Espionagem no amor. “Assédio digital é uma ameaça que está a crescer”

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[Fotografia: DR]

O isolamento social devido ao Covid-19 fizeram todos ficar mais em casa. Uma realidade que trouxe novos desafios, sobretudo para as vítimas, mais retidas e obrigadas a conviver com os agressores. Tal como referia o responsável e psicólogo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), Daniel Cotrim, a “quarentena foi uma lua de mel para os agressores”.

Os números que registam isso mesmo chegam agora. No âmbito de uma parceria entre aquela entidade que apoia, entre outros casos, vítimas de violência doméstica, e a empresa de segurança Kaspersky. “Relativamente ao cenário do stalkerware (assédio digital e controlo) em Portugal, o número de utilizadores únicos afetados por em dispositivos móveis foram, em 2018, 96 vítimas. Em 2019, foram 187 casos e até setembro de 2020 foram registados 111”, explica Alfonso Suarez.

O porta-voz da empresa de segurança, explica que “de forma geral, o stalkerware é uma ameaça que está em crescimento”. Suarez vinca: “globalmente, em 2019, detetámos um aumento de 67% do número de utilizadores atacados em dispositivos móveis, com um total de 67.000 utilizadores atingidos. Em 2020 – supõe-se que devido à pandemia – o número de vítimas de stalkerware tem vindo a diminuir, já que normalmente estas aplicações de espionagem são utilizadas para vigiar os parceiros e, desde que estamos em confinamento, muitos dos casais passaram a estar mais tempo juntos em casa, inclusive para trabalhar. Posto isto, a necessidade de controlo diminuiu. Em janeiro deste ano a Kaspersky registou, a nível global, 10.620 utilizadores afetados, número que caiu para 5.031 em junho”, justifica.

Importante sublinhar que o stalkerware deve ser distinguido do controlo parental. No primeiro caso, “os programas são executados de forma oculta, em segundo plano, sem que as vítimas se apercebam ou consintam, sendo frequentemente utilizados em relações amorosas com o objetivo de espiar os parceiros”.

Como detetar se está a ser vigiada

Se o seu parceiro lhe consegue reproduzir frases de conversas que nunca lhe mostrou ou revela detalhes que não lhe contou, então é possível que esteja a ser espiada pelo seu companheiro.

Um dos primeiros sinais indicativos passa pelo consumo excessivo de dados feitos pelo seu telemóvel e que sabe que nuca poderia ter usado. Tal pode acontecer porque o assédio digital implica a permanente conexão com o aparelho e partilha de afirmação.

Este é apenas um dos sinais mais evidentes. Existirão outros, o que passa por verificar as aplicações no seu telemóvel ou mesmo preferências e acessos a que deu permissão.

O vídeo abaixo, em português do Brasil (existe também disponível em mais cinco línguas), deixa algumas pistas para detetar se está a ser vítima deste tipo de agressão.

Material que esta a ser divulgado pela Coligação Contra o Stalkerware, estrutura criada em novembro de 2019 e que conta com mais de duas dezenas de entidades que operam na área da violência doméstica. “Neste primeiros meses, os parceiros da Coligação concentraram-se em aumentar a sensibilização para esta questão entre as organizações de defesa, a imprensa e os reguladores através de apresentações públicas, eventos, publicações, investigação e recolha de dados sobre stalkerware entre as empresas de cibersegurança”, explica Alfonso Suarez.

Quanto à parceria com a APAV, o porta-voz da empresa explica que tem “por objetivo lhe prestar apoio em temas relacionados com a violação da privacidade digital e o stalkerware”. “Seja através da prevenção e sensibilização para o tema, da realização de estudos ou do aconselhamento técnico sobre como responder em situações de ameaça, a APAV e a Kaspersky juntaram-se para combater o assédio online das vítimas, a maioria mulheres. Em concreto, a APAV também presta apoio a vítimas de cyberstalking de forma gratuita e confidencial através da sua Linha Internet Segura: 800 219 090”, conclui.