Sintomas da vacina da AstraZeneca a que deve estar atenta. Pede-se tranquilidade

Covid-19 vaccinations in Italy
[Fotografia: Andrea Merola/EPA]

Cinco dias depois de vários países europeus terem suspendido a administração da vacina AstraZeneca, Portugal avançou com medida semelhante alegando “precaução” e pedindo “tranquilidade” a quem já tomou. A decisão foi comunicada ao início da noite de segunda-feira, 15 de março.

Em causa está o facto de haver casos muito “graves”, mas muito “raros” de reações adversas, não estado ainda provado, segundo a diretora-Geral de Saúde, Graça Freitas, nexo de causalidade. Há, porém, casos de mortes que estão agora a ser investigados, bem como episódios de coágulos sanguíneos.

“Se foi vacinado, mantenha-se tranquilo. Estas reações são extremamente raras e no nosso país não foram reportados fenómenos semelhantes aos encontrados nos outros países”, afirmou Graça Freitas, numa conferência de imprensa conjunta com a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) e com a `task force´ do plano de vacinação.

Segundo a responsável da Direção-Geral da Saúde (DGS), “apesar de as reações adversas mencionadas serem extremamente graves, também são extremamente raras”, não estando identificado o nexo de casualidade entre esta vacina e as situações de coágulos sanguíneos registados em outros países. “Apesar de não estar identificado o nexo de causalidade entre a vacina e estas reações, pelo princípio da precaução foi decidido fazer uma pausa na vacinação com a vacina da AstraZeneca”, disse.

Dirigindo-se às pessoas que já receberam a vacina da AstraZeneca em Portugal, Graça Freitas apelou ainda para que se mantenham atentas a sintomas de mau estar durante alguns dias.

Veja abaixo os sintomas mais e menos prevalentes da vacina, e que constam da informação que a própria empresa disponibilizou, bem como o que sucedeu nos casos mais graves e que estão agora em análise.

Possíveis efeitos colaterais

Como todos os medicamentos, esta vacina pode causar efeitos colaterais, embora nem todas as pessoas os tenham. Em estudos clínicos com a vacina, a maioria dos efeitos colaterais foram de natureza leve a moderada e desapareceram em poucos dias, com alguns ainda presentes uma semana após a vacinação.

Se os efeitos colaterais, como dor ou febre, forem incómodos, podem ser tomados medicamentos contendo paracetamol.

Efeitos colaterais muito comuns (mais de 1 em 10 pessoas): sensibilidade, dor, calor, coceira ou hematomas onde a injeção é administrada, sensação de mal-estar, fadiga, arrepios e sensação de febre, dor de cabeça, enjoos e dores musculares e nas articulações.

Comuns (pode afetar até 1 em 10 pessoas): inchaço, vermelhidão ou caroço no local da injeção, febre, vómito ou diarreia, sintomas semelhantes aos da gripe como temperatura alta, dor de garganta, tosse e arrepios

Pouco frequentes (podem afetar até 1 em 100 pessoas): sentir-se zonzo, sem apetite. Dor abdominal, excesso de suor, comichão e erupções na pele.

Desconhecidos (e que não podem ser calculado a partir dos dados disponíveis): reação alérgica grave (anafilaxia). Nos ensaios clínicos, foram notificados casos muito raros de acontecimentos associados a inflamação do sistema nervoso, que podem causar dormência, sensação de formigueiro ou perda de sensibilidade. No entanto, não está confirmado se esses eventos foram devidos à vacina.

Atenção às hemorragias cutâneas

Na conferência de imprensa na noite de segunda-feira, 15 de março, Graça Freitas deixou algumas recomendações a quem já fez a primeira toma da vacina. “Sobretudo, se este mau estar for acompanhado de nódoas negras ou hemorragias cutâneas, não hesite e consulte um médico“, salientou Graça Freitas, ao assegurar que o Ministério da Saúde e o Infarmed “mantêm toda a confiança na vacinação contra a covid-19” e apelam a todos para que continuem a vacinar-se de acordo com o calendário previsto.

Segundo Graça Freitas, as vacinas desta farmacêutica que Portugal já recebeu estão “armazenadas em condições e não são desperdiçadas”, ficando a aguardar que a Agência Europeia do Medicamento (EMA) informe se pode ser administrada “com o perfil de segurança”, comparando os seus benefícios com os seus riscos.

“Por agora, e como medida de precaução, a vacina ficará guardada, bem acondicionada e, eventualmente, será libertada para administração se e quando a EMA e o nosso Infarmed o decidirem”, referiu.

Já foram administradas em Portugal cerca de 400 mil vacinas da AstraZeneca e vão ficar agora em armazém cerca de 200 mil doses.

A interrupção temporária da vacina da AstraZeneca é “para dar segurança às pessoas”, assegurou a diretora-geral da Saúde, ao apelar para que os portugueses “mantenham a confiança nas instituições”.

“Esta suspensão da vacina só está a ocorrer por um mecanismo de extrema segurança, por um mecanismo de precaução, porque foi possível detetar reações adversas através dos sistemas de farmacovigilância que estão montados em todos os países”, sublinhou.

Questionada sobre a administração da segunda dose da vacina a quem já recebeu a primeira nos últimos dias, Graça Freitas garantiu que não há “pessoas nestas condições neste momento” e adiantou que esta vacina “tem muitas semanas de intervalo” entre doses.

“Neste momento não estão pessoas em Portugal em condições de lhes ser administrada a segunda dose”, avançou.

O comité de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a segurança de vacinas reúne-se na terça-feira para discutir a vacina contra a covid-19 AstraZeneca/Oxford, anunciou o hoje o seu diretor-geral.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) também já anunciou que vai realizar uma reunião especial na quinta-feira para analisar esta situação, mas já adiantou que os benefícios da utilização da vacina superam os riscos.

As duas reuniões foram agendadas na sequência da decisão de vários países europeus de, por precaução, suspenderem a administração desta vacina, após relatos de aparecimento de coágulos sanguíneos em pessoas que já tinham sido vacinadas.

Além da AstraZeneca, Portugal está a administrar atualmente outras duas vacinas das farmacêuticas Moderna e Pfizer, devendo receber, no próximo mês, as primeiras doses da vacina de toma única da Janssen, do grupo Johnson & Johnson.

O ministério da Saúde anunciou que Portugal vai comprar mais de 22 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, no âmbito dos acordos entre seis farmacêuticas e a União Europeia, o que representa um investimento de cerca de 200 milhões de euros.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.654.089 mortos no mundo, resultantes de mais de 119,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 16.694 pessoas dos 814.513 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.