Surma: “Lá fora a minha música tem tido uma adesão incrível”

Depois de uma tour europeia em que passou por países como a Holanda, Itália e Islândia e uma participação pelo Festival da Canção, onde conseguiu ser a preferida do júri, Surma estreou-se, esta sexta-feira, no NOS Primavera Sound, um dos seus festivais de música preferidos.

Numa conversa com o Delas.pt depois do concerto, a jovem leiriense de 24 anos falou-nos de como o público internacional ter recebido a sua música, da condecoração que recebeu por parte da Câmara Municipal de Leiria e do próximo álbum que está a preparar ainda para este ano (percorra a galeria de imagens no topo do texto para ver mais fotografias da cantora).

Como correu o concerto?

A frase que vou estar a dizer o resto do dia: acordem-me para o ano. Foi um sonho tornado realidade.

Foi a sua primeira vez no NOS Primavera Sound.

Enquanto artista sim, mas enquanto festivaleira já venho ao Primavera Sound desde a primeira edição. Só falhei o ano passado por razões pessoais, mas o Primavera e o Paredes de Coura são festivais que amo.

Recentemente fez também uma digressão europeia. Como tem sido a receção das pessoas lá fora à sua música?

Tenho tido muita sorte no meio artístico, no geral. Lá fora a minha música tem tido uma adesão incrível, aconteceu isso até em Liubliana [capital da Eslovénia], onde uma rapariga veio ter comigo a chorar para me dizer que gostava muito do meu trabalho. Perguntei-lhe se estava bem e ela só me dizia, enquanto chorava baba e ranho, que estava nervosa por estar a falar comigo. Isso é uma prova viva de que a palavra passa bastante bem, não só pela Europa mas pelo mundo inteiro. Na Islândia tive um rapaz de Nova Iorque que já me tinha visto a tocar na cidade dele. É inacreditável. Sinceramente acho que o mundo é uma teia de aranha, ligamo-nos todos uns aos outros.

Qual foi o país que mais a marcou?

Cada país em que estive deu-me experiências tão diferentes e tão especiais que não consigo escolher um em específico, mas se tiver de escolher escolho os EUA e a Islândia. Senti-me mesmo em casa.

Ainda é muito estranho para si que as pessoas a abordem por causa da sua música?

Sim, é estranho mas num bom sentido. Sinto-me feliz por a malta me reconhecer, é muito gratificante saber que as pessoas conhecem o meu trabalho, mas é algo muito novo para mim.

Foi recentemente condecorada pela Câmara Municipal de Leiria. O que significou para si esse reconhecimento por parte da sua cidade?

Recebi o email um dia antes de ter sido condecorada e nem queria acreditar que estava entre pessoas tão únicas de diferentes áreas, desde o desporto à cultura e política. Era a mais nova, foi uma honra muito grande e senti-me lisonjeada.

Sente que as pessoas lá têm orgulho no seu trabalho?

Sim, mas não só no meu, também em tudo o que está relacionado com cinema e artes plásticas. Temos crescido muito enquanto cidade e enquanto pessoas dentro de Leiria. Há um orgulho muito grande nas coisas que saem lá para fora.

Por que decidiu participar no Festival da Canção este ano?

Era para não ir e era para ser a Joana Guerra a interpretar a minha canção, mas ela não conseguia ir e tive de ser eu a agarrar essa responsabilidade. Aceitei como um desafio de mostrar o meu trabalho a outros públicos, principalmente ao público da Eurovisão, que não tem nada a ver com o meu. Disse logo que ia como Surma e que não ia fazer algo que estivesse mais relacionado com o meio eurovisivo. Eles disseram que era mesmo isso que queriam e foi também isso que me incentivou a ir. Querem mudar a ideia daquele mundo eurovisivo muito formatado e foi para mudar um bocadinho essa mentalidade que aceitei ir.

Ajudou a dar a conhecer o seu trabalho aos portugueses?

Foi o oposto. Recebi imensas mensagens do Chipre, Itália, Grécia e EUA, mas o apoio da malta de cá também foi incrível, nunca esperei. Estava com medo de arriscar com aquela música mas correu bastante bem.

Compôs uma música para o Snu. Foi feita de propósito para este filme português?

Fiz cinco ambiências, o resto são músicas do meu álbum Antwerpen. Foi uma experiência inacreditável. Recebi uma chamada da Patrícia Sequeira a marcar uma reunião. Estava a fazer um filme de época e sentia que faltava qualquer coisa de música moderna da Islândia. Como a Snu é norueguesa ela quis agarrar esses sons modernos para um filme de época e acabou por resultar brilhantemente. Quando vi o filme fiquei com uma lagrimita no canto do olho, foi uma experiência única.

Gostava de fazer mais coisas do género?

Sim, o meu grande objetivo é ligar o cinema com a música, ou seja, bandas sonoras. Adoro cinema, é a minha segunda paixão.

Como costuma encontrar inspiração?

Inspiro-me muito no silêncio, o que é um bocado estranho porque a malta tende a inspirar-se em músicas de outras bandas. Tento não ouvir música durante uma semana, detox completo, para criar uma raiva dentro de mim que me dá uma energia muito grande para fazer coisas novas e criar. Acontece-me muito também enquanto estou a dormir. Acordo de três em três horas com coisas na cabeça. É muito estranho, mas é esse o meu processo de composição. Acaba por fluir bastante bem.

Em 2017 lançou o seu último álbum. Para quando um novo trabalho?

Este ano, sem sombra de dúvida. Prometo que entre setembro e outubro vão sair coisas novas.

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