Soraia Tavares, também conhecida por ‘Pequena Soraia’ nas redes sociais, tem apenas 25 anos mas já soma no seu curriculum os mais variados trabalhos. Telenovelas, concursos de talentos, teatros, dobragens e musicais são algumas das atividades em que a jovem já participou.

[Orlando/Global Imagens]
O Delas.pt entrevistou a atriz e cantora a propósito da sua participação no Teatro Musical ‘Chicago’, que está em cena em Portugal no Teatro da Trindade, Lisboa, e que tem assinatura de Diogo Infante.

Leia abaixo a entrevista completa à artista e descubra quais as suas principais dificuldades e desafios ao longo do seu percurso profissional e visualize ainda o vídeo acima.

A Soraia já esteve envolvida em vários projetos: teatro, dobragens, telenovelas, coro de igreja. Como foi o seu percurso até chegar aos dias de hoje?

Eu comecei a cantar na Igreja e depois soube da existência da Escola Profissional de Teatro de Cascais e fui fazer o curso. Naquela altura comecei também a fazer algum teatro amador e depois fiz também teatro musical. Acabei a escola e fui fazer dobragens. Felizmente faço muita coisa, e infelizmente também [risos]. Mas felizmente faço muita coisa e acho que foi isso que me levou a cada projeto. Faço dobragens, faço teatro musical, já fiz algumas novelas e penso que é um bocado por esse percurso de ter a música e o canto que me fez chegar até aqui.

Lembra-se do primeiro momento em que pensou: é isto que quero fazer o resto da minha vida?

Lembro-me de ter feito a audição para a Escola de Teatro e de ter pensado que, naquele momento, queria mesmo ser atriz. Até ali, até ao dia da audição, penso que não tinha bem a certeza, era mais algo de que eu gostava muito. Depois, gostei logo do ambiente da escola e de ver aquelas pessoas todas, mesmo as que acabaram por não entrar, havia ali uma energia com a qual eu me identifiquei logo. Acho que foi assim uma decisão de achar que gostava mesmo disto a sério. Sobre o querer fazer isto para o resto da vida, bem, eu tinha 16 anos, portanto naquela altura não pensava ‘no resto da vida’. Com o tempo e com o fazer cada vez mais coisas de que eu gosto é que eu fui sentindo que quero fazer mais disto e que vou viver disto, até para ser mais fácil de viver também [risos].

Se a Soraia tivesse de enumerar os três maiores desafios profissionais que já teve, quais seriam?

Posso falar do programa ‘A tua cara não me é estranha”, foi um grande desafio para mim. Já tinha muitos colegas que já tinham passado por lá e nós achamos sempre que é fácil, quando estamos em casa. Mas quando estamos lá é que começamos mesmo a perceber que aquilo é muito intenso e que se nós queremos mesmo fazer as coisas bem, acaba por ser algo muito trabalhoso. O segundo desafio, penso que a minha primeira novela. Porque nunca tinha tido contacto com câmaras e tinha a abstração de que há uma grande equipa do outro lado das câmaras. Não tinha consciência e penso que isso também era a situação que mais me bloqueava, era ter tanta gente em cenas que são intimistas. E, claro, o Chicago [musical], que foi mesmo o grande desafio até agora, por várias razões. Pela personagem, pela dança. Assim que fiquei [no elenco] fui logo ter aulas de dança, porque foi tudo muito rápido e nós tínhamos de apanhar tudo muito rápido. Existiram também outros projetos de teatro musical que foram muito exigentes. Sinto que tenho tido vários desafios, mas nomeio estes quatro como os principais [risos].

Alguma vez sentiu que, por ser mulher, algumas portas se poderiam fechar com mais facilidade?

Por ser mulher ainda não senti. Não sei se tem que ver com o facto de que como canto, talvez tenha conseguido abrir muitas mais portas, então quando não faço algo como atriz faço como cantora ou vice-versa, por isso ainda não senti isso. Primeiro, felizmente tenho estado sempre a trabalhar, portanto ainda não tive tempo para pensar que não consegui algo por algum motivo, porque por norma se não tenho uma acabo por ter outra. Não levo necessariamente para essa questão de ser mulher, mas tenho consciência de que sim, essas coisas existem. Por ser mulher, por ser africana.

Falando um pouco sobre a sua relação com a Disney, a Soraia já fez um concerto da Disney e mais recentemente a dobragem para o filme ‘Rei Leão’. Qual é a sua relação com este tema, aceitou logo estes desafios porque gosta da temática, considera que os convites venham também devido ao seu tipo de timbre?

