SMS inteligentes para convocar mulheres para rastreio do cancro do colo do útero, pede especialista

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[Fotografia: Pexels/Jé Shoots]

Face a um número baixo de convites às mulheres em idade rastreável, “podíamos ter SMS inteligentes às quais as utentes podem responder se vão ou não ao rastreio, e se não forem deveria existir a opção de comunicarem o porquê”, explicou a responsável do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas da Direção-Geral da Saúde (DGS). Uma ação que, refere Cristina Portugal, deve partir do Serviço Nacional de Saúde, sendo uma forma de retirar as mulheres que já foram rastreadas nos últimos anos através de outras vias.

Este tipo de comunicação não é feito dado que as convocatórias são enviadas por mensagens automáticas aos contactos que constam numa base de dados, mas a sugestão foi avançada à margem da sessão de comemorativa do Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, que se assinala neste sábado, 4 de fevereiro, promovida pela DGS.

Apesar de o rastreio ser disponibilizado em 98% do território nacional, há “uma deficiência no número de convites porque a atividade dos médicos de família às vezes não consegue mobilizar todas as mulheres que deveria”, resultando numa taxa de cobertura populacional na ordem dos 61% das mulheres elegíveis a serem convidadas a realizar o exame. “Estamos sempre a rastrear as mesmas mulheres”, alertou, uma vez que ficam de fora milhares que não frequentam os serviços de saúde ou as que são seguidas no setor privado.

Em 2022, ficaram por rastrear 215 780 mulheres que deveriam ter recebido esse convite. “Até 2025 nós vamos ter de fazer um esforço para que estas mulheres passem a ser rastreadas”, afirmou a médica oncológica na apresentação dos dados, acrescentando que é preciso rastrear mais 160 mil mulheres por ano para que Portugal cumpra o objetivo europeu de atingir uma taxa de cobertura populacional superior a 90% nos três programas de rastreio de base populacional.

A maioria dos convites destinou-se a mulheres na região Norte, seguindo-se o Centro, a região de Lisboa e Vale do Tejo, o Alentejo e o Algarve. “A região de Lisboa e Vale do Tejo deveria ter valores semelhantes ao do Norte dado que em termos de números populacionais são semelhantes, mas há uma falta de atividade de rastreio para cumprir”, apontou.

De acordo com os dados provisórios da DGS, em 2022 foram convocadas 342 223 mulheres, das quais 321 888 foram rastreadas, mais 78 340 do que no ano anterior.

Em termos de adesão, 94% das mulheres rastreáveis responderam à convocatória do SNS, mas muitas acabam por o não fazer, uma vez que realizam o chamado “rastreio oportunista”, isto é, realizam os exames quando captadas nas consultas de planeamento familiar ou no médico de família, exemplificou.

O rastreio ao cancro do colo do útero é assegurado pelos próprios médicos de família e destina-se a mulheres entre os 25 e os 60 anos de idade. De cinco em cinco anos, são convidadas a realizar o teste de citologia cervical (conhecido como papanicolau) nas unidades do SNS. Há 30 anos que este rastreio foi implementado em Portugal.

Cerca de 92% das mulheres já foram vacinadas contra a infeção por VIH e, nos últimos relatórios, tem-se verificado que a vacinação tem reduzido o número de incidência do cancro no colo do útero, explicou Cristina Portugal. Por isso, a idade em que se iniciam os rastreios deve avançar para os 30 anos, lembrou.