Surrealismo e feminismo de mãos dadas

A assinatura feminista de Maria Grazia Chiuri foi vincada desde a sua primeira coleção para a Christian Dior, em 2016. Esta segunda-feira, 22 de janeiro, em Paris, a designer italiana voltou a mostrar que a moda pode ser feminista das formas menos óbvias.

O cunho feminino da coleção de Alta Costura apresentada em Paris foi dado pela inspiração no trabalho de Leonor Fini, uma das artistas mais importantes do séc. XX. Esta mulher nasceu em 1907, mas foi nos anos 30 que se destacou no meio artístico pelos seus trabalhos surrealistas de expressão peculiar e muito focado nas mulheres. Fini foi uma das artistas que Christian Dior apoiou, quando trabalhava numa galeria de arte.

Esta artista italo-argentina foi o ponto de partida para uma coleção que, em muitos aspetos, reflete a estética do trabalho de Leonor Fini e a sua imagem pessoal. Dos quadros, Chiuri foi buscar os decotes geométricos e algumas silhuetas, das fotografias resgatou o preto e branco, os padrões geométricos e as peças de cabeça.

Os elementos surrealistas encontram-se nos vestidos com linhas comuns às ilusões de ótica, nos detalhes como as luvas que fazem de atilhos de sapatos, nas linhas que lembram as costuras estruturais dos corpetes, mas também remetem para as gaiolas que são um dos elementos muito representados na arte surrealista. Um apontamento que surgiu também nos acessórios, desta vez em forma de brincos e com a porta aberta, uma imagem que ilustra a liberdade, palavra que foi mencionada várias vezes nas frases que algumas modelos tinham tatuadas no decote. Além desta também o amor foi uma das frases mais escritas na pele das modelos.

O surrealismo não se viu apenas na roupa mas também no cenário, composto por grandes cortinas brancas que caíam, formando gigantes drapeados, pelo chão em xadrez e as grandes esculturas de gesso que desciam do teto com a forma de partes do corpo.

Os bordados e pedrarias apareceram como é habitual nas coleções de Alta Costura, mas foi o tecido pintado à mão o mais marcante. Houve ainda espaço para penas, plumas e flores recortadas em tecido. De notar é ainda que dos 72 coordenados apresentados, 11 inspiraram-se no smoking masculino, tendo sido um destes modelos que fechou o desfile.

 

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