Nova série da RTP1 retrata mulheres de 40 e que vivem sozinhas

“Não, a Carla não é uma encalhada que sai com homens, é uma miúda gira que vai sair com muitos encalhados. Por que raio é que as mulheres são sempre as encalhadas? Também há homens… ” Esta resposta, esta indagação e este desabafo do autor e realizador Vicente Alves do Ó surge, à partida, em reação a ideias preconcebidas. “Fui isto que respondi outro dia quando me perguntaram se esta Carla, esta personagem, era uma encalhada”, justifica antes que se criem conceções sobre a série romântica e de humor que se prepara para estrear na RTP1, a 29 de julho.

Em Solteira e Boa Rapariga, Lúcia Moniz dá vida a uma mulher que herdou o apartamento da avó de Campo de Ourique, em Lisboa, tem 40 anos, um gato e muito pouca sorte no amor.

A partir desta segunda-feira, vai ser possível ver a tradutora Carla a entrar no mundo das redes sociais e a ter, diariamente, encontros com homens diferentes entre si, mas também a lidar com as suas circunstâncias, uma psiquiatra dura (Rita Loureiro) e uma mãe desinibida no amor (Helena Isabel).

Na galeria acima pode já ficar a conhecer alguns momentos dos episódios que se avizinham e as vicissitudes pelas quais a Carla vai passar.

De batom vermelho nos lábios – e nos dentes – caracóis, desajeitada a e sem esperança num futuro romântico, Carla vai empreender, com a ajuda de um sempiterno amigo, uma nova fase da sua vida.

Uma história que, na cabeça de Vicente Alves do Ó, surgiu com a pressão de um prazo para cumprir, mas após muitos anos a ver histórias de novelas e séries em que os homens é que estão no centro das conquistas e narrativas românticas e que decorre de “um crescimento pessoal rodeado de mulheres fortes”, refere ao Delas.pt. “Queria fazer uma série em que os homens não estivessem no centro da equação. É que, nas novelas, são elas que enlouquecem por causa dos homens, nas minhas histórias, elas fazem os homens enlouquecer por causa delas”, diz o autor e realizador.

E acrescenta: “Por exemplo, este reality show da SIC dos agricultores ou aquele da TVI, Quem Quer Casar com o Meu Filho, é o macho que ocupa o ponto central e as fêmeas é que andam ali a volta a disputar a atenção dele. Quis por a mulher no centro da equação porque, no fundo, são as mulheres que escolhem, é ao contrário”.

“A ficção portuguesa criou a ideia de que as vilãs femininas são capazes de que matar toda a gente por causa de um homem, é ao contrário. Por isso, é preciso ir ao outro lado”, acrescenta o realizador, que quis trazer uma mulher absolutamente normal para o epicentro desta comédia romântica que vai ter exibição diária, a partir das 21.00 horas.

“A ficção portuguesa criou a ideia de que as vilãs femininas são capazes de que matar toda a gente por causa de um homem, é ao contrário”

Mas porquê esta ideia de uma mulher de 40 anos, solteira, cheia de camisolas de lã, negligée e, como manda o estereótipo, com gatos? “Essa não é, de todo, a ideia das mulheres, podia perfeitamente ter no centro da história uma mulher bem-sucedida, que só vestia marcas internacionais, mas essas estão todas nas novelas. Queria trazer aquelas mulheres que não são a Cinderela, nem a bonita, nem a feia. Quis encontrar uma mulher ‘normal’, com quem toda a gente tivesse um ponto de encontro”, justifica Vicente Alves do Ó. “Esta mulher [Carla, Lúcia Moniz] é uma das que não estão na ficção e, normalmente, quando estão são gordas e feias, são o elemento cómico. Nunca fazem par romântico”, analisa.

“Na ficção, elas têm de ser sempre belas, altas, magras, giras e com cabelo esticado. Como se as de cabelo encaracolado, que parecem que estão assim porque não têm dinheiro para ir ao cabeleireiro, não pudessem ter par romântico. Porquê? Essas mulheres podem não querer ser a Kate Moss, eu também não sou o Albano Jerónimo. Mas também quero amar”, reage Vicente Alves do Ó.

“Essas mulheres podem não querer ser a Kate Moss, eu também não sou o Albano Jerónimo. Mas também quero amar”

Numa série em que o autor e realizador confessa que introduziu “alguns dates” seus, Alves do Ó revela que incluiu histórias “de amigos e amigas”, mas não todas, nem de todos : “Se a série entrasse no quarto, a coisa iria correr pior e não poderia ser para dar às nove da noite na RTP. Já sobre os encontros, toda a gente tem um date do inferno para contar. É isso que quero mostrar”.

Mulheres, vítimas e novelas. Nesta história, o final ainda não é feliz

Alves do Ó garante que os 26 episódios irão muito mais além do que apenas difíceis romances em sucessão diária. “Quero ser desconcertante para com o público, quero que as pessoas continuem a ver. Nesta série, queria que esta mulher aprendesse a gostar dela, a ter mais autoestima“.

“Toda a gente tem um date do inferno para contar. É isso que quero mostrar”

“Não posso dizer como acaba, mas posso revelar que ela aprende a dar valor a ela própria e a ter programas consigo própria e a lidar com a pressão social. Aprende a dizer ‘não’, sem ficar com problemas de consciência. Aprendi a dizer não aos 40. Ela também vai aprender isso”, revela o autor e realizador de Solteira e Boa rapariga

Imagem de destaque: Divulgação

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