas ainda voam na barriga

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[Fotografia: Freepik]

Estar perdidamente apaixonada, sentir borboletas na barriga, só percecionar o lado bom do outro, estes são alguns elementos que compõem uma fase inicial do romance e da paixão. Dure ou não no tempo o amor, também nestes momentos de arranque de uma relação podem começar a surgir sinais de que este enlace pode não estar a levar o rumo certo.

 

E as pistas até estão lá! “Muitas vezes, começa com pequenas concessões que, ao longo do tempo, criam um desequilíbrio entre o ‘nós’ e o ‘eu'”, como analisa Filipa Jardim da Silva. A psicóloga lembra que “a anulação numa relação nem sempre acontece de forma óbvia ou com sinais tóxicos evidentes”. Assim sendo, o silenciar de uma opinião porque não vem a calhar, o fazer uma escolha mais para agradar ao outro do que a pensar em si própria, o momento de decidir não fazer algo que lhe dá prazer só porque talvez ‘seja melhor assim’,… Sinais de progressivo apagamento na relação que não devem ter lugar e aos quais devem ser prestados toda a atenção, sobretudo quando as uniões ainda são apenas feitas de episódios bons e incríveis.

Seja apagamento ou “dependência emocional”, como prefere designar a psicóloga Teresa Feijão, esta especialista pede vigilância para um comportamento “gera uma dinâmica destrutiva em qualquer tipo de relação, afetando a saúde emocional”, podendo resultar em ”relações tóxicas, baixa autoestima e um medo profundo de solidão ou rejeição”.

Psicóloga Teresa Feijão [Fotografia: DR]

Para a a especialista trata-se de “um padrão persistente de necessidade emocional extrema e procura constante de aprovação e validação de uma pessoa específica, em que o bem-estar emocional depende excessivamente da outra pessoa (muito frequente em relacionamentos afetivos)”. Em declarações por escrito à Delas.pt, a especialista lembra que se está diante de relações que, em vez de serem “baseadas prioritariamente no equilíbrio e no respeito”, a “pessoa dependente emocionalmente tende a sacrificar as suas próprias necessidades e identidade de forma a satisfazer os desejos da outra ou de modo a evitar a perda dessa relação”.

A psicóloga Filipa Jardim da Silva distingue a ideia de “sintonia” na relação, alertando para o facto de, ao abrigo dessa alegada semelhança, haver sinais de uma “adaptação excessiva ao outro”, manifestando-se “quando uma pessoa começa a abdicar das suas preferências, rotinas, gostos e até valores para alinhar totalmente com o parceiro/a”. “A perda de identidade individual pode ser um sinal de anulação se isso se tornar um padrão”, alerta a especialista.

Psicóloga Filipa Jardim da Silva [Fotografia: Divulgação]

Um comportamento em que pode ficar marcado pelo “medo de discordar ou desagradar”, levando “à perda de autenticidade e a um lugar de submissão”, lembra Filipa Jardim da Silva.

Teresa Feijão convoca atenções para gestos que podem indiciar uma eventual anulação na relação, e que podem começar logo desde o início da mesma. Para a psicóloga, “o sacrifício das próprias necessidades para agradar o outro e procura constante de atenção e acomodação excessiva às necessidades do outro, a dificuldade em tomar decisões sem a aprovação da outra pessoa – tendência a depender excessivamente da orientação e opiniões do outro – e a tolerância a comportamentos abusivos ou desrespeitosos, com dificuldade em estabelecer e manter limites saudáveis no relacionamento” são apenas alguns dos ‘sintomas’. Mas há outros como a “ansiedade ou desespero perante a possibilidade de ficar sozinho/a e “o foco excessivo na relação e negligência de outras áreas da vida, como carreira, amizades ou hobbies”.

Filipa Jardim da Silva concorda: “É normal querer passar tempo com o parceiro/a, mas se isso implicar o abandono de hobbies, amigos ou tempo individual, pode ser um alerta. Relações saudáveis permitem crescimento mútuo, sem fusão total.” Aliás, a psicóloga alerta até para uma sensação individual que deve merecer toda a atenção. “Se a ideia de pedir tempo para si própria causa ansiedade ou culpa, pode ser um indício de que a relação está a ocupar um espaço desproporcional na identidade e rotina da pessoa”, acrescenta em resposta por escrito à Delas.pt.

Mas haverá forma de combater? Claro que sim: pedir ajuda especializada e “reconhecer e identificar o problema” o quanto antes. Teresa Feijão lembra que urge “aprender a lidar com as emoções”, “definir limites no relacionamento”, “passar tempo sozinho e aproveitar a própria companhia” e “colocar-se em primeiro lugar, trabalhando amor próprio, autoestima e autonomia”. A psicóloga reitera que “nenhuma pessoa é capaz de suprir vazios e carências por outra pessoa, sendo fundamental a autoconsciência de desequilíbrios, instabilidade e fragilidade emocional”