“Sonhar é não ter o polícia para prender e o juiz para julgar”

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Sonhou que traiu o seu parceiro e não sabe o que isso quer dizer? Não desespere, isso não é obrigatoriamente mau. Leia-se: do sonho à realidade vai um grande passo. Para o psicólogo José Carlos Garrucho, sonhar é estar livre da consciência, ou seja, não ter o polícia para prender e o juiz para julgar.

Quando estamos solteiras, ter sonhos de cariz sexual é o melhor. A nossa mente acaba por “vaguear” por sítios onde nunca andou ou imaginar coisas que nunca fez e gostava de vir a fazer. Quando estamos comprometidas também sonhamos, é verdade, pior mesmo é quando o nosso parceiro não é a personagem principal da trama. Mas, tal como o psicólogo José Carlos Garucho descreve ao Delas.pt, na maioria das vezes os nossos sonhos são até com pessoas sem rosto, anónimas, incógnitas. A menos que já tenhamos tido situações reais com elas.

Segundo explica, quando nos comprometemos com algo (seja numa relação amorosa ou não), comprometemo-nos com dois estados de espírito: o emocional (“eu gosto deste contrato”) e o racional (“este contrato é lógico e faz sentido para mim”). Estes dois estados operam de forma individual. Podemos continuar a gostar de um compromisso mas ele já não fazer sentido para nós. Ou vice-versa.

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, já diziam os poetas”, recorda-nos o psicólogo. As circunstâncias da própria vida podem-nos fazer querer assumir um compromisso agora, mas que se pode vir a alterar consoante novos desafios e novas vontades.

Quando estamos num compromisso, fazemos avaliações tanto conscientes quanto inconscientes para vermos o que é melhor para nós. No que diz respeito aos sonhos, estes podem ter dois tipos de significado.

Abertura do sistema ou desafio?

Para José Carlos Garrucho, os sonhos são a nossa forma de “libertação”. Através de uma analogia engraçada, o psicólogo explica-nos que quando dormimos, todo o nosso corpo está acordado e só a consciência adormece.

“Quando adormecemos, adormecem também o polícia e o juiz. Ou seja, não temos nem o polícia para nos prender nem o juiz para nos julgar, por isso, damos asas à nossa imaginação. Nós permitimo-nos à libertação. Depois podemos, ou não, levar os nossos sonhos à prática”.

Por um lado, os sonhos simbolizam uma “abertura do sistema“, ou seja, o imaginar de mudanças que podem não acontecer porque também não existe uma “necessidade física” para tal. É como que uma fantasia que o próprio sonho resolve e satisfaz. Por outro lado, o sonho pode ser um desafio. “É como que se eu, no meu todo, estivesse a dizer a mim próprio algo. Estivesse a questionar alguma situação de uma forma que me foge ao controlo, que não é racional.”. É importante conseguir perceber em que fase se encontra o seu sonho.

No que diz respeito às relações e à possível “traição” quando se sonha com outro parceiro que não o nosso, José Garrucho volta a estabelecer uma analogia: “Ninguém pode ser fiel o tempo todo, isso é uma utopia. Quando o namorado ‘oferece a lua’ à namorada e a namorada aceita, toda a gente sabe que isto é apenas uma declaração de vontade. A namorada não pode pedir para registar a lua em seu nome, porque a lua não é de ninguém.” Estas situações encontram-se no domínio da fantasia.

Da mesma forma, certas situações do quotidiano não têm que configurar traição. Exemplos? “O rapaz olha para o rabiosque das raparigas pelas quais passa e as meninas deitam um olho para outros homens que vejam”.

Na verdade, o psicólogo defende que tem que ser o próprio casal a definir o que é ou não traição para si; qual é o limite que a relação tolera. Existem amores resistentes ao swing e ao poliamor, por exemplo. Cada casal delimita as suas próprias barreiras daquilo que é ou não traição.

Em suma, sabemos que os sonhos são uma espécie de libertação de energia, algo comprimido na liberdade da consciência que pode, ou não, passar para a prática.

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