Só 1 empresa cotada em bolsa, em 47, é administrada por uma mulher

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Em Portugal, 13% dos cargos de direção das empresas cotadas são ocupados por mulheres, mas apenas 2% lidera os Conselhos de Administração de um total de 47 empresas consideradas, revela um estudo divulgado, pela Deloitte. Ora, contas feitas, tal representa apenas uma companhia.

“Apesar da representatividade das mulheres nos cargos de direção continuar a aumentar a nível mundial, o número de mulheres que presidem os Conselhos de Administração permanece baixo”, refere a quinta edição do estudo Women in the boardroom: a global perspective, elaborado pela consultora.

O estudo, que analisa os esforços realizados em mais de 60 países para promover a diversidade de género nos Conselhos de Administração, foi realizado em Portugal pela Deloitte entre 15 de dezembro do ano passado e março deste ano a 47 empresas cotadas.


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“A nível global, as mulheres ocupam 15% dos cargos de administração e apenas 4% presidem o Conselho de Administração“, acrescenta.

“Apesar de representarem mais de metade do total da população e de se graduarem em maior número do que os homens, ainda são poucas as que se ocupam de cargos de alta direção nas empresas nacionais“, refere João Costa da Silva, center for corporate governance lead partner, da Deloitte Portugal, citado em comunicado.

“No entanto, é importante realçar que Portugal está a progredir na promoção da igualdade de género nos quadros de direção das empresas”, continua. Recorde-se que a lei que estabelece a criação de quotas de género nas administrações de empresas do setor empresarial do Estado e nas empresas cotadas em bolsa entrou em vigor esta quarta-feira, 2 de agosto.

Noruega chegou primeiro e lidera

As novas regras dão às empresas cotadas em bolsa mais tempo para chegar à proporção de um terço de mulheres nos cargos de administração e fiscalização, já que deverá ser atingido 20% em janeiro de 2018 e 33,3% no início de 2020.


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Ainda quanto ao estudo da Deloitte, este conclui também que a Noruega, o primeiro país da Europa a introduzir quotas de género, tem a percentagem mais elevada de mulheres em cargos de direção (42%), sendo que 7% dos Conselhos de Administração são liderados pelo género feminino.

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No Reino Unido, e apesar de não haver quotas, um quinto dos cargos de direção são ocupados por mulheres, sendo que apenas 3% lideram as administrações.

Já na região das Américas, existe uma falta de diversidade de género, sendo que nos Estados Unidos da América 14% dos cargos de direção são ocupados por mulheres e nos Conselhos de Administração a percentagem é abaixo de 4%. Na América Latina e do sul, 7% dos cargos de direção são ocupados por mulheres e apenas 2% dos Conselhos de Administração são liderados pelo género feminino.


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O estudo abarcou cerca de sete mil empresas em 44 países, entre os quais Portugal, entre as regiões da Ásia, pacífico, Américas e EMEA – Europa, Médio Oriente e África, com informação obtida a partir de 15 de dezembro de 2016.

“Partindo destes dados, o estudo Women in the boardroom traça uma análise global, regional e por país, do progresso registado em torno da diversidade de género nos Conselhos de Administração.

A investigação analisa ainda a forma como as mulheres estão representadas nas seis principais indústrias – serviços financeiros, mercado de consumo, tecnologia, media e telecomunicações, produção, ciências da vida e cuidados de saúde, e energia e recursos”, refere o estudo.

Para complementar estes dados, a Deloitte Global reuniu informação sobre quotas de género e outras iniciativas que promovem uma maior diversidade nas administrações em 20 países adicionais, perfazendo um total de 64.

Número de mulheres aumenta em cargos não executivos

Por sua vez, dados da Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género (CIG) apontam, citando dados de 12 de abril da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), que 12% dos cargos de administração nas empresas cotadas são ocupados por mulheres, enquanto 88% pertencem a profissionais do género masculino.

No que respeita a cargos executivos nas administrações, apenas 7% é ocupado por mulheres, enquanto que no caso de membros não executivos a proporção do género feminino mais que duplica (16%).

Recorde-se o caso das nomeações para a administração da empresa pública Caixa Geral de Depósitos (que passa a estar abrangida pela nova lei), em que há apenas uma mulher executiva, Maria João Carioca, na equipa de sete pessoas liderada por Paulo Macedo.

O equilíbrio estava, então a tentar ser cumprido pela escolha de não-executivos. Neste capítulo, a CGD, presidida por Rui Vilar, preparava-se para nomear, em fevereiro, oito administradores não executivos. E, embora não estivessem totalmente fechados, duas mulheres tinham já recebido luz verde do Banco Central Europeu: Maria dos Anjos Capote, que deixava a CMVM, e Ana Maria Fernandes, que trabalhava na EDP Brasil. Esperava-se, ainda, pelo menos mais uma nomeação feminina. (Leia mais aqui)

No caso dos órgãos de fiscalização das empresas cotadas, 11% são mulheres. Relativamente às empresas do setor empresarial do Estado, a presença das mulheres nos órgãos de administração é de mais de um quarto (28%), segundo dados de maio da Direcção-Geral da Administração e do Emprego Público (DGAEP)/Direção Geral do Tesouro e Finanças (DGTF).
No setor empresarial local, a Direção Geral das Autarquias Locais (DGAL) aponta que as mulheres ocupam 20% dos cargos das administrações.

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