Suiça foi palco da mais recente greve feminista. Veja as imagens

É mais recente greve de mulheres a juntar-se a vários protestos do género que têm tomado conta das ruas em vários pontos do mundo. Cerca de quatro milhões de suíças fizeram o país parar, na passada sexta-feira, 14 de junho, contra a diferença salarial entre géneros, o assédio no trabalho e a violência de género. Não foi contudo caso inédito neste país europeu, já que precisamente 28 anos antes as mulheres também saíram à rua em greve.

Na paralisação de sexta-feira, as mulheres foram incentivadas a deixar os seus locais de trabalho precisamente às 15h24, hora estimada pela organização como o momento em que deveriam parar de trabalhar para ganhar proporcionalmente o mesmo do que os homens ganham, em média, numa hora.

A greve foi acompanhada de protestos nas ruas. Em Lausanne, centenas reuniram-se junto da catedral da cidade e marcharam até ao centro para queimarem paletes de madeira, gravatas e sutiãs – percorra a galeria de imagens acima e veja algumas das imagens que marcaram esta greve. Segundo a Associated Press, algumas mulheres chegaram a escalar a catedral para gritarem a hora, tradição que é normalmente executada por homens

Emma Fabre, funcionária do Centro Internacional de Conferências de Genebra disse à EFE que não ia trabalhar porque “ainda há muito a fazer” para que as mulheres gozem dos mesmos direitos que os homens, mesmo naquele que é considerado como um dos países mais ricos do mundo.

“Ainda há muita desigualdade de salários, muita condescendência e geralmente somos obrigadas a ter empregos a tempo parcial para cuidar das crianças”, acrescentou. Mesmo na sede europeia das Nações Unidas, em Genebra, a desigualdade também é percetível, segundo afirmou uma funcionária da ONU.

“É possível notar-se um maior número de mulheres nos cargos mais baixos, mas à medida que se sobe para os cargos na administração, a maioria dos ocupantes são homens”, acrescenta a funcionária que preferiu não se identificar, em declarações à EFE.

A greve visou também reclamar por mais respeito pelas mulheres, já que, segundo a Amnistia Internacional, a cada duas semanas uma mulher morre na Suíça devido a violência do parceiros ou ex-parceiro e uma em cada cinco suíças já admitiu ter sofrido comentários sexistas, assédio e outros tipos de violência sexista.

O protesto incluiu o boicote a lojas e a restaurantes, como forma de mostrar o seu impacto na economia nacional.

Embora seja considerada uma das nações mais democráticas no mundo, com referendos de três em três meses para se decidir vários assuntos a nível nacional e local, as mulheres suíças apenas conquistaram o direito de votar e de serem eleitas em 1971, num referendo em que oito dos 26 cantões que compõem o país votaram contra. Já a descriminalização do aborto demorou mais 31 anos.

Na Suíça, os homens ganham em média 12% a mais do que as mulheres e, em cargos com maior responsabilidade, esse percentual aumenta para 18,5%, segundo a Organização Mundial do Trabalho.

Também 60% do trabalho não remunerado, que inclui a limpeza e cuidado de crianças recai sobre as mulheres, num país onde o número de creches não é suficiente em comparação com a procura e onde as crianças até os oito anos de idade não vão à escola nas quartas-feiras.

Os eventos desta sexta-feira remeteram para os protestos de 14 de junho de 1991, que reuniram centenas de milhares de mulheres que deixaram os seus locais de trabalho para se manifestarem contra a discriminação, 20 anos depois de ganharem o direito ao voto e uma década após ter sido aprovada a lei de igualdade de género.

Greve na Suíça segue-se a vários protestos pelo mundo, nos últimos anos

Desde a primeira greve feminista, em Portugal, promovida pela Rede 8 de Março, no último Dia Internacional da Mulher, com um manifesto que disse basta às desigualdades salariais ou no trabalho doméstico, passando pelas greves feministas na vizinha Espanha, que começaram um ano e que fizeram parar o país, vários são os pontos do globo onde as mulheres têm feito ouvir a sua voz no que respeita à luta pela igualdade.

O dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, tende a ser marcado por várias greves e manifestações femininas em vários países. Na Argentina, por exemplo, em 2016, as mulheres pararam o país com uma greve geral de uma hora e manifestações em várias cidades, num país onde o feminicídio e a brutalidade dos crimes saltaram fronteiras e foram notícia um pouco por todo o globo.

A Islândia também não fica atrás e volta a mostrar que também lidera nesta frente. Depois da famosa greve de 1975, onde as mulheres saíram à rua e fecharam escolas e creches, também em 2016 o país parou e mostrou que ainda que o caminho para a igualdade seja longo, a luta é importante.

Mais recentemente, em 2018 também a Polónia juntou uma multidão de mulheres em greve e em protesto contra lei que visava restringir o aborto.

JC com Lusa

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