‘Sushi woman’ alerta para perigo de comer peixe cru

O medo de comer sushi em Portugal instalou-se no início deste mês. Uma equipa de quatro médicos do Hospital Egas Moniz e do Hospital da Luz descreveu no British Medical Journal o caso de um português, de 32 anos, que deu entrada num hospital nacional com fortes dores de estômago, febre e vómitos. Sintomas que se arrastavam há já uma semana e que, mais tarde, a equipa médica atribuiu ao consumo de sushi.

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A larva, com o nome científico de anisakis simplex, acabou por ser removida e o paciente ficou bem, mas os médicos aproveitaram o caso e a investigação que fizeram para alertar os consumidores de sushi para os perigos que correm.

A União Europeia recomenda que o peixe cru seja congelado alguns dias antes de ser servido e a Food and Drug Administration, a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, aconselha, das duas uma, a que o peixe seja cozinhado a uma temperatura superior a 63ºC ou que seja congelado, durante sete dias, numa temperatura a rondar os -20ºC. Regras que nem todos os restaurantes cumprem.

“Produtos de origem animal, manipulados e servidos crus, trazem sempre riscos”

Anna Lins, chef do restaurante Miss Jappa, no Príncipe Real, em Lisboa, e a primeira mulher a ser certificada pela principal associação japonesa de sushi, não tem dúvidas: há razões para as pessoas terem medo de comer peixe cru.

“Produtos de origem animal, manipulados e servidos crus, trazem sempre riscos, desde um ovo estrelado mal passado a um tártaro de novilho, passando pelo peixe, que mesmo num ceviche acarreta riscos microbiológicos. Existe legislação alimentar para prevenir e formação especializada para evitar tais riscos. A ideia de que qualquer pessoa sem formação pode cozinhar profissionalmente para os outros é um erro absoluto”, explica Anna Lins ao Delas.pt.

O anisakis simplex é bastante frequente nos peixes azuis – carapau, cavala e sardinha, por exemplo – e nos peixes brancos – como o peixe galo ou o peixe espada. E, segundo a chef, é muito fácil de identificar (na galeria de imagens acima pode ver dicas de Anna Lins para escolher um bom restaurante de sushi e para aprender a detetar se o peixe está em boas condições).

“O parasita vive nas vísceras do peixe, portanto trabalhando com peixe inteiro é muito fácil identificar a presença deles”, afirmou a chef do restaurante Miss Jappa.

Sintomas a ter em atenção

Se depois de comer sushi sentir sintomas como fortes dores de barriga, náuseas, vómitos e obstrução do intestino, não os desvalorize. Convém ir imediatamente ao médico. Remover a larva, que pode chegar a ter dois centímetros, é a única forma de tratamento desta infeção. Nos casos mais extremos, em que se regista perfuração e peritonite ou anafilaxia, esta reação alérgica grave pode levar à morte.

A primeira vez que se verificou uma infeção deste género foi na Holanda, na década de 60. O doente tinha consumido arenque salgado e o anisakis foi batizado de “doença do verme do arenque“. Algum tempo depois percebeu-se que o parasita não existia apenas naquele tipo de peixe. Atualmente o maior número de casos acontece no Japão, mas tem aumentado também no Ocidente, onde o sushi está na moda.

“Nos países europeus é provavelmente mais frequente do que pensávamos. Um estudo mostrou que o anisakis simplex (a espécie mais comummente associada a infeções humanas) foi encontrado em 39,4% da cavala fresca examinada em diferentes mercados de peixes em Granada, Espanha”, sublinhou Joana Carmo, médica que pertence ao grupo de portugueses que investigou o caso descrito no British Medical Journal, à CNN.

O wasabi, o tempero em pasta verde utilizado na culinária japonesa, é uma boa forma de afastar possíveis parasitas. No entanto, Anna Lins reforça que “os restaurantes portugueses usam um produto feito de rábano, mostarda e corante verde”, e não wasabi original.