Sinta-se mais segura quando viaja em transportes públicos

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Teresa, com 36 anos, utilizadora assídua de transportes públicos nos seus tempos de estudante e, mais tarde, já no mercado de trabalho, recorda bem o desconforto que sentia sempre que se deslocava sozinha em hora de ponta. “Sobretudo no inverno, quando anoitecia muito cedo, tinha sempre receio. Houve mesmo situações mais complicadas, em que cheguei a ser apalpada nem sei bem por quem, porque não me conseguia sequer movimentar no meio da multidão. Havia também os olhares mais demorados, que me deixavam mais insegura. Enfim, era algo que tinha de suportar diariamente, já que deslocar-me de carro na época estava fora de questão”, conta Teresa.

E o caso desta utilizadora de transportes públicos não é único. Um estudo efetuado recentemente a nível mundial apurou que 80% das mulheres já foi vítima de assédio em transportes públicos, e/ou teme ser incomodada quando viaja sozinha. Por esta razão, a Transdev, uma das maiores operadoras de transportes públicos do mundo, apoia desde o passado dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, uma campanha de sensibilização com o objetivo de tornar os transportes públicos mais seguros para as mulheres.

O Delas.pt foi saber mais sobre esta iniciativa e apurou que esta é uma campanha internacional com a assinatura da UITP (Associação Internacional de Transportes Públicos) e do Grupo do Banco Mundial, à qual a Transdev se associou.
Bruna Ferreira Pelarigo, responsável de comunicação da empresa, frisa, antes de mais, que esta iniciativa não incide apenas sobre a questão do assédio sexual, mas também sobre todo e qualquer tipo de receio que as mulheres possam sentir na utilização dos transportes, seja ele relativo a violência, ameaças verbais ou até roubos.

80% das mulheres já foi vítima de assédio em transportes públicos, e/ou teme ser incomodada quando viaja sozinha

“Em janeiro deste ano, o Secretário-Geral da UITP, Mohamed Mezghani, assinou um Memorando de Entendimento com o Banco Mundial para colaborar na promoção da segurança das mulheres nos transportes públicos e para fomentar a consecução de objetivos comuns. Por conseguinte, a UITP e o Banco Mundial lançaram um vídeo que destaca algumas situações de assédio que as mulheres enfrentam nos transportes, assim como a necessidade básica de se sentirem seguras”, refere a responsável de comunicação. E assim nasceu esta campanha, cujo arranque aconteceu a 8 de março. A Transdev disponibilizou os seus canais de comunicação, internos e externos, para divulgação deste vídeo promovido pela UITP e pelo Banco Mundial, apoiando a causa da igualdade de género também no setor dos transportes públicos.

Bruna Ferreira Pelarigo [Fotografia: DR]

“O objetivo desta campanha é promover a segurança e a igualdade de acesso nos transportes públicos. Acreditamos que a mobilidade deve ser para todos, e por isso queremos assegurar que qualquer cidadão, independentemente do género, se sente seguro e confortável nos transportes públicos. Não nos podemos esquecer que, para muitas mulheres em todo o mundo, o transporte público é o único acesso à educação, emprego e cuidados de saúde. Portanto, a participação ativa na sociedade depende, em muitos casos, da utilização segura dos transportes públicos”, afirma Bruna Ferreira Pelarigo.

“Para muitas mulheres em todo o mundo, o transporte público é o único acesso à educação, emprego e cuidados de saúde”

Numa tentativa de incrementar a confiança e segurança das mulheres quando utilizam os transportes públicos, a Transdev sentiu que esta campanha era de uma enorme relevância e urgência. “A nível mundial, a questão da segurança das mulheres nos transportes públicos é ainda um dos desafios que o setor enfrenta. Portanto, é importante agir e mostrar apoio. Ao tomarmos conhecimento desta iniciativa, achámos que seriamos capazes de ampliar a discussão e levar os nossos parceiros, clientes e colaboradores a refletir sobre como as suas ações diárias podem criar um transporte público mais inclusivo e acolhedor para todos.”

A responsável de comunicação revela que esta campanha teve uma abrangência global, tendo sido verificada, sobretudo através dos meios digitais, uma adesão enorme na promoção dos valores da segurança e igualdade nos transportes, sem distinção de raça ou género. “Não registámos uma diferença na adesão entre os géneros. Homens e mulheres mostraram-se solidários para com esta causa”, relata Bruna Ferreira Pelarigo.

Transdev pede mais medidas de proteção para as mulheres

O sucesso desta campanha já se faz sentir, apesar de não haver ainda dados concretos, considera Bruna Ferreira Pelarigo. “O facto de termos conseguido dar visibilidade a este assunto, fazendo as comunidades refletir e estar mais atentas para a igualdade de género no acesso ao transporte público, leva-nos a acreditar que pode haver um impacto real e duradouro no desenvolvimento de uma mobilidade mais inclusiva. No entanto, e dado o pequeno período de tempo que passou desde que a campanha foi lançada, ainda não temos indicações estatísticas que nos permitam quantificar as alterações que verificamos.”

Além desta campanha, a Transdev acredita que a segurança das mulheres em transportes públicos pode ser promovida de outras formas. “Acreditamos que, além das campanhas de consciencialização para a igualdade e inclusão e das ações de promoção de comportamentos seguros, podem também ser feitas algumas alterações no meio físico, como por exemplo, mais iluminação nas ruas, mais visibilidade, policiamento e vigilância, no sentido de melhorar a segurança e a perceção de proteção das mulheres”, afirma Bruna Ferreira Pelarigo.

Carmen Saraiva

Imagem de destaque: Shutterstock

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