Stana Katic: ” A Emily vai muito mais fora da cartilha do que a Kate de ‘Castle'”

Ficou conhecida como a detetive Kate Beckett da série ‘Castle’, mas a mais recente personagem a que Stana Katic dá vida numa série de televisão é bem diferente. Emily Byrne, a protagonista de ‘Absentia’, também tem um passado ligado às forças policiais americanas, mas a sua história é mais negra, quase ao jeito dos thrillers nórdicos. A atriz canadiana, de ascendência servo-croata, concorda quando traçamos a comparação com a mítica Lisbeth Salander, a heroína improvável dos livros de Stieg Larson. “Ela tem um pouco disso, sim.Está nesse limite”, diz em entrevista ao Delas.pt, durante a passagem por Lisboa para promover a segunda temporada de ‘Absentia’, que estreia no canal AXN dia 26 de março, às 22h30. Mas a inspiração para esta personagem, que é mais uma anti-heroína na construção de uma nova identidade e de uma “nova noção de normal”, vai mais atrás, colhendo referências em heroínas e heróis da II Guerra Mundial, de forma a construir personagens reais e credíveis, numa história que “é como se fosse um mito, como são as histórias das novelas gráficas, por causa das situações extremas em que as suas personagens são colocadas”, refere Stana.

Em Portugal, a atriz fez um esforço para dizer uma ou duas palavras em português. Aprender o mais possível sobre as línguas dos países, enquanto os visita ou passa por eles, é algo que tenta fazer sempre e interpretar personagens numa língua estrangeira é algo que não descarta, assim como a possibilidade de trabalhar ficção europeia e sul-americana. Para já é ‘Absentia’, série da qual também é produtora executiva, que concentra as suas atenções. Até porque, adianta, já está a trabalhar na terceira temporada.

Que desafios vai enfrentar a sua personagem nesta temporada?
Acho que um dos maiores desafios que a Emily enfrenta nesta segunda temporada de ‘Absentia’ é a questão da identidade e no caso dela é mesmo uma identidade estilhaçada. Trata-se de uma personagem cuja história pessoal está toda virada do avesso e cujas relações com as pessoas que lhe são mais próximas mudaram completamente. Por isso, acho que o que move esta personagem nesta segunda temporada é tentar encontrar uma nova noção de normal e tentar ela própria assegurar-se de que sabe quem é, realmente, para que possa continuar a sua vida, restabelecendo a sua relação com o filho e com as outras pessoas à sua volta.

Tal como a Kate Beckett, da série ‘Castle’, a Emily de ‘Absentia’ também é uma agente policial. Trouxe algumas coisas da sua antiga personagem para esta ou construiu-a de raiz?
Sim, a Emily era uma agente do FBI antes de ser capturada. Contudo, esta história não se foca inteiramente nisso. Esta personagem é muito diferente da Kate, de ‘Castle’, vai muito mais fora da cartilha, ou pelo menos, comporta-se assim. Sinto que apesar de ela ter sido uma agente do FBI, isso não é necessariamente definidor. Ela é mais uma renegada, uma rebelde.

Como as heroínas dos livros policiais nórdicos, uma espécie de Lisbeth Salander?
Ela tem um pouco disso, sim. Está nesse limite.

Pode dizer-se que este tipo de personagens são, de certa forma, uma inspiração para esta Emily?
A inspiração primordial para criar a Emily partiu do facto de pegarmos numa personagem que está a viver uma situação extrema – é um mundo que é tão distante da minha realidade… Vivemos uma existência relativamente segura, nos Estados Unidos, na Europa, etc, por isso, para nós, enquanto grupo de produtores era importante encontrar algo que fosse relacionável e fundamentado de forma a desenvolver esta personagem. Então uma das coisas que fizemos foi olhar para trás, para a História, de forma a encontrar episódios catastróficos, de certa maneira, que fossem familiares para nós, enquanto criadores de histórias. Entre aqueles em que nos concentrámos está a II Guerra Mundial. Estudámos muitas heroínas dessa guerra e também heróis. Foi a isso que nos agarrámos para que pudesse fazer sentido, porque, na realidade, para mim, a história de ‘Absentia’ é como se fosse um mito, como são as histórias das novelas gráficas, por causa das situações extremas em que as suas personagens são colocadas. Portanto, foi realmente importante para nós encontrar formas de sustentar as personagens, garantir que a forma como apresentamos as suas emoções, sentimentos e experiências pelas quais estão a passar são reais e credíveis.

 

 

Falando em livros, vi na sua página de Instagram, que gosta muito de ler. Os policiais estão entre os seus favoritos ou prefere outros?
Não sei, é uma mistura de tudo, um bocadinho de História, de Ciência, como os do Carl Sagan. O ‘Cosmos’ é incrível! Ultimamente, tenho estado a ler o ‘The Beekeeper’s Bible’, sobre as abelhas, que é maravilhoso. E depois há ótimas histórias de ficção. É uma mistura, não há um género específico de que goste mais.

Também li que fala diferentes línguas.
Mas não falo português [risos].

De onde vem esse interesse por outras línguas?
Para mim é importante relacionar-me com as pessoas na sua língua, tanto quanto possível, porque viajamos e estamos expostos a outras culturas e maneiras de viver, uma das maneiras de nos ligarmos às pessoas é através da sua língua. Portanto, para mim é natural e simpático quando viajo para algum lado tentar aprender o máximo que puder enquanto estiver nesse lugar.