Penso que tem muito a ver com o meu timbre também. Acho que tenho um timbre de princesinha, ainda que no Chicago [musical] me tenha sido pedido exatamente o aposto, o que é realmente um desafio. Também comecei a cantar desde muito cedo, portanto as minhas referências eram muitos coisas da Disney, coisas doces, e como foi das primeiras coisas que eu comecei a fazer, como esse concerto, que o fiz ainda muito no início, é normal. Eu começo a cantar profissionalmente exatamente nesse evento, portanto é normal que também acabem por me ligar um bocadinho a isso. Comecei também a fazer dobragens assim que sai da escola de teatro. E quando digo dobragens falo também em cantar para várias séries. O primeiro filme da Disney que fiz foi este do ‘Rei Leão’, mas já tinha feito genéricos e coisas do género. A voz vai-se também moldando consoante o tipo de coisas que vamos fazendo. E acho que sim, o meu timbre ajudou.

Depois de tudo isto, como é que a Soraia chega a esta peça, ao ‘Chicago’?

Esta peça, eu vi que ia haver as audições, fiz o meu vídeo e enviei-o, onde estava a cantar e a dançar. Vim fazer o meu primeiro casting, que foi o casting para o essemble, para o coro e bailarinos e foi um casting muito difícil [risos]. Porque eu não estava à espera que fosse tão focado na dança. Eu dei o meu melhor e o Diogo [Infante] chamou-me à parte e perguntou-me se eu queria vir fazer o casting para as protagonistas. Depois, vim fazer mais dois castings e aí sim, já cantei, e eles pediram-me para interpretar um texto e fiquei com a personagem. Agora contei isto muito rápido mas foi assim um bocado aquelas histórias de cinema, de filme. Que foi aquela coisa do “quero aquela ali atrás”, e isso foi incrível.

Voltando à questão dos desafios, mas agora sobre este musical em específico, quais seriam os principais que destacaria?

Vou sempre nomear a dança como a primeira, porque ainda ontem vi um bocadinho do vídeo do meu casting e vejo uma diferença gigante, uma evolução gigante no meu movimento. Principalmente porque depois também tive muitas aulas na Jazzy, onde durante três meses ia às aulas todos os dias, para tentar moldar um bocadinho o meu corpo ao que ia ser preciso nos ensaios. E ainda assim, depois destes ensaios todos, senti uma dificuldade muito grande de o corpo de adaptar a esta linguagem. Por vezes não tem que ver com os passos serem difíceis, tem mesmo a ver com o nosso corpo se moldar àquilo e ser bonito e visualmente ficar semelhante ou parecido aos bailarinos, que são os que estão atrás, portanto a responsabilidade ainda se torna maior. Depois, outro grande desafio foi mesmo fazer a Velma, porque a Velma é uma mulher de grande força, uma girl power gigante e acho que ainda não me tinha sido proposto fazer uma personagem deste género, portanto eu tive de ir buscar tudo o que tinha e o que não tinha para interpretá-la. Por fim, outro desafio foi o pouco tempo que nós tivemos. Mas felizmente a equipa é incrível e toda a gente é muito trabalhadora e dá-se bem, o que também ajuda muito na criação. E é por isso que eu acho que em seis semanas conseguimos fazer um espetáculo deste nível.

O que é que, para si, diferencia esta peça ‘Chicago’?

Primeiro, nós não temos muito a cultura do musical, do teatro musical, em Portugal, por isso é um motivo para as pessoas terem curiosidade e virem. Depois, acho mesmo que nós nos propusemos a fazer um texto que para além de difícil é bastante interessante, toda a temática do espetáculo e mesmo a dança e as músicas são tão conhecidas que acho que as pessoas poderiam também querer interessar-se em ouvi-las em português. Acho mesmo que a adaptação está muito boa. E porque, eu sou suspeita, mas penso que o espetáculo está muito bom [risos] e acho que as pessoas deveriam ver nem que seja para justificar o nosso trabalho para chegar a este nível. E os profissionais que nós temos são mesmo incríveis. Nos ensaios ficava sempre a babar-me e a pensar ‘Obrigada senhor por poder estar aqui no meio destas pessoas que eu tanto admiro’. Portanto, as pessoas deviam vir para ver os meus colegas, porque eles são mesmo incríveis.

O teatro visto pelas mulheres que o fazem