Supermercados sem rutura de stocks, mas vêm aí aumentos de preços para as famílias

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[Fotografia: Anna Shevts/Pexels]

O diretor-geral da APED, Gonçalo Lobo Xavier, assegurou esta terça-feira, 22 de março, que não vai haver rutura de produtos nos supermercados, sinalizando, contudo, que perante a atual conjuntura, o aumento de custos vai ter consequências no rendimento das famílias.

Intervindo na conferência anual da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC), Gonçalo Lobo Xavier começou por sublinhar que “não é preciso ir a correr para os supermercados” fazer compras porque “não vai haver rutura de produtos”.

O diretor-geral Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) referiu, por outro lado, que o aumento dos custos (potenciado pelo aumento do preço das matérias-primas, da fatura energética ou pela disrupção das cadeias de distribuição) vai ter implicação no preço pago pelos consumidores e consequentemente no rendimento das famílias.

“No preço dos bens alimentares o aumento médio (…) vai ser da ordem dos 30% e com isso não há eficiência, logística, esmagamento de margens que suporte”, referiu o diretor-geral da APED, acrescentando que “isso vai ter consequências no rendimento as famílias e isso vai ser um desafio enorme que vamos ter, seja no digital seja nas lojas [físicas]”.

Também João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) assinalou a situação de “tempestade perfeita” que se está a viver, apontando a subida da inflação — mais estrutural do que inicialmente se pensava –, a tendência de subida das taxas de juro e os problemas com as cadeias de abastecimento que vieram com a pandemia e que a guerra na Ucrânia veio acentuar, a par da escalada dos preços da energia e matérias-primas.

Perante este contexto, “a nossa expectativa não é muito otimista quanto ao consumo”, disse, acreditando que “vai haver uma retração ao consumo” e alertando ser “impossível” neste momento o tecido empresarial acompanhar o crescimento da inflação com crescimentos salariais.

João Vieira Lopes que, com Gonçalo Lobo Xavier e o secretário-geral da ACAP, Hélder Pedro, participava num painel subordinado ao tema “Evolução e impacto da pandemia decovid-19 no crédito no ponto de venda, perspetivas futuras, reflexo na intermediação de crédito” alertou ainda para a probabilidade de haver espaço “para alguma instabilidade social” à semelhança do que já se começou a verificar em Espanha.

Um risco intrínseco também sinalizado por Gonçalo Lobo Xavier devido à subida dos preços, mas com nada que “se pareça com falta de produtos”.

Perante o atual contexto, Hélder Pedro referiu a mudança que o setor automóvel tem vivido — com ausência de produto do lado da oferta — e o impacto e desafios que as metas para a descarbonização delineadas pela Comissão Europeia colocam.

A indústria, afirmou, adapta-se e é parte da solução, disse lamentando, porém, que ao contrário de outros países europeus, Portugal não tenha lançado novas medidas de estímulo à compra de veículos elétricos ou de abate aos veículos mais antigos.

A conferência anual da ASFAC, que está a decorrer em Lisboa, tem sobre tema geral “A nova normalidade e o crédito ao consumo”, sendo que uma das questões abordadas está relacionada com a nova diretiva do crédito ao consumo que uma vez aprovada terá de ser transposta pelos Estados-membros num prazo de 24 meses.

LUSA