Como atriz, suponho, que quantas mais línguas falar maior serão as possibilidades e as opções de trabalho. Vê isso como uma vantagem, para trabalhar com realizadores europeus ou de fora da indústria norte-americana, por exemplo?
Sim, sim. Adoraria trabalhar com realizadores estrangeiros – estrangeiros, no sentido de trabalharem fora dos Estados Unidos da América e da América do Norte. Acho que há histórias incríveis que estão a ser contadas na ficção europeia e na América do Sul, por exemplo. Portanto, ter a oportunidade de explorar e experienciar essas histórias seria fabuloso. Neste momento, na série ‘Absentia’ temos três realizadores que não são da América do Norte e é ótimo, porque eles têm formas diferentes de dirigirem as câmaras, de entrar na história. É interessante aprender isso com eles, perceber o ponto de vista deles.

E vê-se a representar uma personagem que fale uma língua completamente diferente?
Sim. Gostava muito, na realidade. Eu tive de falar com sotaque britânico recentemente num filme e estava com receio de sair desse sotaque entre as cenas, portanto mantinha o sotaque durante todo o dia e foi a primeira vez que senti o que passam os atores britânicos na série ‘Absentia’, porque todos têm que ter sotaque americano. E é difícil, é mesmo um desafio. E posso imaginar o que seria levar isso a um outro nível, que é o de falar outra língua por inteiro, acho que seria excitante e realmente interessante poder explorá-lo, fosse em espanhol ou em português, por exemplo, tal como fazem tantos atores desta parte do mundo quando vão para os Estados Unidos e têm de falar em inglês.

O filme de que fala é o ‘Liberté: A Call to Spy’?
Sim.

Representa o papel de Vera Atkins, num filme que é realizado, escrito e produzido por mulheres.
Sim!

O que nos pode dizer sobre ele e sobre a sua personagem?
É uma história baseada na II Guerra Mundial, uma história verídica de três mulheres que trabalham contra a invasão nazi da França. A minha personagem é a “rainha” das espias, a Vera Atkins, e o Ian Fleming, que escreveu as histórias do James Bond, referia-se a ela nos seus livros, dizendo que no mundo dos verdadeiros espiões, a Vera era a chefe.

“Acho que há histórias incríveis que estão a ser contadas na ficção europeia e na América do Sul, por exemplo. Portanto, ter a oportunidade de explorar e experienciar essas histórias seria fabuloso”

Voltando a ‘Absentia’, além de protagonista é uma das produtoras executivas da série. O quão importante é estar envolvida também nesta parte do processo?
A ‘Absentia’ tem, de certa forma, uma maneira pouco vulgar de fazer televisão. A maneira como os que a fazem contam a história funciona como se fosse um filme independente para televisão. Portanto, estamos todos a contar histórias como se estivéssemos a fazer um filme. Na primeira temporada, tivemos um realizador para 10 episódios e filmámos as cenas de acordo com os cenários, o que significava que podíamos estar a filmar, no mesmo dia, o episódio 10, o episódio 7 e o episódio 2, o que é uma maneira invulgar de filmar séries de televisão. Estamos a fazer algo que até certo ponto é um pouco experimental nisso. E é realmente maravilhoso fazer parte da equipa criativa e de ver os diálogos antes de estar no set de filmagens. Ser parte da produção executiva foi bom porque pudemos todos colaborar de uma forma que eu acho que é benéfica para o programa, em que o grande objetivo de todos foi contar uma história envolvente, um thriller emocionante. E quando se tem um grupo de pessoas que está empenhado nisso, é divertido. Ainda que discordemos, não faz mal, porque queremos todos atingir o mesmo objetivo, que é contá-la o melhor possível.

Até onde é que sabe antecipadamente o que acontece à sua personagem, uma vez que está envolvida nessa parte criativa da série?
Nesta temporada, fomos falando todos sobre o desenvolvimento da história e já estamos a trabalhar naquilo que vai ser a terceira temporada, os guionistas já estão a trabalhar na ideia que servirá de base às personagens. Em relação à segunda temporada, vi todos os 10 episódios, e como estamos a trabalhar já no que vai ser a terceira temporada já sei um pouco do que vem aí, sim.

Isso afeta o seu lado de atriz? O facto de saber tudo de antemão, limita uma certa espontaneidade na evolução da personagem?
Por um lado, toda a gente tem de saber o guião com antecedência, por seguirmos a lógica dos filmes independentes. Portanto, para nós, como atores, é bom saber como são os episódios todos, do 1 ao 10, para os podermos interligar. Há coisas que queremos manter “secretas”, digamos, para nós próprios, para que possamos ser surpreendidos pela ação. Mas eu gosto desta maneira de trabalhar, em que basicamente temos o filme todo e a história toda antecipadamente, como no cinema.

Para aqueles que não conhecem, não viram a série, é possível começarem por esta segunda temporada? A história sobrevive autonomamente?
Eu estou entusiasmada com esta segunda temporada porque ela eleva muito a fasquia. É um thriller psicológico e há sempre muito suspense. Eu acho que é importante ver a primeira temporada para se perceber muitas coisas da segunda, mas o que talvez seja verdadeiramente entusiasmante para o público é que, mesmo não tendo esse prólogo, vão ver que há uma consistência e um arco de ligação comum a todas as personagens e possivelmente isso fará com que vão à procura dos primeiros episódios, caso não o tenham feito.

E quem viu, pode esperar muitas surpresas nesta temporada?
Sim. Acho que há muita coisa que o público não está à espera e que vai acontecer nesta temporada. Há muito mais ação, cada personagem vai debater-se com a sua própria noção de moralidade, umas vezes fazendo ótimas opções, mas muitas outras não. E cada uma dessas escolhas tem impacto em todo o grupo. É claro que seguimos a história da protagonista, a Emily, mas há desenvolvimentos muito interessantes para as outras personagens também.

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